Opinião
- 19 de agosto de 2013
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O que está acontecendo no Egito?
Muitos de nós envolvidos no ministério cristão no Egito estamos estarrecidos com os mal-entendidos sobre a situação que têm sido propagados até mesmo pela mídia normalmente bem equilibrada, como a BBC, e a maneira como ela tem retratado a Irmandade Mulçumana como vítimas de violência.
Assim, em meu próprio nome, e de Ramez Atallah (Secretário Geral da Sociedade Bíblica do Egito), do pastor Fayes Ishaq (um dos líderes da Igreja Evangélica Kasr Dubaraq), de outros líderes de ministérios no Egito e da liderança do “Middle East Concern”, permita-me, por favor, pintar um quadro mais real do que tem acontecido no último ano, aproximadamente.
Sim, o antigo presidente Mohammed Morsi foi eleito “democraticamente” em junho de 2012, mas pela mais diminuta maioria — apenas 13 milhões de pessoas (de uma população total de 83 milhões) votaram em Morsi. Ainda assim, ele entendeu isso como um mandato para fazer o que quisesse, com uma atitude de “o vencedor leva tudo”. Seu novo governo não foi inclusivo e ele rapidamente designou antigos líderes da Irmandade Muçulmana (alguns sentenciados anteriormente por violência ou incitação à violência) para servir como governadores regionais ou ministros do governo. Em novembro de 2012, ele deu-se a si mesmo, ilegalmente, poderes absolutos para agir sem censura, e apressou a votação de uma nova constituição pró-islâmica, apesar dos protestos e boicotes de liberais, muçulmanos moderados e cristãos — e, então, recusou-se a convocar novas eleições — como havia concordado a fazer depois que uma nova constituição fosse adotada. É claro que a economia foi muito mal administrada pelos novos ministros, cuja única qualificação aparente para o ofício era o fato de serem membros fiéis da Irmandade Muçulmana. No final de 2012, a infraestrutura do país começou a desmoronar, as reservas de energia e combustível tornaram-se instáveis, os preços das “commodities” foram às alturas e o Egito tentava duramente conseguir o tão necessário financiamento internacional.
Em 30 de junho de 2013, no primeiro aniversário da eleição de Morsi à presidência, o povo já não aguentava mais! Aproximadamente 30 milhões de pessoas foram para as ruas protestar contra a continuação de Morsi na presidência — isso incluía mais do que os que votaram em Morsi um ano antes. Mesmo que a cifra de 30 milhões não possa ser independentemente verificada, é claro que o número de pessoas nas ruas era muito maior do que o número de pessoas que votou em Morsi. Mas, diferentemente de presidentes de qualquer outra democracia normal, Morsi recusou-se a sair ou mesmo tentar um novo mandato por meio de novas eleições. Para muitos, esta atitude confirmou que a Irmandade Muçulmana estava apenas usando a nova democracia no Egito para estabelecer uma teocracia.
Numa situação como esta, a última linha de defesa da democracia é o Exército. Apenas este tem o poder de recomeçar o processo e, pela demanda popular e com a devida notificação prévia, o Exército veio a intervir e remover o ex-presidente — para o deleite absoluto e o alívio da maioria do povo.
Nas últimas seis semanas, a Irmandade Muçulmana ocupou vários espaços públicos para fazer manifestações a favor da reinstalação do ex-presidente (atualmente ele está preso pelo Exército e é acusado de abuso de poder, incluindo apoio financeiro e de inteligência significativos ao Hamas). Diferentemente de uma ocupação pacífica como a da Praça Tahrir pelos manifestantes em janeiro de 2011, e, novamente no final de junho de 2013, essas ocupações da Irmandade Muçulmana eram dominadas por incentivos à violência contra o Exército, a polícia, os liberais e, principalmente, contra os cristãos coptas no Egito. Tudo isso resultou na violência testemunhada em 14 de agosto, quando delegacias de polícia, hospitais, propriedades públicas e privadas foram destruídas. Muitas igrejas cristãs (pelo menos 40 até agora), casas e estabelecimentos comerciais também foram atacados, além de um monastério, três sociedades religiosas, três importantes lojas pertencentes à Sociedade Bíblica, três escolas cristãs e um orfanato.
O patriarca copta Tawadros II fez uma declaração sobre os ataques às igrejas nesta semana, dizendo que “isso era esperado e, como cidadãos e cristãos, nós estamos considerando os prédios de nossa igreja como um sacrifício a ser feito pelo nosso amado país”. Outros líderes de igrejas fizeram declarações parecidas, enfatizando que os prédios não fazem a Igreja, mas a Igreja é o Corpo de Cristo, feito de pessoas que têm sua fé nele, e que esta fé está se tornando mais forte à medida que vivencia tempos desafiadores.
É importante e encorajador notar que alguns muçulmanos foram proteger igrejas e que, em retorno, muitos cristãos enviaram mensagens aos seus concidadãos muçulmanos dizendo: “Prédios podem ser reconstruídos, mas vocês são inestimáveis; então, procurem sua própria segurança e não se preocupem com as igrejas”. O governo também anunciou que tomará a responsabilidade financeira sobre si de reconstruir as igrejas danificadas.
A Irmandade Muçulmana foi e permanece eficaz em aparecer como vítima pela mídia, apontando como Morsi foi “democraticamente” eleito e que o “golpe” do Exército foi um revés maior no processo democrático do país. Eles souberam acionar a imprensa ocidental, que parece transmitir esta versão para a maior parte do mundo. Mas esta não é a versão verdadeira para a maioria da população egípcia.
Enquanto concordamos que a perda de vidas nestes últimos dias foi uma das mais deploráveis, sabemos que não foram apenas adeptos da Irmandade Muçulmana que morreram. Pouco se noticiou sobre as tentativas da Irmandade Muçulmana de desestabilizar o país, de seus convites à violência ao governo e seus apoiadores. Houve uma total falta de divulgação em relação às armas que a Irmandade tinha em seus acampamentos e que usaram contra o Exército, quando este tentou desfazer os acampamentos.
Portanto, posso pedir suas orações para este importante país — o maior no Mundo Árabe, com a maior comunidade cristã do Oriente Médio? Por favor, ore para que:
_________
Dr. Terence Ascott é fundador e diretor-presidente da SAT, uma TV cristã para o Norte da África.
Notas:
1. Artigo publicado no dia 15 de agosto no site da SAT.
2. Traduzido por uma missionária brasileira que vive no Egito, mas que, por questões de segurança, prefere manter-se no anonimato.
Legenda da foto: Crianças oram em igreja incendiada no Egito. Fonte: SAT.
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O filme anti-islâmico e outras ofensas (Paul Freston)
Depois de um longo tratamento de choque, o Egito tornou-se o mais humilde dos reinos
O Deus que eu não entendo (Chris Wright)
Assim, em meu próprio nome, e de Ramez Atallah (Secretário Geral da Sociedade Bíblica do Egito), do pastor Fayes Ishaq (um dos líderes da Igreja Evangélica Kasr Dubaraq), de outros líderes de ministérios no Egito e da liderança do “Middle East Concern”, permita-me, por favor, pintar um quadro mais real do que tem acontecido no último ano, aproximadamente.
Sim, o antigo presidente Mohammed Morsi foi eleito “democraticamente” em junho de 2012, mas pela mais diminuta maioria — apenas 13 milhões de pessoas (de uma população total de 83 milhões) votaram em Morsi. Ainda assim, ele entendeu isso como um mandato para fazer o que quisesse, com uma atitude de “o vencedor leva tudo”. Seu novo governo não foi inclusivo e ele rapidamente designou antigos líderes da Irmandade Muçulmana (alguns sentenciados anteriormente por violência ou incitação à violência) para servir como governadores regionais ou ministros do governo. Em novembro de 2012, ele deu-se a si mesmo, ilegalmente, poderes absolutos para agir sem censura, e apressou a votação de uma nova constituição pró-islâmica, apesar dos protestos e boicotes de liberais, muçulmanos moderados e cristãos — e, então, recusou-se a convocar novas eleições — como havia concordado a fazer depois que uma nova constituição fosse adotada. É claro que a economia foi muito mal administrada pelos novos ministros, cuja única qualificação aparente para o ofício era o fato de serem membros fiéis da Irmandade Muçulmana. No final de 2012, a infraestrutura do país começou a desmoronar, as reservas de energia e combustível tornaram-se instáveis, os preços das “commodities” foram às alturas e o Egito tentava duramente conseguir o tão necessário financiamento internacional.
Em 30 de junho de 2013, no primeiro aniversário da eleição de Morsi à presidência, o povo já não aguentava mais! Aproximadamente 30 milhões de pessoas foram para as ruas protestar contra a continuação de Morsi na presidência — isso incluía mais do que os que votaram em Morsi um ano antes. Mesmo que a cifra de 30 milhões não possa ser independentemente verificada, é claro que o número de pessoas nas ruas era muito maior do que o número de pessoas que votou em Morsi. Mas, diferentemente de presidentes de qualquer outra democracia normal, Morsi recusou-se a sair ou mesmo tentar um novo mandato por meio de novas eleições. Para muitos, esta atitude confirmou que a Irmandade Muçulmana estava apenas usando a nova democracia no Egito para estabelecer uma teocracia.
Numa situação como esta, a última linha de defesa da democracia é o Exército. Apenas este tem o poder de recomeçar o processo e, pela demanda popular e com a devida notificação prévia, o Exército veio a intervir e remover o ex-presidente — para o deleite absoluto e o alívio da maioria do povo.
Nas últimas seis semanas, a Irmandade Muçulmana ocupou vários espaços públicos para fazer manifestações a favor da reinstalação do ex-presidente (atualmente ele está preso pelo Exército e é acusado de abuso de poder, incluindo apoio financeiro e de inteligência significativos ao Hamas). Diferentemente de uma ocupação pacífica como a da Praça Tahrir pelos manifestantes em janeiro de 2011, e, novamente no final de junho de 2013, essas ocupações da Irmandade Muçulmana eram dominadas por incentivos à violência contra o Exército, a polícia, os liberais e, principalmente, contra os cristãos coptas no Egito. Tudo isso resultou na violência testemunhada em 14 de agosto, quando delegacias de polícia, hospitais, propriedades públicas e privadas foram destruídas. Muitas igrejas cristãs (pelo menos 40 até agora), casas e estabelecimentos comerciais também foram atacados, além de um monastério, três sociedades religiosas, três importantes lojas pertencentes à Sociedade Bíblica, três escolas cristãs e um orfanato.
O patriarca copta Tawadros II fez uma declaração sobre os ataques às igrejas nesta semana, dizendo que “isso era esperado e, como cidadãos e cristãos, nós estamos considerando os prédios de nossa igreja como um sacrifício a ser feito pelo nosso amado país”. Outros líderes de igrejas fizeram declarações parecidas, enfatizando que os prédios não fazem a Igreja, mas a Igreja é o Corpo de Cristo, feito de pessoas que têm sua fé nele, e que esta fé está se tornando mais forte à medida que vivencia tempos desafiadores.
É importante e encorajador notar que alguns muçulmanos foram proteger igrejas e que, em retorno, muitos cristãos enviaram mensagens aos seus concidadãos muçulmanos dizendo: “Prédios podem ser reconstruídos, mas vocês são inestimáveis; então, procurem sua própria segurança e não se preocupem com as igrejas”. O governo também anunciou que tomará a responsabilidade financeira sobre si de reconstruir as igrejas danificadas.
A Irmandade Muçulmana foi e permanece eficaz em aparecer como vítima pela mídia, apontando como Morsi foi “democraticamente” eleito e que o “golpe” do Exército foi um revés maior no processo democrático do país. Eles souberam acionar a imprensa ocidental, que parece transmitir esta versão para a maior parte do mundo. Mas esta não é a versão verdadeira para a maioria da população egípcia.
Enquanto concordamos que a perda de vidas nestes últimos dias foi uma das mais deploráveis, sabemos que não foram apenas adeptos da Irmandade Muçulmana que morreram. Pouco se noticiou sobre as tentativas da Irmandade Muçulmana de desestabilizar o país, de seus convites à violência ao governo e seus apoiadores. Houve uma total falta de divulgação em relação às armas que a Irmandade tinha em seus acampamentos e que usaram contra o Exército, quando este tentou desfazer os acampamentos.
Portanto, posso pedir suas orações para este importante país — o maior no Mundo Árabe, com a maior comunidade cristã do Oriente Médio? Por favor, ore para que:
- A atual violência termine logo;
- Uma efetiva prática da lei e da ordem sejam reestabelecidas para o benefício de todos os cidadãos;
- Haja uma efetiva proteção das igrejas e de outras propriedades contra o ataque de extremistas;
- O país seja governado para o benefício de todos os cidadãos, com pessoas de diferentes credos sendo capazes de viver lado a lado pacificamente;
- Os cristãos tenham oportunidade de desempenhar um papel proeminente e eficaz ao aproximar-se das necessidades de todos os cidadãos e ajudar a trazer cura e reconciliação ao país.
_________
Dr. Terence Ascott é fundador e diretor-presidente da SAT, uma TV cristã para o Norte da África.
Notas:
1. Artigo publicado no dia 15 de agosto no site da SAT.
2. Traduzido por uma missionária brasileira que vive no Egito, mas que, por questões de segurança, prefere manter-se no anonimato.
Legenda da foto: Crianças oram em igreja incendiada no Egito. Fonte: SAT.
Leia mais
O filme anti-islâmico e outras ofensas (Paul Freston)
Depois de um longo tratamento de choque, o Egito tornou-se o mais humilde dos reinos
O Deus que eu não entendo (Chris Wright)
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