Opinião
- 14 de maio de 2021
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Simplicidade - uma das oito marcas do discipulado cristão
A vida simples de John Stott
Por Julia Cameron
Por Julia Cameron
John Stott foi o arquiteto chefe do Pacto de Lausanne, um documento histórico oriundo do primeiro Movimento de Lausanne. Ali, ele guiou o chamado da igreja à simplicidade. Ao final do Parágrafo 9 lê-se:
"Aqueles dentre nós que vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles."
Qual é o significado de uma "vida simples"? Não existe uma única resposta, contudo, o exemplo de John Stott é marcante e merece uma análise especial.
Tanto ele quanto sua secretária, Frances Whitehead, que o acompanhou durante toda a vida, tiveram uma criação privilegiada, mas cada um estava comprometido a uma vida simples e um salário modesto, para que mais recursos pudessem ser direcionados ao ministério. Não podemos refletir sobre o comprometimento de John Stott à simplicidade sem sabermos sobre Frances Whitehead. Se ela não fosse igualmente dedicada, a extensão do comprometimento dele seria impossível.
Uma vida simples
John morou em um flat com dois quartos, construído em cima de uma garagem nos fundos de uma reitoria. O acesso a sala de estar/sala de estudos era pelo seu quarto. A mesa do seu grupo de estudo - resgatada do lixo - ficava no quarto. Era uma equipe de três pessoas que administrava um empreendimento global em constante crescimento. Eles chamavam a si mesmos de "os triunviratos felizes", pegando emprestado o termo usado por Charles Simeon de Cambridge, o "mentor" de John Stott em relação a pregações. Simeon usava-o para si mesmo e seus dois ajudantes.
A simplicidade no escritório
Como essa pequena equipe de três poderia administrar um ministério tão extenso? Com cada um alastrando seus impressionantes dons e habilidades. A pressão no escritório era gigantesca, com mais de cem cartas chegando a cada semana, toda semana. Naquela época, a maioria dos empreendimentos teria um recepcionista, um datilógrafo e um arquivista; e, em um devido momento, um gerente de escritório. Francis Whitehead preencheu todos esses cargos, criando uma infraestrutura para cada nova proposta, enquanto digitava os livros de Stott escritos à mão ao longo do tempo!
Como os compromissos de John Stott duravam apenas 15 minutos, ele tinha que ser cuidadosamente notificado para fazer o melhor uso do curto tempo. Francis administrava os compromissos, o informava e atendia a porta para cada nova pessoa que chegava. Suas habilidades naturais (assim que saiu da escola, ela fez um trabalho de guerra sigiloso como uma jovem matemática) poderiam assegurar a ela um emprego muito bem remunerado no Distrito Financeiro.
O título do cargo de Frances permaneceu sendo o mesmo ao longo das décadas: "A secretária do John Stott". Não era Chefe de Operações nem mesmo Assistente Executiva. Não fazia sentido algum a necessidade de ter o título pomposo de um cargo para impor respeito. De acordo com um dos assistentes de estudo de Stott, ela podia, enquanto de forma afetuosa, "intimidar qualquer americano insistente".
A simplicidade e a diversão
Stott dava tudo aquilo que não usava em um ano e, em um dado momento, chegou a ter um único par decente de sapatos. Esses tinham que ser consertados no sábado para que ele pudesse usá-los de novo no domingo. Frances os levava para o conserto.
Mesmo com essa atitude comedida havia momentos para celebrações. A cada ano, os triunviratos felizes comemoravam os aniversários com uma refeição em um restaurante e assistiam a uma peça ou iam ao cinema. Muitas das viagens de John para fora do país incluíam, com frequência, um dia para a observação de aves. E, todo verão, o triunvirato mudava o escritório para o País de Gales, onde Stott fazia um retiro de escrita. Os dias eram consumidos em trabalho especialmente com os livros, e as noites eram usufruídas com amigos que vinham se juntar a eles para o feriado. Eram prazeres simples: caminhar, observar aves, ler as narrativas de Saki e simplesmente aproveitar a companhia.
A entrega pessoal
John Stott será lembrado ao redor do mundo por sua escrita. Seus livros, que somam mais de cinquenta e foram traduzidos para mais de 60 idiomas, venderam aos milhões e acumularam royalties consideráveis. Apenas esses royalties poderiam ter concedido uma renda muito confortável a cada ano. No entanto, eles eram irrevogavelmente atribuídos ao ministério agora conhecido como Langham Literature, para prover mais livros evangélicos a pastores e alunos do Sul Global. Deus deu-lhe a habilidade de escrever, e ele usava esse dom a serviço de Cristo. O lucro era secundário.
Como decidimos o que dar? Em A Graça de Contribuir[1], John Stott fala acerca de adquirir "uma firme convicção" sobre o quanto dar. Ele não era casado, então não tinha que pensar, por exemplo, nas necessidades futuras das crianças; e, nesse sentido, suas decisões podem ter sido mais fáceis de serem tomadas. Contudo, os princípios e o processo são os mesmos, sejam quais forem nossas circunstâncias.
• Julia Cameron dirige a Dictum, um empreendimento editorial independente com sede em Oxford. A Dictum publicou seis novos títulos sobre John Stott e de sua autoria, inclusive uma biografia infantil. Julia atuou em três dos conselhos de John Stott. Navegue pelas livrarias especiais do centenário no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Tradução de: Gabrielle Costa
Nota
[1] Editora Vida, A Graça de Contribuir - o Dinheiro e o Evangelho, 2018, John Stott e Chris Wright.
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