Opinião
- 27 de dezembro de 2018
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O que muda para o movimento missionário brasileiro com o novo governo a partir de 2019?
Por Silas Tostes
Vivemos um processo eleitoral de desgastes em 2018.
Ambos os lados se satanizavam. Ou, o Brasil se tornaria comunista, Venezuela, ou, neofascista. A possibilidade de democracia forte com as suas instituições estabelecidas, preservando o estado de direito, parecia não ser possível. Sugeriam que cairíamos numa tragédia.
Venceu aquele que, inicialmente, tinha menos chance, ainda que tenha sempre liderado as pesquisas. Bolsonaro, portanto, é o nosso Presidente. Foi eleito com apoio expressivo dos evangélicos. E, com considerável influência da bancada evangélica na nomeação de alguns ministros. O “nós e ele” e o “ele e nós”, estão entrelaçados. Bem, isso afeta o nosso testemunho missionário no Brasil e até os confins da terra?
Assim como o resultado eleitoral foi surpreendente, qualquer resposta aqui é uma possibilidade hipotética. Mas, vamos lá nesse exercício de previsão.
Primeiro, os erros e acertos do novo governo serão associados aos evangélicos. Principalmente, associados aos pastores que saíram em campanha. Nesse sentido, perdemos a neutralidade que permitiria denúncias. Talvez, tenhamos um preço a pagar por termos deixado a tradição protestante, de como pastores, de não declarar voto. A impressão que tenho, que membros de igreja optaram mudar de congregação à luz da opção política do seu pastor. Ou, à luz de sua militância mais aguerrida. Portanto, a política afetou a comunhão, o pastoreio e o testemunho.
Segundo, a belicosidade da campanha. Pastores envolvidos nas posturas mais agressivas, possivelmente provoca desconforto no dialogar com os evangélicos. Diálogo presume civilidade.
Terceiro, a militância belicosa evangélica à esquerda, ou à direita, ressaltou diferenças irrelevantes para o testemunho. Ou seja, apesar das diferenças periféricas, a unidade no essencial, Jesus, ficou em segundo plano. Como disse John Wesley:”"No essencial, unidade; nas diferenças, liberdade; e em todas as coisas, caridade." Não parecia haver liberdade para as diferenças secundárias. Era como se unidade cristã dependesse de uniformidade partidária.
Quarto, o novo governo sinaliza alinhamento com a política externa americana. Possivelmente, uma das razões pelas nações falarem que amam o Brasil, ou os brasileiros, além de futebol e carnaval, seja a neutralidade da diplomacia brasileira, respeitando a soberania dos povos. Nesse contexto, talvez experimentaremos como brasileiros no exterior, missionários ou não, um aumento do grau de antipatia, o qual terá efeito nos relacionamentos necessários para o testemunho. Um certo ódio aos americanos, poderá ser um certo ódio aos brasileiros.
Quinto, ligado ao item anterior, a mudança da Embaixada Brasileira para Jerusalém. Talvez, seja um vespeiro a evitar. Não sabemos ao certo, mas certamente algum efeito terá no relacionamento entre brasileiros e muçulmanos.
Sexto, estamos alinhados com a moralidade evangélica tradicional quanto a defesa da vida, casamento monogâmico heterosexual, contra ideologia de gênero e contra erotizar crianças, o que seria fora de nossas convicções. Esse alinhamento, porém, não pode ser visto como imposição com ódio a toda a sociedade, pois até o Senhor permite que cada um ande nos seus caminhos. Afetará o nosso testemunho se as pessoas nos virem como impositores, e não anunciadores e demonstradores de um convite. "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso”. (Mateus 11.28).
Sétimo, a presença de Sérgio Moro como Ministro da Justiça, como símbolo de combate a corrupção, e como entusiasta das 70 medidas contra a corrupção, os quais foram desenvolvidas pela Transparência Internacional e Fundação Getúlio Vargas, deve ser um ponto a favor ao testemunho evangélico. Nesse processo, evangélicos corruptos também serão pegos, e isso será bom. É bom sermos vistos como favoráveis a integridade.
Qualquer que fosse o resultado das eleições, haveria consequências para o nosso testemunho na sociedade. Acima ressalto somente uns pontos aos quais deveremos estar atentos. Na verdade, queremos e devemos remover todos os escândalos à fé, menos o escândalo da cruz. “ Nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1 Coríntios 1: 23).
• Silas Tostes é presidente do Conselho Gestor da Aliança Evangélica Brasileira, presidente da Missão Antioquia. Está filiado à Igreja Presbiteriana de Londrina, designado para missões, e é casado com Márcia Tostes, com quem tem dois filhos.
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