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- 14 de abril de 2021
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O Pentecostes - As imagens do Espírito
Por Marleen Hengelaar-Rookmaaker
Para muitos, o Espírito Santo é a pessoa mais misteriosa da Trindade. Jesus, que se fez homem e após sua ressurreição está presente no céu e na terra, é o mais próximo de nós. Deus é o Pai a quem inadvertidamente descrevemos como um velho sábio que se importa e se preocupa conosco, como um pai amoroso. Mas, e o Espírito Santo?
O Espírito é espiritual e incorpóreo – como poderíamos formar uma imagem dele em nossas mentes? Nos esquecemos, entretanto, que a noção de Deus como um pai também é apenas uma imagem. A primeira pessoa da Trindade é tão espiritual e incorpórea quanto o Espírito Santo. Talvez, de mesmo modo, tenhamos desconsiderado que a Bíblia também nos dá imagens concretas do Espírito de Deus.
Como seres humanos, precisamos de imagens para tornar um Deus celestial compreensível para nós, criaturas terrestres. Através de imagens terrenas quem e como Deus é pode se tornar mais claro. As imagens não são arbitrárias. Uma imagem ou símbolo sempre incorpora elementos daquilo a que se refere. Deus é como um pai, rocha, rochedo, uma galinha para os seus pintinhos. Cada imagem elucida um determinado aspecto de Deus. Da mesma forma, as escrituras nos apresentam imagens para o Espírito: ele é como uma pomba, como o vento, o fogo, a água. Essas ricas imagens podem ressoar em níveis muito mais profundos, além da superfície de nossa alma e espírito. Nesse artigo, refletiremos sobre essas imagens na forma em que aparecem na Bíblia e, de igual modo, na arte, para que comecem a ganhar vida para nós.
A Criação (aves)
Logo no segundo versículo da Bíblia o Espírito faz sua aparição: "Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas." Como um pássaro, Deus voa sobre o caos, sobre um mundo sem forma. O texto literalmente diz: o Espírito de Deus estava aninhado sobre a superfície das águas. O mesmo verbo usado em Deuteronômio 32:11 para uma águia que abre suas asas para proteger. Uma bela imagem: a ave de Deus com suas asas abertas amplamente, planando sobre a terra trazendo proteção e bênção, agitando e pairando, aninhando e criando vida. Da mesma maneira, o Espírito desceu e pairou sobre Maria no início do Novo Testamento, engravidando-a, criando um bebezinho que seria o Salvador do mundo. Segundo Calvino, o Espírito Santo é, em primeiro lugar, caracterizado por seu trabalho criativo e re-criativo. Ele expulsa as trevas e a morte, e cria nova vida. Não somente há muito tempo no início do mundo, não só no início da redenção do mundo, mas também agora, enquanto ele paira sobre a superfície dos nossos corações.
O Espírito dos Descendentes (pomba ou pombo)
Quando pensamos em uma ave em relação ao Espírito Santo, provavelmente a pomba será a primeira a vir à mente. Os Evangelhos nos contam que quando Cristo foi batizado no rio Jordão, o Espírito desceu sobre ele "como uma pomba". Algo "como uma pomba" tornou o Espírito invisível visível para nós, seres humanos. Essa "pomba" que desceu também deixa claro que o Espírito vem de cima, que ele desceu do reino celestial para pousar em Jesus.
Costumamos imaginar essa pomba como uma pomba branca, sendo um modelo de pureza, majestade e graciosidade. É muito mais provável, no entanto, que esse pássaro fosse, na verdade, um pombo bem comum, cinza com um pescoço verde e violeta iridescente, o ancestral do pombo que estamos familiarizados. Se considerarmos isso, nossa imagem do Espírito Santo pode ser um tanto quanto alterada. Além disso, pode ser enriquecida. O pombo não é uma ave rara. Os pombos, de fato, estão presentes em todos os bairros, ao redor de todos nós, vivendo no meio da sujeira e da desordem da vida humana. Eles vivem onde nós vivemos. Eles são tão prolíficos que com frequência paramos para observá-los. Ocasionalmente, nossos ouvidos se abrem para o seu arrulho gentil nas árvores ao redor de nossas casas, onde os casais de pombos se aconchegam bem juntinhos como um protótipo do verdadeiro amor. Eles são parceiros para toda a vida, mantendo-se fiéis aos seus pares. Também são bastante férteis, gerando até 12 ninhadas de pombinhos por ano. Porém, nem todos são tão encantados por essas gentis criaturas. Alguns os consideram como ratos com asas, pois poluem nossos parques e varandas. Outros podem até querer atirar neles, tentar espantá-los para longe e extingui-los - tal qual, às vezes, extinguimos o Espírito. Assim como estas aves tenazes, contudo, o Espírito também continuará retornando para nós.
Imagem 1 (criador desconhecido) mostra como uma pomba com fogo e vento, em seu despertar, paira sobre a escuridão e desce à sombria pecaminosidade do mundo e do coração humano.
A pomba, como uma imagem do Espírito Santo, pode ser encontrada com frequência na arte desde a Arte Cristã Primitiva em diante: primeiramente, em retratações do Batismo de Cristo e deste mesmo modo em representações da Anunciação, da Trindade e do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes. A pomba também se tornara um símbolo de esperança e paz, mas isso se baseia na pomba que voou de volta a Noé com um galho em seu bico como um sinal de esperança e de uma nova vida em paz com Deus. A pomba da paz, logo, não é a mesma que a pomba do Espírito, apesar de - obviamente - não estarmos errados quando associamos a paz, um dos frutos do Espírito, ao Espírito.
O Poder da Vida (vento)
Jesus oferece o vento com uma imagem do Espírito para nós quando, em seu diálogo com Nicodemos, compara as pessoas que são nascidas do Espírito com o vento: você o escuta, mas não sabe de onde vem nem para onde vai (John 3:7-8). O Espírito e a obra do Espírito sempre permanecem para nós, em grande parte, sendo misteriosos e imprevisíveis. Ainda assim, é mentira que tudo o que é feito pelo Espírito passa completamente desapercebido por nós. Em Hebreus, a palavra para espírito/Espírito simplesmente significa "vento", "ar" ou "fôlego". Apesar do vento e do ar serem invisíveis a nós, podemos sentir e ver ou ouvir o que podem fazer ou realizar: nossos pulmões enchendo-se deles para que possamos viver, folhas movendo-se nas árvores, um barco acelerando entre as ondas com o vento em suas velas, as velas do moinho de vento subindo e descendo para prover a farinha para o nosso pão diário, o som da música conforme o vento flui pelos tubos sonoros. O vento/ar/fôlego invisível de Deus age visivelmente sobre o nosso mundo.
Quando comparamos o Espírito com o nosso fôlego, como os israelitas faziam, torna-se evidente que ele é a nossa força primária de vida. Ele está em nós e nos dá vida, assim como o nosso fôlego. A imagem do vento aponta para o poder de Deus. O Espírito pode ser como uma tempestade soprando tudo de ponta cabeça, girando tudo ao seu redor. O Espírito é como um vento selvagem. O Espírito de Deus é dinâmico. Ele é o agente do movimento. Ele sopra em situações sem futuro e abre novos caminhos de possibilidades. Ele sopra e nos liberta dos lugares onde estamos empacados e aprisionados. Ele nos ajuda a dar pequenos passos em novas direções, a mover e reviver, crescer e florescer. Esse aspecto do Espírito é retratado adequadamente na arte Pentecost Window (Janela do Pentecostes) por Georg Meistermann em Marburgo, Alemanha (imagem 2). As seis pilastras verticais com pequenos círculos verticais no topo parecem pessoas, com um vento feroz soprando em seus seres interiores.
Imagem 2: Georg Meistermann: Pentecost Window (Janela do Pentecostes), 1963, na Igreja de Santa Isabel, em Marburgo, Alemanha. © Bernhard Dietrich, Elisabethkirche Marburg.
Purificação (fogo)
Os seis pilares na janela também nos lembram os discípulos com línguas de fogo sobre suas cabeças no Pentecostes. Isso nos leva a próxima imagem do Espírito Santo: o fogo. No Pentecostes, as línguas de fogo serviram, primeiramente, para tornar o invisível visível. Elas deixam claro que os discípulos foram cheios com o Espírito Santo. No Antigo Testamento, o fogo, em geral, indica a majestade de Deus. O Monte Sinai foi coberto por fumaça "pois o Senhor tinha descido sobre ele em chamas de fogo" (Êxodo 19:18). O fogo nos enche de admiração, pois o seu ardor é insuportável, sendo capaz de se alastrar impetuosamente e causar uma enorme destruição.
As chamas nas cabeças dos discípulos, entretanto, podem trazer à mente o fogo que incendiou a sarça ardente. No passado, esse arbusto fumegante era muitas vezes entendido como um símbolo para Israel e os cristãos: Deus acende um fogo em nós, ele nos purifica e santifica, mas não nos consome, pois é um Deus cheio de graça. O Espírito queima tudo o que há de errado em nós. Ele nos transforma, nos recria. Onde havia o mal, ele nos incendeia com sua ternura e amor, nos tornando entusiastas (literalmente cheios de Deus), cheios de fervor e ardor. A respeito disso, os discípulos de Georg Meistermann com suas cabeças fumegantes, podem nos lembrar de velas. Eles são "pessoas-vela", espalhando a luz e o ardor de Deus, pois o Espírito habita neles. Também encontramos uma excelente imagem de pessoas cheias de fogo na aquarela de Roeli Willekes (imagem 3).
Imagem 3: Roeli Willekes: Invocabit (O Domingo da Quaresma).
Crescimento (água)
Outra imagem para o espírito de Deus é a água. A água é - assim como o fogo - uma imagem da obra purificadora do Espírito. A água do batismo simboliza a limpeza de todos os nossos pecados. No batismo, nascemos de novo, somos dotados de uma nova vida.
João 4 diz que Deus deseja nos dar a água viva que "se tornará uma fonte de água a jorrar para a vida eterna". Vida eterna - a verdadeira vida, ou seja, uma vida restaurada. "Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva", é o que lemos em João 7:38 - água em abundância, isto é, que se move, flui, borbulha e transborda, jorrando para cima como uma boa fonte.
A água também é capaz de trazer à vida uma terra seca, até mesmo a terra infrutífera que há dentro de nós. A água concede fertilidade e crescimento. "Pois estou prestes a realizar algo novo. Vejam, já comecei! Não percebem? Abrirei um caminho no meio do deserto, farei rios na terra seca" (Isaías 43:19).
O Fruto do Espírito
Diante dessas imagens do Espírito - a ave, a pomba, o vento, o fogo, a água - fica claro que a presença do Espírito em nós, nos transformará. Ele nos fará avançar, purificará e dará vida nova. Ao menos, se cooperarmos e formos sinceros com ele. Essa transformação, que percebi em minha própria vida e na vida de outras pessoas, não é algo automático. O Espírito não é um mágico divino que espanta todos os nossos impulsos corrompidos e fraquezas em um piscar de olhos, mesmo tendo poder para fazer coisas grandiosas e miraculosas. Do mesmo modo, temos que dar tudo de nós, ora et labora, orar e trabalhar.
É um pouco irônico que o Espírito, que é, em geral, considerado o mais espiritual das três pessoas da Trindade, pareça ser, na verdade, aquele que é o mais orientado ao material. O Espírito do Criador estava muito ativo na criação. Ele fez o vazio sombrio gerar vida. O primeiro humano mencionado na Bíblia como sendo cheio pelo Espírito foi, na realidade, um artesão ou artista. "O Senhor disse a Moisés: “Veja, escolhi especificamente Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, da tribo de Judá. Enchi-o do Espírito de Deus e lhe dei grande sabedoria, habilidade e perícia para trabalhos artísticos de todo tipo. Ele é exímio artesão, perito no trabalho com ouro, prata e bronze. Tem aptidão para gravar e encravar pedras preciosas e entalhar madeira. É mestre em todo trabalho artístico" (Êxodo 31:1-5). A criatividade é a marca do Espírito, nos ajudando a também sermos criadores, a formar coisas novas e belas a partir da matéria.
De igual modo, o Espírito Santo está nos moldando em algo lindo. O Espírito Re-criador está gerando nova vida em nós. A imagem do fruto do Espírito deixa claro que ele não permanece escondido ou invisível, mas podemos realmente notar esses frutos de amor, paciência e paz crescendo em nós e entre nós. E esses frutos do Espírito, em sua época, produzirão frutos visíveis de ações de graças e amor. O agir do Espírito é agora. Cristo morreu por nós e ressuscitou, abrindo o caminho para uma nova vida em comunhão com Deus. Mas o Espírito nos ajuda a avançar, a crescer em amor, a nos tornarmos o que fomos criados para ser, a sermos como seremos.
• Marleen Hengelaar-Rookmaaker é chefe de redação da ArtWay. Ela tem um doutorado cum lade em musicologia pela Universidade de Amsterdã, nos Países Baixos. Por muitos anos trabalhou como editora, tradutora e escritora. Editou o título "The Complete Works" de seu pai, o historiador de artes Hans Rookmaaker, e produziu a revista LEV para a L"Abri holandesa. Escreveu vastamente sobre música popular, liturgia e artes visuais. É casada e tem três filhos crescidos.
Traduzido por Gabrielle Costa de Jesus Lourenço.
--
Nota da autora
1. Pela análise da imagem do pombo, dou os créditos a Debbie Blue: Consider the Birds. A Provocative Guide to Birds of the Bible, Editora Abingdon – Nashville, 2013.
Créditos das imagens
Traduzido por Gabrielle Costa de Jesus Lourenço.
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Nota da autora
1. Pela análise da imagem do pombo, dou os créditos a Debbie Blue: Consider the Birds. A Provocative Guide to Birds of the Bible, Editora Abingdon – Nashville, 2013.
Créditos das imagens
Imagem 1 (criador desconhecido) mostra como uma pomba com fogo e vento, em seu despertar, paira sobre a escuridão e desce à sombria pecaminosidade do mundo e do coração humano.
Imagem 2: Georg Meistermann: Pentecost Window (Janela do Pentecostes), 1963, na Igreja de Santa Isabel, em Marburgo, Alemanha. © Bernhard Dietrich, Elisabethkirche Marburg
Imagem 3: Roeli Willekes: Invocabit (O Domingo da Quaresma).
>> Confira a edição de março/abril da revista Ultimato: Saudades do Pentecostes
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