Por Escrito
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Tal qual estou
Contando e Cantando - Volume 1
Por Henriqueta Rosa F. Braga
Recostada numa poltrona de onde a invalidez não lhe permitia levantar-se para uma vida de atividade normal, Charlotte Venn Elliott tristemente lamentava sua impossibilidade de participar dos preparativos que ao seu redor se faziam para um bazar em benefício de um colégio para filhos de ministros pobres. Encabeçava o movimento seu irmão, o rev. Henry Elliott, e cordialmente o secundavam nesse esforço seu pai e sua irmã.
Como gostaria Charlotte Elliott de colaborar em tão nobre empreendimento! E como lamentava sua incapacidade física! Mergulhada em suas cogitações, veio-lhe à mente um fato passado há muito tempo. Tinha ela 33 anos de idade e atravessava talvez o mais doloroso período de sua doença. Triste, desanimada, por vezes intimamente revoltada com sua enfermidade, perguntava a si mesma por que lhe coubera tão dura sorte na vida. Por que sua irmã e suas amigas gozavam saúde e ela, nova ainda, se via presa ao leito ou a uma poltrona? No mais aceso de sua luta íntima, recebera a família a visita amiga de um pastor suíço, o rev. César Malan, que, com a acuidade espiritual de um verdadeiro pastor, adivinhando o drama daquela alma jovem e a consequente tortura de tão grande desgraça, afetuosamente procurara induzi-la a aproximar-se de Cristo para nele encontrar a paz que lhe faltava. Embora nascida em lar cristão, a moça ainda não encontrara o seu Salvador pessoal. Ao calor das bondosas palavras do rev. Malan, respondeu Charlotte com frieza, dizendo-lhe: “Não sei como eu, pobre paralítica que sou, poderei entregar-me a Cristo!”. Mansa e carinhosamente replicava-lhe o pastor: “Vá a ele assim como está!”.
Estas palavras proferidas havia catorze anos foram recordadas tão impressivamente naquele momento que a conduziram pela fé aos pés de Cristo. Compreendeu em sua plenitude o maravilhoso amor de Deus, que recebe o mais vil pecador e não olha para incapacidades físicas, mas sim para o coração contrito que dele se acerca em nome de Jesus.
Moça culta, bem educada e de grande sensibilidade, não raro extravasava em versos as profundas emoções que lhe iam na alma. Nesse dia, movida pela abençoada lembrança da conversa que tivera com o rev. Malan, encontrou-se com o seu Salvador e, por ele inspirada, pôde traduzir em memoráveis versos a profunda experiência que lhe trouxe a paz ao coração e a levou a consagrar seus dotes poéticos à edificação espiritual.
Foi assim que brotou de sua pena o hino “Tal qual estou”, ao qual se seguiram muitos outros.
“Tal qual estou” vinculou-se à música “Woodworth”, de William Bradbury. Este compositor americano foi organista do Tabernáculo Batista de Nova York, professor de canto e organizador de festivais de hinos religiosos e de classes de música populares com a finalidade de melhor habilitar os crentes ao canto congregacional. Publicou numerosas coleções de hinos, entre as quais The Jubille, que alcançou nada menos de 2 milhões de exemplares.
Eis o texto de “Tal qual estou”:
Tal qual estou, sem demorar,
A ti me venho consagrar.
Oh! Não me queiras rejeitar:
Jesus bendito, eu venho a ti!
Tal qual estou, Senhor Jesus,
Refúgio quero aos pés da cruz,
Pois atraído em tua luz,
Jesus bendito, eu venho a ti!
Tal qual estou me vês, Senhor:
Um pobre e triste pecador.
Oh! Vem mostrar-me o teu favor!
Jesus bendito, eu venho a ti!
Tal qual estou me aceitarás.
Terei contigo, enfim, a paz.
A tua mão me estenderás:
Jesus bendito, eu venho a ti!
Tal qual estou descansarei
Em ti, Jesus, meu Deus, meu Rei!
E além das trevas cantarei:
Jesus bendito, eu venho a ti!
A tradução da letra é do rev. M. Porto Filho feita em 1960, incluída em Salmos e Hinos, número 321.
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