Opinião
- 24 de fevereiro de 2017
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Por que até ateus dizem “graças a Deus”?
Por Gerson Borges
“Graça, a última palavra perfeita” (Philip Yancey)
A gente não pensa no que fala. Nem sei se fala o que pensa. Aliás, admito que o que menos temos feito é pensar. O fato é que temos muitas expressões idiomáticas interessantes, verdadeiros hábitos linguísticos – presto atenção ao fenômeno quase o tempo todo por causa do irrevogável gosto que alimento pelas palavras; deve ter sido a paixão pela leitura e a formação em Letras.
Uma dessas expressões é “graças a Deus”. Usamos o tempo todo. Até mesmo ateus distraídos o fazem, ou mesmo os conscientes (sim, ateus tem um tipo de fé). Acreditam tratar-se de um mero hábito de linguagem, algo como “que bom”, “ainda bem”, algo do tipo. Mas não é.
Dias desses, o filósofo Luis Felipe Pondé, professor da PUC de São Paulo e colunista da Folha de São Paulo, notou em um instigante artigo, com a sua peculiar (às vezes polêmica, cáustica mesmo) astúcia, que dizer “graças a Deus” é o “reconhecimento intuitivo do fato de que estamos nas mãos da contingência incontrolável e que, por isso mesmo, devemos ‘agradecer’ a ela tudo de bom que (por sorte) nos acontece”, e que isso “está em profunda consonância com a sabedoria israelita antiga e com Eliade e Lutero”. O filósofo acrescenta: “Graças a Deus” é uma profunda forma de reconhecimento da frágil beleza da vida, e uma confissão de humildade que é, sempre, uma forma dessa mesma beleza.
Não concordo com muita coisa que Pondé escreve. Mas ressalto e admiro sua honestidade intelectual, a coragem cortante do seu pensamento, a beleza da sua linguagem e seu estilo rolo-compressor de filosofar, algo que herdou de Nietzsche, nota-se. Recentemente ele se definiu como um ex-ateu. Elogia Jesus de Nazaré, a ética cristã e a enorme herança civilizatória que a tradição judaico-cristã legou a esse nosso ocidente tão ultra individualista e secularizado. Por isso ele me surpreende ao reconhecer que dizer “graças a Deus” é mais que uma muleta idiomática. Vem de muitos lugares profundos da espiritualidade dos hebreus, do nosso débito com o Eclesiastes, por exemplo.
A graça é a soberana e livre providência divina em ação. É o Senhor permitir que coisas boas aconteçam a pessoas ruins, esse sim, é um problema filosófico para quem não crê. Coisas ruins acontecem a pessoas boas, como nos lembra o clássico do rabino Harold S. Kushner, no seu famoso livro escrito quando o mesmo era um jovem rabino e perde de modo trágico seu filho de três anos.
Afinal, o que quer dizer “graças a Deus”?
“Graças a Deus” quer dizer que o acaso não dá conta, não explica nem o mal nem o bem. “Graças a Deus” anuncia que há um sentido no mundo e um mundo de sentido que, apesar de não alcançarmos, está lá, forte e real. Como um mosquito numa barraca de camping: o fato de não o vermos não quer dizer que não exista. “Graças a Deus” então, pode ser assumida como uma expressão de culto, hino, liturgia, devoção, palavra-de-adoração como “aleluia”, “amém”, “Hosana” e “Maranata”. Graças a Deus pela Graça. Graças a Deus pela Fé, pela Redenção, pela Cruz, pela Igreja de Cristo.
Yancey no seu clássico moderno “Maravilhosa Graça” me enleva e resume: “Damos ‘graças’ antes das refeições, somos gratos pela bondade de alguém, sentimo-nos gratificados com boas noticias, congratulados quando temos sucesso, graciosos hospedando amigos, quando uma pessoa nos serve bem, deixamos uma gratificação”. E vai por aí. Fomos e somos agraciados pela Providência o tempo todo, minha gente! O mundo não é tão sem graça como insistem os que não creem. Graças a Deus. Só uma persona non grata não o reconhece.
E dirás naquele dia: Graças te dou, ó SENHOR, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas. (Isaías 12:1)
“Graça, a última palavra perfeita” (Philip Yancey)
A gente não pensa no que fala. Nem sei se fala o que pensa. Aliás, admito que o que menos temos feito é pensar. O fato é que temos muitas expressões idiomáticas interessantes, verdadeiros hábitos linguísticos – presto atenção ao fenômeno quase o tempo todo por causa do irrevogável gosto que alimento pelas palavras; deve ter sido a paixão pela leitura e a formação em Letras.
Uma dessas expressões é “graças a Deus”. Usamos o tempo todo. Até mesmo ateus distraídos o fazem, ou mesmo os conscientes (sim, ateus tem um tipo de fé). Acreditam tratar-se de um mero hábito de linguagem, algo como “que bom”, “ainda bem”, algo do tipo. Mas não é.
Dias desses, o filósofo Luis Felipe Pondé, professor da PUC de São Paulo e colunista da Folha de São Paulo, notou em um instigante artigo, com a sua peculiar (às vezes polêmica, cáustica mesmo) astúcia, que dizer “graças a Deus” é o “reconhecimento intuitivo do fato de que estamos nas mãos da contingência incontrolável e que, por isso mesmo, devemos ‘agradecer’ a ela tudo de bom que (por sorte) nos acontece”, e que isso “está em profunda consonância com a sabedoria israelita antiga e com Eliade e Lutero”. O filósofo acrescenta: “Graças a Deus” é uma profunda forma de reconhecimento da frágil beleza da vida, e uma confissão de humildade que é, sempre, uma forma dessa mesma beleza.
Não concordo com muita coisa que Pondé escreve. Mas ressalto e admiro sua honestidade intelectual, a coragem cortante do seu pensamento, a beleza da sua linguagem e seu estilo rolo-compressor de filosofar, algo que herdou de Nietzsche, nota-se. Recentemente ele se definiu como um ex-ateu. Elogia Jesus de Nazaré, a ética cristã e a enorme herança civilizatória que a tradição judaico-cristã legou a esse nosso ocidente tão ultra individualista e secularizado. Por isso ele me surpreende ao reconhecer que dizer “graças a Deus” é mais que uma muleta idiomática. Vem de muitos lugares profundos da espiritualidade dos hebreus, do nosso débito com o Eclesiastes, por exemplo.
A graça é a soberana e livre providência divina em ação. É o Senhor permitir que coisas boas aconteçam a pessoas ruins, esse sim, é um problema filosófico para quem não crê. Coisas ruins acontecem a pessoas boas, como nos lembra o clássico do rabino Harold S. Kushner, no seu famoso livro escrito quando o mesmo era um jovem rabino e perde de modo trágico seu filho de três anos.
Afinal, o que quer dizer “graças a Deus”?
“Graças a Deus” quer dizer que o acaso não dá conta, não explica nem o mal nem o bem. “Graças a Deus” anuncia que há um sentido no mundo e um mundo de sentido que, apesar de não alcançarmos, está lá, forte e real. Como um mosquito numa barraca de camping: o fato de não o vermos não quer dizer que não exista. “Graças a Deus” então, pode ser assumida como uma expressão de culto, hino, liturgia, devoção, palavra-de-adoração como “aleluia”, “amém”, “Hosana” e “Maranata”. Graças a Deus pela Graça. Graças a Deus pela Fé, pela Redenção, pela Cruz, pela Igreja de Cristo.
Yancey no seu clássico moderno “Maravilhosa Graça” me enleva e resume: “Damos ‘graças’ antes das refeições, somos gratos pela bondade de alguém, sentimo-nos gratificados com boas noticias, congratulados quando temos sucesso, graciosos hospedando amigos, quando uma pessoa nos serve bem, deixamos uma gratificação”. E vai por aí. Fomos e somos agraciados pela Providência o tempo todo, minha gente! O mundo não é tão sem graça como insistem os que não creem. Graças a Deus. Só uma persona non grata não o reconhece.
E dirás naquele dia: Graças te dou, ó SENHOR, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas. (Isaías 12:1)
Gerson Borges, casado com Rosana Márcia e pai de Bernardo e Pablo, pastoreia a Comunidade de Jesus no ABCD Paulista. É autor de Ser Evangélico sem Deixar de Ser Brasileiro, cantor, compositor e escritor, licenciado em letras e graduando em psicologia.
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