Opinião
- 30 de março de 2017
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Saúde emocional e maturidade espiritual: o que a igreja pode fazer?
Por Karen Bomilcar
O encontro com Jesus e o relacionamento construído que se segue nos impacta de maneira profunda e tem implicações em nosso modo de pensar, sentir, viver. Quando nos debruçamos sobre a experiência da conversão, percebemos a amplitude das transformações propostas.
Mudanças à vista
No processo da conversão nos deparamos com diversos componentes de crescimento na jornada da maturidade espiritual, como a crença e a convicção, o arrependimento, a confiança e a certeza do perdão, o compromisso e a aliança com Deus, o batismo, a ação do Espírito Santo e nossa comunhão na comunidade cristã, para crescimento e aprofundamento.
Na experiência da conversão de nossos corações e mentes a Cristo, há profunda mudança e reorientação de pensamentos, convicções e o desenvolvimento de maior clareza de compreensão através da experiência de que a verdade que nos liberta. O processo de conversão como caminhar na verdade e na luz é básico para o processo de cura e transformação. A experiência da conversão não pode ser confundida como uma simples reforma de conduta e sim como novo nascimento, transformação profunda das pequenas coisas, das ações, escolhas, significados, pautados na identidade em Cristo.
No amor de Deus, enraizados na identidade de filhos amados do Pai, tocados pelo Espírito Santo, damos passos na direção do amadurecimento espiritual, em uma jornada prática e amorosa de fé. Na liberdade deste amor, somos curados de nossas feridas, agraciados com dons, talentos, sentido para viver e missão para cumprir, amparados e direcionados pelo próprio Pai.
Somos todos frágeis
No caminho de maturidade espiritual e emocional, quando anunciamos o arrependimento e a conversão de nossos maus caminhos, estamos dizendo que o Evangelho de Jesus é a boa notícia que nos traz transformação. Na dinâmica de nosso relacionamento com Deus e com a comunidade, seguimos crescendo e reconhecendo em nós as fragilidades e isso faz com que tenhamos que entrar em contato com nossas emoções e afetos. Vamos diariamente ao encontro de Jesus ansiando pelo toque que traz a redenção tanto de nossas emoções quanto de nossa mente, em nossos pensamentos. Ao reconhecer as fragilidades e confessar nossas incapacidades e dependência, somos fortalecidos no poder de Deus e na identidade de filhos amados, desfrutando de alegria e paz.
Na confissão, saio do lugar de vítima e assumo minha responsabilidade, tomando uma decisão consciente e afetiva de caminhar em outra direção, para longe da escuridão e na direção da luz, da maturidade, perdão e amor. Deus deseja que sejamos sinceros, transparentes, nomeando a realidade para que, com humildade, possamos reconhecer dentro de nossas circunstâncias nossos pensamentos e emoções. Olhando para Ele, conseguimos olhar para nós mesmos com graça e somos fortalecidos para caminhar na direção do crescimento espiritual. O Espírito da verdade nos conduzirá (Jo 16.13). J.I.Packer afirma que:
“A conversão é um complexo processo que envolve pensar e repensar, duvidar e vencer as dúvidas, autorreflexão e admoestação, luta contra sentimentos de culpa e vergonha e o foco no que significa realmente amar e seguir a Deus.”
Existe uma conexão entre saúde emocional e maturidade espiritual e, portanto, dificilmente nos tornaremos maduros espiritualmente se não passarmos por um processo de amadurecimento emocional. No campo das emoções, sabemos que são multifatoriais as influências que recebemos na formação de quem somos, como as experiências vividas, o ambiente, fatores genéticos e de personalidade, por exemplo. Nossa espiritualidade e caminhada de fé precisam ser integradas: unir mente e coração. Precisamos observar a dicotomia prática que vivemos, corrigir a rota e integrar estas realidades indissociáveis. Nossos afetos e sentimentos devem ser identificados e tratados à luz de Cristo, para que nossas emoções passem pelo processo de redenção e cura.
Comunidades que apoiam e fortalecem
É neste processo de renovação da nossa mente, coração e emoções que somos transformados de maneira individual e coletiva. É um exercício diário de rendição de nosso sentir e pensar ao senhorio de Cristo, mesmo em meio às nossas limitações humanas. O contexto e o papel da comunidade de fé são fundamentais nesta caminhada de maturidade espiritual e emocional. Nosso crescimento acontece no relacionamento.
A jornada de conversão e santificação é pautada pela ética cristã baseada na metanóia, a transformação da mente e na encarnação das emoções, sentimentos, afetos. Este processo envolve um olhar atento tanto para o ponto de partida quanto para a direção do ponto de chegada. É importante saber de onde viemos e para onde estamos caminhando. Desta forma, poderemos, à luz da Palavra e sob direção de Deus, ressignificar nossos afetos, tomar decisões, nos engajar em disciplinas espirituais, cultivar relacionamentos de amizade na comunidade da fé, nos comprometer na missão, etc. Esta nova vida nos propõe uma caminhada de promoção de justiça, paz, perdão e reconciliação.
Em nosso contexto, nossas comunidades cristãs estão lotadas e muitos celebram os “novos convertidos”, que a partir de sua experiência inicial e decisão pelo Evangelho passam a integrar o “rol de membros” da comunidade. Mas com o tempo, percebemos que tantos tornaram-se “adeptos” e não discípulos engajados no processo transformador e frutífero da conversão, santificação e participação no Corpo de Cristo.
Há uma necessidade urgente de discipulado intencional, pois muitas vezes nos ocupamos em preencher as agendas destes que chegam a nossas comunidades com programações e eventos que pouco tem a ver com a caminhada cristã diária, que se propõe a ser relacional com Deus e uns com os outros. Precisamos de atenção para não alimentar a superficialidade ou as dicotomias tão presentes em nosso dia-a-dia. Precisamos incentivar e nutrir a vida compartilhada, coração aberto, terreno para transformações profundas e longitudinais. As comunidades estão cheias, mas não enxergamos necessariamente pessoas em crescimento, mudança de vida prática. A experiência da conversão propõe um novo caminho, restauração, redenção, libertação do mal, recomeço na companhia de Deus e na comunidade.
Amor que transforma e confirma a filiação
Tudo isso proporciona um caminho de saúde emocional e vida, ainda que na jornada neste mundo estejamos sujeitos a lidar com tantas circunstâncias que contém sinais de morte.
O texto de Romanos 5 nos relembra do amor de Deus que nos transforma mesmo em meio à sentimentos de tristeza, raiva, amargura, sofrimento e até cinismo, apatia e desespero. Conhecemos este amor não apenas através da cognição, do pensamento, mas também através dos nossos afetos e somos encorajados na direção da esperança. Enquanto reordenamos nossos afetos, o Espírito Santo derrama seu amor em nossos corações e isso nos leva à prática da gratidão. Romanos 5.3-4 nos apresenta o contexto do sofrimento, a prática da perseverança, a formação do caráter e da maturidade e uma caminhada de esperança Nele.
O toque de Deus em nosso encontro e caminhada com Ele, nos lembra diariamente de que nossa identidade como filhos amados e somos transformados. Através do seu amor e sua graça, nos oferece recomeço, um novo jeito de ser gente, de nos relacionar e trabalhar – sinalizando para o mundo, através da esperança a nós doada, um caminho de redenção em todas as esferas da vida.
• Karen Bomilcar trabalha como Psicóloga Clínica Hospitalar. É mestre em Teologia e Estudos Interdisciplinares - Regent College/UBC (Canadá). Atualmente reside em São Paulo (SP), integra a equipe de liderança do Fórum Cristão de Profissionais (IBAB-SP) e também dedica seu tempo à música, literatura, cuidado pastoral e cultivo de amizades, especialmente ao redor da mesa.
Leia mais
O que vem depois da graça? [Ricardo Barbosa]
Um encontro longo e transformador [Ricardo Wesley]
Cristianismo Equilibrado [John Stott]
O Que Você Quer? [Jen Pollock Michel]
Foto: Tim Marshall/Unsplash.com.
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Mudanças à vista
No processo da conversão nos deparamos com diversos componentes de crescimento na jornada da maturidade espiritual, como a crença e a convicção, o arrependimento, a confiança e a certeza do perdão, o compromisso e a aliança com Deus, o batismo, a ação do Espírito Santo e nossa comunhão na comunidade cristã, para crescimento e aprofundamento.
Na experiência da conversão de nossos corações e mentes a Cristo, há profunda mudança e reorientação de pensamentos, convicções e o desenvolvimento de maior clareza de compreensão através da experiência de que a verdade que nos liberta. O processo de conversão como caminhar na verdade e na luz é básico para o processo de cura e transformação. A experiência da conversão não pode ser confundida como uma simples reforma de conduta e sim como novo nascimento, transformação profunda das pequenas coisas, das ações, escolhas, significados, pautados na identidade em Cristo.
No amor de Deus, enraizados na identidade de filhos amados do Pai, tocados pelo Espírito Santo, damos passos na direção do amadurecimento espiritual, em uma jornada prática e amorosa de fé. Na liberdade deste amor, somos curados de nossas feridas, agraciados com dons, talentos, sentido para viver e missão para cumprir, amparados e direcionados pelo próprio Pai.
Somos todos frágeis
No caminho de maturidade espiritual e emocional, quando anunciamos o arrependimento e a conversão de nossos maus caminhos, estamos dizendo que o Evangelho de Jesus é a boa notícia que nos traz transformação. Na dinâmica de nosso relacionamento com Deus e com a comunidade, seguimos crescendo e reconhecendo em nós as fragilidades e isso faz com que tenhamos que entrar em contato com nossas emoções e afetos. Vamos diariamente ao encontro de Jesus ansiando pelo toque que traz a redenção tanto de nossas emoções quanto de nossa mente, em nossos pensamentos. Ao reconhecer as fragilidades e confessar nossas incapacidades e dependência, somos fortalecidos no poder de Deus e na identidade de filhos amados, desfrutando de alegria e paz.
Na confissão, saio do lugar de vítima e assumo minha responsabilidade, tomando uma decisão consciente e afetiva de caminhar em outra direção, para longe da escuridão e na direção da luz, da maturidade, perdão e amor. Deus deseja que sejamos sinceros, transparentes, nomeando a realidade para que, com humildade, possamos reconhecer dentro de nossas circunstâncias nossos pensamentos e emoções. Olhando para Ele, conseguimos olhar para nós mesmos com graça e somos fortalecidos para caminhar na direção do crescimento espiritual. O Espírito da verdade nos conduzirá (Jo 16.13). J.I.Packer afirma que:
“A conversão é um complexo processo que envolve pensar e repensar, duvidar e vencer as dúvidas, autorreflexão e admoestação, luta contra sentimentos de culpa e vergonha e o foco no que significa realmente amar e seguir a Deus.”
Existe uma conexão entre saúde emocional e maturidade espiritual e, portanto, dificilmente nos tornaremos maduros espiritualmente se não passarmos por um processo de amadurecimento emocional. No campo das emoções, sabemos que são multifatoriais as influências que recebemos na formação de quem somos, como as experiências vividas, o ambiente, fatores genéticos e de personalidade, por exemplo. Nossa espiritualidade e caminhada de fé precisam ser integradas: unir mente e coração. Precisamos observar a dicotomia prática que vivemos, corrigir a rota e integrar estas realidades indissociáveis. Nossos afetos e sentimentos devem ser identificados e tratados à luz de Cristo, para que nossas emoções passem pelo processo de redenção e cura.
Comunidades que apoiam e fortalecem
É neste processo de renovação da nossa mente, coração e emoções que somos transformados de maneira individual e coletiva. É um exercício diário de rendição de nosso sentir e pensar ao senhorio de Cristo, mesmo em meio às nossas limitações humanas. O contexto e o papel da comunidade de fé são fundamentais nesta caminhada de maturidade espiritual e emocional. Nosso crescimento acontece no relacionamento.
A jornada de conversão e santificação é pautada pela ética cristã baseada na metanóia, a transformação da mente e na encarnação das emoções, sentimentos, afetos. Este processo envolve um olhar atento tanto para o ponto de partida quanto para a direção do ponto de chegada. É importante saber de onde viemos e para onde estamos caminhando. Desta forma, poderemos, à luz da Palavra e sob direção de Deus, ressignificar nossos afetos, tomar decisões, nos engajar em disciplinas espirituais, cultivar relacionamentos de amizade na comunidade da fé, nos comprometer na missão, etc. Esta nova vida nos propõe uma caminhada de promoção de justiça, paz, perdão e reconciliação.
Em nosso contexto, nossas comunidades cristãs estão lotadas e muitos celebram os “novos convertidos”, que a partir de sua experiência inicial e decisão pelo Evangelho passam a integrar o “rol de membros” da comunidade. Mas com o tempo, percebemos que tantos tornaram-se “adeptos” e não discípulos engajados no processo transformador e frutífero da conversão, santificação e participação no Corpo de Cristo.
Há uma necessidade urgente de discipulado intencional, pois muitas vezes nos ocupamos em preencher as agendas destes que chegam a nossas comunidades com programações e eventos que pouco tem a ver com a caminhada cristã diária, que se propõe a ser relacional com Deus e uns com os outros. Precisamos de atenção para não alimentar a superficialidade ou as dicotomias tão presentes em nosso dia-a-dia. Precisamos incentivar e nutrir a vida compartilhada, coração aberto, terreno para transformações profundas e longitudinais. As comunidades estão cheias, mas não enxergamos necessariamente pessoas em crescimento, mudança de vida prática. A experiência da conversão propõe um novo caminho, restauração, redenção, libertação do mal, recomeço na companhia de Deus e na comunidade.
Amor que transforma e confirma a filiação
Tudo isso proporciona um caminho de saúde emocional e vida, ainda que na jornada neste mundo estejamos sujeitos a lidar com tantas circunstâncias que contém sinais de morte.
O texto de Romanos 5 nos relembra do amor de Deus que nos transforma mesmo em meio à sentimentos de tristeza, raiva, amargura, sofrimento e até cinismo, apatia e desespero. Conhecemos este amor não apenas através da cognição, do pensamento, mas também através dos nossos afetos e somos encorajados na direção da esperança. Enquanto reordenamos nossos afetos, o Espírito Santo derrama seu amor em nossos corações e isso nos leva à prática da gratidão. Romanos 5.3-4 nos apresenta o contexto do sofrimento, a prática da perseverança, a formação do caráter e da maturidade e uma caminhada de esperança Nele.
O toque de Deus em nosso encontro e caminhada com Ele, nos lembra diariamente de que nossa identidade como filhos amados e somos transformados. Através do seu amor e sua graça, nos oferece recomeço, um novo jeito de ser gente, de nos relacionar e trabalhar – sinalizando para o mundo, através da esperança a nós doada, um caminho de redenção em todas as esferas da vida.
• Karen Bomilcar trabalha como Psicóloga Clínica Hospitalar. É mestre em Teologia e Estudos Interdisciplinares - Regent College/UBC (Canadá). Atualmente reside em São Paulo (SP), integra a equipe de liderança do Fórum Cristão de Profissionais (IBAB-SP) e também dedica seu tempo à música, literatura, cuidado pastoral e cultivo de amizades, especialmente ao redor da mesa.
Leia mais
O que vem depois da graça? [Ricardo Barbosa]
Um encontro longo e transformador [Ricardo Wesley]
Cristianismo Equilibrado [John Stott]
O Que Você Quer? [Jen Pollock Michel]
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