Prateleira
- 05 de abril de 2007
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O Jesus do evangelho não é mártir!
A propósito da Semana Santa e das sombrias procissões espalhadas pelo país, instaladas por aqui desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, ilustre cavaleiro da Ordem de Cristo, Ultimatoonline coloca na Prateleira três artigos especiais.
O terceiro artigo, “O Jesus do Evangelho não é mártir”, enfatiza a verdadeira identidade do Filho de Deus, cuja morte foi voluntária, em sacrifício pelo pecado humano.
Elbén César
Jesus não pode ser colocado ao lado de João Batista, de Estevão nem de Tiago, que foram mortos por suas crenças e pregações. Não pode ser colocado ao lado de Policarpo, daqueles sete homens e cinco mulheres do norte da África, daqueles 222 missionários cristãos da China e da Coréia nem daqueles 26 religiosos da Espanha, que perderam a vida por sua fidelidade ao evangelho. Não pode ser colocado ao lado de todos que têm morrido nestes últimos anos por causa de sua posição contrária à discriminação e à opressão, como Mahatma Gandhi, assassinado em 1948, aos 79 anos, e Martin Luther King, morto em 1968, aos 39 anos.
Precisamos corrigir imediatamente qualquer discurso e qualquer música que ainda chamem Jesus de mártir, como aquela que diz que “Ele veio ao mundo pra ser mártir da paz”.
Mártir é aquele cuja morte é imposta de modo irreversível por religiosos, autoridades e indivíduos de crenças opostas e intolerantes. O mártir só escapa da morte se voltar atrás e negar sua fé, nem que seja no último instante da vida, à semelhança de André la Fon, aquele alfaiate calvinista que foi poupado por Nicolau Durand de Villegaignon de ser estrangulado e jogado na Baía de Guanabara, em fevereiro de 1558.
É irreverência e heresia chamar Jesus de mártir. Esse infeliz procedimento diminui a sua glória e confunde tudo. O próprio Jesus Cristo deixou claro várias vezes que Ele não seria morto por vontade seja lá de quem fosse. O texto mais contundente é aquele em que Ele afirma categoricamente: “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade. Tenho o direito de dar e de tornar a recebê-la. Foi isto o que meu Pai me mandou fazer” (Jo 10.17-18, BLH). A morte de Jesus é uma doação, como Ele mesmo declarou: “Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida por suas ovelhas” (Jo 10.11, BJ).
Jesus sempre correu risco de vida, mas nunca morreu, senão quando Ele mesmo “derramou a sua alma na morte” (Is 53.12). Livrou-se de todas as tentativas de morte que lhe armavam, a começar com a de Herodes, o Grande, que mandou matar todas as crianças do sexo masculino de idade inferior a 2 anos residentes em Belém e seus arredores, na certeza de que uma delas seria o recém-nascido menino Jesus (Mt 2.13-18). A essa altura, a criança já estava no Egito. Em outra ocasião, só porque Jesus informou que era anterior a Abraão, os judeus “apanharam pedras para atirar nele, mas Jesus ocultou-se e saiu do templo” (Jo 8.59).
A história é coerente o tempo todo. Em um momento de angústia, semelhante ao outro que teria pouco depois no Getsêmani, Jesus desabafa: “Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não; eu vim exatamente para isto, para esta hora” (Jo 12.27). E, quando chega a hora de dar sua vida pelas ovelhas, Jesus não foge, não se esconde, não se oculta, não recorre a milagre algum, não pede ao Pai o concurso de legiões de anjos nem permite que Pedro faça uso da espada (Mt 26.47-54). Agora, apenas agora, Ele deixa as coisas acontecerem naturalmente. E ainda corrige Pilatos, quando este presunçosa e ignorantemente lhe dirige a seguinte ameaça: “Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder para te crucificar?” (Jo 19.10). A resposta de Jesus é imediata e explícita: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.11).
Jesus não é mártir porque a morte dele foi voluntária. Ele tinha completa liberdade diante da morte.
A morte espontânea de Jesus tornou-se necessária por causa do pecado. Ele tomou livremente sobre si o pecado de muitos (Is 53.5-12) e tornou-se, então, culpado de pecado. É como muito bem explica Paulo: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado [Jesus], para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Co 5.21, NVI). Em outras palavras, “Deus tornou Cristo solidário com o gênero humano pecador, a fim de tornar os homens solidários com a sua obediência e a sua justiça” (A Bíblia de Jerusalém, p. 1.513).
Aí está a base do perdão, da justificação, da nossa paz com Deus. A salvação é gratuita para aquele que crê e se beneficia do sacrifício de Jesus, mas não é gratuita para Ele. Daí a lembrança de Pedro: “Vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata e ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e defeito” (1 Pe 1.18-19). Pode parecer muito estranho, mas, na verdade, Jesus foi castigado em nosso lugar. Tanto o profeta Isaías como o apóstolo Paulo, cada um a seu tempo, asseveram a mesma coisa. O primeiro, sete séculos antes de Cristo, explica que “O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre Ele, sim, por suas feridas fomos curados” (Is 53.5, BJ). O segundo, alguns anos depois de Cristo, argumenta: “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará, juntamente com Ele, gratuitamente todas as coisas?” (Rm 8.32, NVI). Agora é mais fácil entender o brado de Jesus na cruz, citado por Mateus (27.46) e Marcos (15.34): “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Quem considera Jesus um mártir é obrigado a reduzi-lo a um personagem simplesmente histórico, sem nenhum traço de divindade. Nesse caso, Jesus nasceu de Maria e José ou outro homem qualquer. Não é o Jesus do Evangelho e de todas as Escrituras Sagradas. Não é o Verbo feito carne, cheio de graça e de verdade. Não é o Agnus Dei, de que fala João Batista (Jo 1.29). Não é o Ressuscitado. Nem tampouco aquele que foi assunto ao céu, onde se encontra à direita de Deus. Também não é o Jesus de que todos precisávamos, já que “é impossível que sangue de touros e bodes tire pecados” (Hb 10.4).
É bom que fique terminantemente assentado: o Jesus do Evangelho, o Jesus propriamente dito, o Jesus original não é e nunca foi mártir. O clero católico, ortodoxo e protestante precisa instruir o povo a este respeito, repetidas vezes, com convicção e autoridade, até acabar por completo com essa idéia popular de um Jesus mártir!
(Publicado na edição 263 de Ultimato)
Leia o que Ultimato publicou sobre o assunto
• Não estamos de luto, edição n. 287
• Cruz vazada, mas não esvaziada!, edição n. 305
Leia o livro
• Cristianismo Básico, John Sttot
• A Pessoa Mais Importante do Mundo, Elben César
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O terceiro artigo, “O Jesus do Evangelho não é mártir”, enfatiza a verdadeira identidade do Filho de Deus, cuja morte foi voluntária, em sacrifício pelo pecado humano.
Elbén César
Jesus não pode ser colocado ao lado de João Batista, de Estevão nem de Tiago, que foram mortos por suas crenças e pregações. Não pode ser colocado ao lado de Policarpo, daqueles sete homens e cinco mulheres do norte da África, daqueles 222 missionários cristãos da China e da Coréia nem daqueles 26 religiosos da Espanha, que perderam a vida por sua fidelidade ao evangelho. Não pode ser colocado ao lado de todos que têm morrido nestes últimos anos por causa de sua posição contrária à discriminação e à opressão, como Mahatma Gandhi, assassinado em 1948, aos 79 anos, e Martin Luther King, morto em 1968, aos 39 anos.
Precisamos corrigir imediatamente qualquer discurso e qualquer música que ainda chamem Jesus de mártir, como aquela que diz que “Ele veio ao mundo pra ser mártir da paz”.
Mártir é aquele cuja morte é imposta de modo irreversível por religiosos, autoridades e indivíduos de crenças opostas e intolerantes. O mártir só escapa da morte se voltar atrás e negar sua fé, nem que seja no último instante da vida, à semelhança de André la Fon, aquele alfaiate calvinista que foi poupado por Nicolau Durand de Villegaignon de ser estrangulado e jogado na Baía de Guanabara, em fevereiro de 1558.
É irreverência e heresia chamar Jesus de mártir. Esse infeliz procedimento diminui a sua glória e confunde tudo. O próprio Jesus Cristo deixou claro várias vezes que Ele não seria morto por vontade seja lá de quem fosse. O texto mais contundente é aquele em que Ele afirma categoricamente: “Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade. Tenho o direito de dar e de tornar a recebê-la. Foi isto o que meu Pai me mandou fazer” (Jo 10.17-18, BLH). A morte de Jesus é uma doação, como Ele mesmo declarou: “Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida por suas ovelhas” (Jo 10.11, BJ).
Jesus sempre correu risco de vida, mas nunca morreu, senão quando Ele mesmo “derramou a sua alma na morte” (Is 53.12). Livrou-se de todas as tentativas de morte que lhe armavam, a começar com a de Herodes, o Grande, que mandou matar todas as crianças do sexo masculino de idade inferior a 2 anos residentes em Belém e seus arredores, na certeza de que uma delas seria o recém-nascido menino Jesus (Mt 2.13-18). A essa altura, a criança já estava no Egito. Em outra ocasião, só porque Jesus informou que era anterior a Abraão, os judeus “apanharam pedras para atirar nele, mas Jesus ocultou-se e saiu do templo” (Jo 8.59).
A história é coerente o tempo todo. Em um momento de angústia, semelhante ao outro que teria pouco depois no Getsêmani, Jesus desabafa: “Agora meu coração está perturbado, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não; eu vim exatamente para isto, para esta hora” (Jo 12.27). E, quando chega a hora de dar sua vida pelas ovelhas, Jesus não foge, não se esconde, não se oculta, não recorre a milagre algum, não pede ao Pai o concurso de legiões de anjos nem permite que Pedro faça uso da espada (Mt 26.47-54). Agora, apenas agora, Ele deixa as coisas acontecerem naturalmente. E ainda corrige Pilatos, quando este presunçosa e ignorantemente lhe dirige a seguinte ameaça: “Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder para te crucificar?” (Jo 19.10). A resposta de Jesus é imediata e explícita: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.11).
Jesus não é mártir porque a morte dele foi voluntária. Ele tinha completa liberdade diante da morte.
A morte espontânea de Jesus tornou-se necessária por causa do pecado. Ele tomou livremente sobre si o pecado de muitos (Is 53.5-12) e tornou-se, então, culpado de pecado. É como muito bem explica Paulo: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado [Jesus], para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Co 5.21, NVI). Em outras palavras, “Deus tornou Cristo solidário com o gênero humano pecador, a fim de tornar os homens solidários com a sua obediência e a sua justiça” (A Bíblia de Jerusalém, p. 1.513).
Aí está a base do perdão, da justificação, da nossa paz com Deus. A salvação é gratuita para aquele que crê e se beneficia do sacrifício de Jesus, mas não é gratuita para Ele. Daí a lembrança de Pedro: “Vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata e ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver que lhes foi transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e defeito” (1 Pe 1.18-19). Pode parecer muito estranho, mas, na verdade, Jesus foi castigado em nosso lugar. Tanto o profeta Isaías como o apóstolo Paulo, cada um a seu tempo, asseveram a mesma coisa. O primeiro, sete séculos antes de Cristo, explica que “O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre Ele, sim, por suas feridas fomos curados” (Is 53.5, BJ). O segundo, alguns anos depois de Cristo, argumenta: “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará, juntamente com Ele, gratuitamente todas as coisas?” (Rm 8.32, NVI). Agora é mais fácil entender o brado de Jesus na cruz, citado por Mateus (27.46) e Marcos (15.34): “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Quem considera Jesus um mártir é obrigado a reduzi-lo a um personagem simplesmente histórico, sem nenhum traço de divindade. Nesse caso, Jesus nasceu de Maria e José ou outro homem qualquer. Não é o Jesus do Evangelho e de todas as Escrituras Sagradas. Não é o Verbo feito carne, cheio de graça e de verdade. Não é o Agnus Dei, de que fala João Batista (Jo 1.29). Não é o Ressuscitado. Nem tampouco aquele que foi assunto ao céu, onde se encontra à direita de Deus. Também não é o Jesus de que todos precisávamos, já que “é impossível que sangue de touros e bodes tire pecados” (Hb 10.4).
É bom que fique terminantemente assentado: o Jesus do Evangelho, o Jesus propriamente dito, o Jesus original não é e nunca foi mártir. O clero católico, ortodoxo e protestante precisa instruir o povo a este respeito, repetidas vezes, com convicção e autoridade, até acabar por completo com essa idéia popular de um Jesus mártir!
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