Opinião
- 11 de agosto de 2009
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Torturado por um mantra
Rodrigo de Lima Ferreira
Certa vez eu fui resolver certos assuntos pessoais em Cuiabá, a bela e quente capital matogrossense. No dia em que ia voltar para casa resolvi passear um pouco. E o que é que a gente faz com tempo livre? Passeia no shopping. E lá fui eu, rumo a um bonito shopping, ao lado de um templo evangélico gigantesco.
Ao chegar visitei algumas lojas, mas logo rumei a uma de departamentos, daquelas onde vendem de tudo: de meias para bebês a impressoras a laser. Como gosto de filmes de ação, lá fui eu para a seção de DVDs, para ver se compraria um do James Bond.
Na loja estava tocando um CD “ultramantreiro”, daqueles que fazem a festa gospel bombar. Comecei a reparar na letra, e de repente o cantor solta: “Eu quero fazer uma aliança com o Senhor inquebrável, / Inabalável / Eu quero fazer uma aliança com o Senhor / Meu Deus / De ser fiel até o fim”. Será que Deus faz aliança assim, desse jeito, conosco? Afinal, ainda que eu seja cristão, não deixei de ser pecador falho e imperfeito. Como Deus pode confiar em uma aliança assim, “inquebrável”, com alguém como eu? Se nem o apóstolo Pedro foi fiel até o fim, traindo Jesus no meio da sua jornada, imagine eu!
Bom, depois dessa, ouvi o seguinte: “A minha fidelidade, a minha obediência / Sempre vai tocar o coração de Deus / A minha santidade, me leva em tua presença / Eu amo tua casa, eu sou filho teu”. Fora o erro de concordância, que dói no fundo do ouvido, eu nunca tinha ouvido algo tão medonho assim. Quer dizer que são meus esforços próprios que chamam a atenção de Deus? O que dizer de Isaías 64.6, em que o profeta afirma que minha própria justiça não passa de lixo para Deus? Não foi ele quem tomou a iniciativa de vir em minha direção, revelando-se em amor em misericórdia? Quer dizer que precisei fazer uma pequena chantagem, um “charminho” pra cima de Deus? Quer dizer que a santidade, a fidelidade e a obediência são frutos de meu próprio labor? Puxa vida, é só eu, eu, meu, meu... Deus está se tornando acessório. Mas vamos em frente, que ainda não apresentei a última, que quase me matou.
A letra dizia assim: “A tua unção está em mim / Se eu for até o fim / Eu não vou medir esforços / Para receber o que tu tens pra mim / Eu tomo posse da minha herança / Sou herdeiro da promessa de Deus / Eu tenho fé e confiança / Que eu já recebi tudo aquilo que é meu”. Na hora me lembrei das palavras de Paulo a Timóteo, onde ele aconselhava o jovem pastor: “E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12). Paulo não fala em unção sobre Timóteo, nem fala em perseverar para conquistar aquilo que Deus tem para ele (a perseverança se dá em outro nível, não nesse materialismo barato), mas sim fala a respeito de restrição, renúncia e sofrimento por amor a Cristo.
Só sei que depois de ouvir tanto mantra, saí da loja sem comprar o DVD do James Bond. Perdeu a graça. Na saída da loja, recoloquei meu CD player portátil para tocar e começou uma bonita canção de Carly Simon que dizia: “You’re so vain / You probably think this song is about you” (“Você é tão fútil / Você provavelmente pensa que essa canção é a seu respeito”). Dizem as más línguas que ela escreveu essa música pensando em Warren Beatty, um antigo namoro. Mas, adaptando para o nosso tempo, penso que os mantreiros cantam (inconscientemente) isso é para Deus. Nas canções de muitos, o Pai se tornou fútil e sem sentido. Pensam que cantam a respeito dele, contudo criam um falso ídolo, um bezerro, não de ouro, mas de plástico (dos CDs e dos cartões de crédito) e de papel-moeda.
Consegui escapar da sessão de tortura. Porém ainda sinto dores, especialmente quando penso em milhares de pessoas que aceitam, de bom grado, trocar o Deus verdadeiro por esse baal pós-moderno, se iludindo e enganando a outros. O anestésico para essas dores é o estudo da Palavra. Mas será que a igreja evangélica brasileira ainda se interessa por essa cura?
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com
Certa vez eu fui resolver certos assuntos pessoais em Cuiabá, a bela e quente capital matogrossense. No dia em que ia voltar para casa resolvi passear um pouco. E o que é que a gente faz com tempo livre? Passeia no shopping. E lá fui eu, rumo a um bonito shopping, ao lado de um templo evangélico gigantesco.
Ao chegar visitei algumas lojas, mas logo rumei a uma de departamentos, daquelas onde vendem de tudo: de meias para bebês a impressoras a laser. Como gosto de filmes de ação, lá fui eu para a seção de DVDs, para ver se compraria um do James Bond.
Na loja estava tocando um CD “ultramantreiro”, daqueles que fazem a festa gospel bombar. Comecei a reparar na letra, e de repente o cantor solta: “Eu quero fazer uma aliança com o Senhor inquebrável, / Inabalável / Eu quero fazer uma aliança com o Senhor / Meu Deus / De ser fiel até o fim”. Será que Deus faz aliança assim, desse jeito, conosco? Afinal, ainda que eu seja cristão, não deixei de ser pecador falho e imperfeito. Como Deus pode confiar em uma aliança assim, “inquebrável”, com alguém como eu? Se nem o apóstolo Pedro foi fiel até o fim, traindo Jesus no meio da sua jornada, imagine eu!
Bom, depois dessa, ouvi o seguinte: “A minha fidelidade, a minha obediência / Sempre vai tocar o coração de Deus / A minha santidade, me leva em tua presença / Eu amo tua casa, eu sou filho teu”. Fora o erro de concordância, que dói no fundo do ouvido, eu nunca tinha ouvido algo tão medonho assim. Quer dizer que são meus esforços próprios que chamam a atenção de Deus? O que dizer de Isaías 64.6, em que o profeta afirma que minha própria justiça não passa de lixo para Deus? Não foi ele quem tomou a iniciativa de vir em minha direção, revelando-se em amor em misericórdia? Quer dizer que precisei fazer uma pequena chantagem, um “charminho” pra cima de Deus? Quer dizer que a santidade, a fidelidade e a obediência são frutos de meu próprio labor? Puxa vida, é só eu, eu, meu, meu... Deus está se tornando acessório. Mas vamos em frente, que ainda não apresentei a última, que quase me matou.
A letra dizia assim: “A tua unção está em mim / Se eu for até o fim / Eu não vou medir esforços / Para receber o que tu tens pra mim / Eu tomo posse da minha herança / Sou herdeiro da promessa de Deus / Eu tenho fé e confiança / Que eu já recebi tudo aquilo que é meu”. Na hora me lembrei das palavras de Paulo a Timóteo, onde ele aconselhava o jovem pastor: “E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12). Paulo não fala em unção sobre Timóteo, nem fala em perseverar para conquistar aquilo que Deus tem para ele (a perseverança se dá em outro nível, não nesse materialismo barato), mas sim fala a respeito de restrição, renúncia e sofrimento por amor a Cristo.
Só sei que depois de ouvir tanto mantra, saí da loja sem comprar o DVD do James Bond. Perdeu a graça. Na saída da loja, recoloquei meu CD player portátil para tocar e começou uma bonita canção de Carly Simon que dizia: “You’re so vain / You probably think this song is about you” (“Você é tão fútil / Você provavelmente pensa que essa canção é a seu respeito”). Dizem as más línguas que ela escreveu essa música pensando em Warren Beatty, um antigo namoro. Mas, adaptando para o nosso tempo, penso que os mantreiros cantam (inconscientemente) isso é para Deus. Nas canções de muitos, o Pai se tornou fútil e sem sentido. Pensam que cantam a respeito dele, contudo criam um falso ídolo, um bezerro, não de ouro, mas de plástico (dos CDs e dos cartões de crédito) e de papel-moeda.
Consegui escapar da sessão de tortura. Porém ainda sinto dores, especialmente quando penso em milhares de pessoas que aceitam, de bom grado, trocar o Deus verdadeiro por esse baal pós-moderno, se iludindo e enganando a outros. O anestésico para essas dores é o estudo da Palavra. Mas será que a igreja evangélica brasileira ainda se interessa por essa cura?
• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO. revdigao.wordpress.com
Casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, é autor de "Princípios Esquecidos" (Editora AGBooks).
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