Opinião
- 28 de março de 2024
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Quem quer ser excelente?
Quando suplantar uns aos outros é uma boa alternativa
Por Klênia Fassoni
Por Klênia Fassoni
Lembro-me do meu pai contar uma experiência do início de seu pastorado. Vez ou outra chegavam ao conselho queixas sobre o mau testemunho de um determinado membro. Numa das vezes que foi chamado ao conselho, depois de admoestado, ele disse: “Eu sei que falho, que peco, mas sou crente, fui criado na igreja, quero ir para o céu. Não me excluam! Eu sou um crente mais ou menos, sei que vou passar com a nota mínima”.
Ele saía convencido da necessidade de se corrigir, mas falhava novamente, mesmo sabendo que isso trazia tristeza e consequências ruins para a sua família. Este senhor teve uma morte precoce causada por problemas cardíacos. Certamente Deus o recebeu no céu. Com uma boa nota, afinal o mérito está no sacrifício de Cristo.
Onde a mediocridade – que é o contrário da excelência – chega, tudo é mais ou menos: cidadania mínima, pais mais ou menos presentes, estudantes de nota suficiente para aprovação, pastores e lideranças medianos, vida de oração pobre, crentes pouco maduros e por aí vai.
Excelência é coisa de Deus
Excelência significa destacar-se, ser perito em algo, ser mais do que bom. Buscar a excelência é algo inato à humanidade. Ela é uma qualidade de Deus, transmitida às suas criaturas feitas à sua imagem e semelhança.
Na jornada cristã devemos imitar Cristo, em seu caminho de excelência: “tenham as qualidades que o Senhor Jesus Cristo tem” (Rm 13.14). Também aos Romanos, Paulo declara: “[Deus]não somente os chamou, mas também os aceitou; e não somente os aceitou, mas também repartiu a sua glória com eles” (Rm 8.30). E aos coríntios, ele diz: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3.18).
Listas de excelentes
Boa parte das vezes a excelência que o mundo valoriza – e as motivações com que é buscada – não condiz com os valores do Evangelho de Cristo. Ver a lista de pessoas destacadas como excelentes por Jesus - e indicadas como modelos para nós - revela isso.
Foi a respeito de João Batista - o profeta que peregrinava pelo deserto, comia e se vestia de forma rústica - que Jesus disse: “[ele] o maior entre os nascidos de mulher”. A mulher que soube reconhecer o perdão de Deus mais do que os outros derramando o perfume nos pés de Jesus é modelo de adoração. A viúva pobre que deu uma moeda sem valor monetário é modelo de ofertante. A mulher cananeia que perseverou no debate com Jesus e se humilhou é modelo de fé. Assim como o centurião romano que buscou Jesus com humildade para curar o seu servo. O menino que Jesus colocou no meio da roda dos discípulos orgulhosos é modelo de humildade.
No capítulo 16 de Romanos, Paulo faz uma lista de “excelentes”, no verso 6 a palavra usada é “notáveis”. Nestes casos, a excelência é revelada na hospitalidade altruísta, na firmeza na fé, no anúncio do Evangelho, na colaboração, no trabalho árduo, no serviço, no estar no Senhor, no amor demonstrado, no companheirismo e na amizade.
Excelência e vida plena
Ser excelente serve a um propósito divino. Trilhar o caminho da excelência deixa atrás de nós rastros que são identificados com a excelência. E a excelência testemunha a natureza de Deus e fala da obra redentora em Cristo.
Há uma associação entre excelência e vida plena. A vida plena acontece como fruto da comunhão com o Pai (Jo 10.10). A excelência - a partir da ligação dos galhos com a videira - é manifestada no florescimento das características e qualidades que possuímos e dos dons especiais que recebemos do Espírito.
Quando a busca por excelência na vida cristã é a prioridade, a busca por excelência em todas as demais áreas da vida se torna legítima, traz satisfação pessoal e serve aos propósitos de Deus, pois está subordinada àquela.
Excelência e competição
No mundo, geralmente se busca a excelência para ser melhor do que outros. Mas no Reino de Deus ela não combina com competição, egoísmo e vanglória. A excelência é aliada importante no ajuste das partes no corpo de Cristo; ela serve à igreja e serve ao mundo. E a busca por ela não é uma caminhada solitária. Ao lado de irmãs e irmãos vamos florescendo e frutificando no caráter, no exercício dos dons, nas habilidades naturais, cada um à sua maneira. O conjunto deve ser harmonioso.
Da mesma forma, a busca por este tipo de excelência nada tem a ver com a aquisição de méritos próprios. Ela é fruto da recordação ativa de que somos imagem e semelhança de Deus, de que fomos feitos novas criaturas por meio de Cristo Jesus. A excelência é um aperitivo daquele novo tempo que esperamos, quando virá o que é perfeito (1Co 13.10-13).
Se há alguma competição recomendada é esta feita pelo autor de Hebreus: “Em reconhecimento por tudo quanto ele fez por nós, suplantemos uns ao outros em ser prestativos, em ser bondosos uns para com os outros, e em fazer o bem” (Hb 10.24).
Versão ampliada do artigo Suplantemos uns aos outros, publicado na edição 406 de Ultimato.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – O QUE VOCÊ TEM QUE NÃ OTENHA RECEBIDO?
Reconhecer que é necessário dar graças pela igreja – a que é e a que será (“igreja triunfante”) – pode ser uma chave para nos aproximar da comunidade dos fiéis, nestes dias em que a confiança nas igrejas e a frequência nelas estão em baixa. Ter feito as pazes com Deus por meio de Jesus Cristo, ter a sua presença próxima, experimentar isso – este é o maior motivo de gratidão.
Saiba mais:
» A Vida Em Cristo, John Stott
» Para Que Serve a Teologia? – Sabedoria, significado e beleza, Alister McGrath
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