Opinião
- 13 de março de 2024
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O poderoso Deus de servos inúteis
Por Tábata Mori
Eu tinha acabado de chegar ao Timor-Leste, parte de uma ilha no Pacífico Asiático, que é a segunda região menos alcançada do mundo. Foram dez anos de oração, preparo e espera até chegar ao tão esperado campo missionário e, depois de tanto tempo, o romantismo com relação a missões havia ficado todo pelo caminho. Sim, chegava ao Timor uma missionária realista, madura e bem preparada, pronta para ser usada para toda boa obra.
Mas todo o preparo, embora essencial, não é capaz de substituir a parte prática dos dias de incapacidade, não-adaptação, doença, solidão e a frustração que esses momentos trazem. E não que eu pensasse que eles não existiriam, eu pensava estar totalmente preparada para responder a eles com submissão, santidade e alegria.
Eu disse para o executivo da minha agência que não deve ter nada tão humilhante quanto os primeiros anos de campo missionário. Eu passei sete dos doze primeiros meses doente. Sim, em cima de uma cama ou sem forças para estudar ou trabalhar ou apenas sem poder sair de casa. A cada reunião de equipe, meu pedido era por saúde, cada semana planejada exigia de mim flexibilidade e ajustes – nos quais eu confesso que não sou nada boa!
O que Deus queria de mim? Eu enfim estava no campo e não conseguia ficar duas semanas sem precisar de uma pausa, o que Deus estava fazendo? As respostas para essas perguntas não foram encontradas enquanto trabalhava, mas ao escrever meu relatório e contar as bênçãos.
Com dois meses eu já falava Tétun o suficiente para viajar sozinha, mas não me sentia apta para ensinar. Apesar da minha incapacidade, Deus colocou no meu caminho uma moça que me pediu para ensinar-lhe a Bíblia - eu sempre conto essa história dizendo que “este é o sonho de todo missionário”. E foi assim, com pouco conhecimento linguístico e muito temor, que eu comecei meu ministério de evangelização no Timor ensinando a Fátima na cozinha da pensão onde ela mora. Por nos reunirmos na cozinha, sempre havia quem ouvisse ou pedisse oração no final do estudo, nas minhas anotações, eu escrevi o nome de quase vinte pessoas da pensão com quem orei.
Como não há um curso formal de tétun no Timor-Leste, a partir do terceiro mês, eu comecei a passar alguns dias em Loes a fim de ouvir e falar apenas tétun. Logo na primeira visita, a liderança me convidou para ensinar os irmãos que se reúnem lá e eu tive que pedir que esperassem até que eu aprendesse um pouco mais da língua e da cultura. Um dia antes de completar cinco meses de campo, lá estava eu, com um pouco mais de conhecimento linguístico e o mesmo temor, ensinando na pequena Igreja Presbiteriana em Loes.
O foco do meu trabalho é produção e uso de literatura cristã na língua tétun e eu reforço o nome da língua por dois motivos: muita gente não sabe que o número de falantes de Língua Portuguesa no Timor não deve passar de 5%, e não sabe que a pequena população de 1,3 milhão de habitantes fala 34 línguas, sendo o tétun a língua oficial (ao lado do Português) e majoritária.
Nesse primeiro ano de ministério, Deus me colocou em contato com dez organizações ou pessoas que estavam publicando material em tétun e me tornei provavelmente a primeira colportora do país, visitando treze igrejas - alcançando muitas outras indiretamente -, em quatro estados diferentes. Com ousadia, no final do primeiro ano eu já arriscava a escrever as primeiras linhas em uma língua que eu tinha acabado de aprender.
Eu, pessoalmente, considerei tudo isso fruto da graça de Deus, embora todo meu empenho e disciplina, era muito mais do que eu havia planejado para o primeiro ano. E o fato de eu ter tido apenas cinco meses úteis, torna tudo ainda mais fantástico.
Aquela missionária que chegou ao campo estava no lugar certo, com o pensamento errado, pois eu achava que eu iria fazer na minha força, capacidade e fidelidade, então Deus entrou com poder e provisão, colocando pessoas na minha vida, abrindo portas, mostrando o caminho, para me lembrar de que é Ele quem faz a boa obra. Ao mesmo tempo, Deus me deu meses de inutilidade, problemas gastrointestinais, alergias, pedra na vesícula, cirurgia, para me lembrar de que não sou forte, capaz ou fiel o suficiente.
De todas as coisas, saber que minha fé ou fidelidade era insuficiente, foi mais humilhante que a doença, mas tudo isso foi para que eu soubesse que Ele é Deus e, quanto a glória, não ficasse dúvidas, é todinha dEle.
- Tábata Mori é jornalista, missionária atuando junto à Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT) no Timor-Leste, onde desenvolve o Projeto Baruque, que foca na produção e uso de literatura cristã na Língua Tétun.
REVISTA ULTIMATO | GRATIDÃO – “O QUE VOCÊ TEM QUE NÃO TENHA RECEBIDO?”
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O exercício constante de gratidão pela graça de Deus operando em nós transforma a igreja internamente, desdobra-se em outras virtudes e direciona ações para o mundo. Crentes gratos podem fazer a diferença em larga escala.
Saiba mais:
» Eu, Um Missionário? – Quando o jovem cristão leva a sério o seu chamado, Antonia Leonora van der Meer
» O Discípulo – Um chamado para ser como Cristo, John Stott e Tim Chester
» Esperança que não falha, por Tábata Mori
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