Opinião
- 14 de dezembro de 2020
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Quando o passado te alcança
Por René Breuel
Nas últimas duas décadas, pensei muito pouco sobre o passado. A minha mente preferia viver, na verdade, no futuro: imaginar novos horizontes, criar conteúdos, e formular estratégias para ter um impacto no mundo.
O meu passado, para mim, era como uma neblina. “Porque perder tempo refletindo sobre a minha infância e adolescência?”, eu pensava. Não tinha muita percepção sobre a minha criação e família de origem; eu imaginava que deveria somente ser grato pela minha vida, não focalizar as feridas, e bola pra frente.
É uma postura que me ajudou muito como um jovem adulto. Pude alçar voo na vida, me casar, formar uma família, morar em países estrangeiros e fundar uma nova igreja – e amo muito tudo isso.
Porém, recentemente o passado começou a me alcançar. Notei modos de pensar e me comportar que herdei da minha família e da minha adolescência. Algumas dessas maneiras de agir eu queria manter. Aquelas que desejava mudar, porém, me deixaram perplexo. Parecia que nenhuma quantidade de leituras, reflexões e arrependimento me ajudavam a modifica-las.
Esse ano li três livros que me ajudaram a entender como o passado me moldou: O Líder Emocionalmente Saudável, do Pete Scazzero, Growing Yourself Up, da Jenny Brown, e Family Ties That Bind, do Ronald Richardson.
Esses três livros me desafiaram a refletir sobre os modos em que funciono. O Pete Scazzero questiona uma espiritualidade evangélica superficial e convida os leitores a uma vida interior profunda com Deus. A Jenny Brown e o Ronald Richardson expõem a teoria sistêmica da família do Murray Bowen, uma área da psicologia que analisa o indivíduo na sua rede de relacionamentos passados e presentes.
Cada pessoa vai encontrar aplicações relevantes para a sua vida, mas esses são alguns dos insights que tem me ajudado mais:
• Não posso esperar ou desejar que relacionamentos atuais ou conquistas profissionais curem feridas da minha infância.
• Escolho não colocar a culpa nos outros ou me fazer de vítima, mas tomar responsabilidade pelas minhas reações.
• Os meus relacionamentos adultos com a minha esposa, filhos e colegas não substituem relacionamentos próximos com meus pais, irmãos, e parentes, que quero nutrir mais intencionalmente.
• Uma rede de suporte de amigos e mentores que me nutrem vai me ajudar a ficar equilibrado enquanto sirvo e ajudo outras pessoas.
Uma mudança chave foi pensar sobre mim mesmo nas redes de relacionamentos que me formaram e em que hoje vivo. Como uma pessoa voltada às tarefas, eu focalizava principalmente ideias, planos e responsabilidades – a partir de um ponto de vista individual. Agora percebo que muitas das nossas questões estão na esfera interpessoal. Os relacionamentos nos moldam, inclusive o modo com que nos relacionamos com nós mesmos e com Deus.
Essa jornada de reflexão ainda está acontecendo. No entanto, os passos que já pude dar até aqui me ajudaram a sentir que estou me levantando, enquanto que antes me sentia derrotado por forças que não conseguia identificar. Dou mais valor aos relacionamentos, tenho mais compaixão e vontade de perdoar os outros, e me sinto mais livre. É como se um maior espaço interno se abrisse em mim, e tem sido uma alegria preenchê-lo com deliciosos momentos com Deus, que vou descrever no meu próximo artigo.
• René Breuel é um missionário brasileiro, pastor fundador da Igreja Hopera em Roma, e autor de O Paradoxo da Felicidade.
>> Conheça os livros Por Que (Sempre) Faço o Que Não Quero? e De Hoje em Diante, de Elben César
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