Opinião
- 16 de outubro de 2006
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O entretenimento e o mercado religioso
FoxFaith: os vendilhões do templo e o evangelista
Robson Ramos
A edição da revista Veja de 11 de outubro traz uma matéria sobre o lançamento do estúdio FoxFaith, ligado ao império global de comunicações News Corporation, de propriedade do australiano Rupert Murdoch.
O estúdio FoxFaith produzirá filmes voltados para os evangélicos americanos, que costumam rejeitar e até mesmo boicotar filmes de Hollywood, normalmente recheados de palavrões, sexo, homossexualismo e outros comportamentos tidos por esse segmento (o dos evangélicos) como ofensivos à família e aos bons costumes.
Na verdade trata-se de um grande filão do mercado, e o Murdoch está atrás do lucro. Se o interesse da News Corporation fosse realmente o de promover valores defendidos pelos evangélicos americanos, começaria, por exemplo, tirando do ar a programação adulta dos seus canais de TV a cabo ou via satélite, como a DirecTV, por exemplo, também pertencente à News Corporation. Se alguém se interessar por esse assunto basta fazer uma pesquisa (em inglês) na Internet.
Por outro lado, se os evangélicos americanos e brasileiros quisessem seguir o exemplo de Jesus quando este foi ao templo em Jerusalém, conforme relato no capítulo 21 do Evangelho segundo Mateus, poderiam começar com uma minuciosa busca no Google para perceberem a abrangência dos tentáculos desse império.
Causará surpresa a muitos descobrir que a FoxFaith é apenas a ponta do iceberg de um império bilionário já muito bem alimentado com vultuosos lucros obtidos no mercado evangélico nos Estados Unidos, no Brasil e América Latina. Segundo a matéria da Veja, assinada pela jornalista Isabela Boscov, o mercado de entretenimento cristão movimenta, a cada ano, 4,3 bilhões de dólares entre os americanos. Até recentemente a Editora Vida, historicamente identificada com as Assembléias de Deus e para a qual os direitos de uso comercial da Bíblia NVI – Nova Versão Internacional foram passados, era o braço editorial do império Murdoch no Brasil.
A invasão do templo e conseqüente transformação da Igreja em mero espaço de comercialização do sagrado, protagonizada por pastores, líderes e executivos de empresas e corporações tidas como evangélicas, me faz lembrar a reação do profeta Isaías diante da besteira feita pelo rei Ezequias por ter recebido em seu palácio os mensageiros e presentes enviados pelo rei da Babilônia, conforme relato bíblico em 2 Reis 20.12-18.
Ezequias deve ter ficado impressionado e lisonjeado com toda aquela atenção que estava recebendo de uma figura tão poderosa e confiou cegamente nas credenciais, apresentação pessoal e no discurso daqueles indivíduos. Eles caiu na jogada dos “executivos” babilônicos e mostrou-lhes absolutamente tudo, todos os tesouros, que havia em seu palácio. Nessa hora os presentes que o rei da Babilônia lhe enviou também devem ter feito uma diferença. Afinal, como dizem os próprios americanos, “money talks” (“dinheiro fala”, no sentido de convencer e fazer a diferença numa negociação). Além disso, competentes e ágeis que eram, os executivos babilônicos já deviam ter prontos em suas pastas os contratos de acordo comercial para serem assinados pelo rei Ezequias, que, aparentemente, deve ter assinado tudo sem resistência.
Quando ficou sabendo disso o profeta Isaías ficou indignado com o rei Ezequias por tamanha ingenuidade, por não ter se dado conta de que a agenda daqueles mensageiros era outra. Mas já era tarde.
Na condição de profeta do Deus Altíssimo, Isaías não usou de meias palavras quando disse ao rei Ezequias:
Ouça a palavra do Senhor: “um dia, tudo o que se encontra em seu palácio, bem como tudo o que os seus antepassados acumularam até hoje, será levado para a Babilônia. Nada restará”, diz o Senhor. “Alguns dos seus próprios descendentes serão levados, e eles se tornarão eunucos no palácio do rei da Babilônia.”
Será que ainda há tempo para os Cristãos, Evangélicos e Católicos, voltarem atrás antes de se tornarem eunucos no palácio do rei da Babilônia dos tempos atuais? Ou será que alguns já não viraram eunucos e estejam aproveitando das benesses nos palácios babilônicos do mundo globalizado em que vivemos? Mesmo que alguns, ou muitos, já tenham ido para o lado de lá, ainda há tempo e oportunidade para uma tomada de posição antes que, como sugere a jornalista Isabela Boscov, Murdoch se torne o próximo grande evangelista.
Robson Ramos é bacharel em teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo e mestre em Estudos do Novo Testamento pelo Pittsburgh Theological Seminary, em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA. É autor de Evangelização no Mercado Pós-Moderno.
Acesse o blog do autor: www.mateus21.com.br
Robson Ramos
A edição da revista Veja de 11 de outubro traz uma matéria sobre o lançamento do estúdio FoxFaith, ligado ao império global de comunicações News Corporation, de propriedade do australiano Rupert Murdoch.
O estúdio FoxFaith produzirá filmes voltados para os evangélicos americanos, que costumam rejeitar e até mesmo boicotar filmes de Hollywood, normalmente recheados de palavrões, sexo, homossexualismo e outros comportamentos tidos por esse segmento (o dos evangélicos) como ofensivos à família e aos bons costumes.
Na verdade trata-se de um grande filão do mercado, e o Murdoch está atrás do lucro. Se o interesse da News Corporation fosse realmente o de promover valores defendidos pelos evangélicos americanos, começaria, por exemplo, tirando do ar a programação adulta dos seus canais de TV a cabo ou via satélite, como a DirecTV, por exemplo, também pertencente à News Corporation. Se alguém se interessar por esse assunto basta fazer uma pesquisa (em inglês) na Internet.
Por outro lado, se os evangélicos americanos e brasileiros quisessem seguir o exemplo de Jesus quando este foi ao templo em Jerusalém, conforme relato no capítulo 21 do Evangelho segundo Mateus, poderiam começar com uma minuciosa busca no Google para perceberem a abrangência dos tentáculos desse império.
Causará surpresa a muitos descobrir que a FoxFaith é apenas a ponta do iceberg de um império bilionário já muito bem alimentado com vultuosos lucros obtidos no mercado evangélico nos Estados Unidos, no Brasil e América Latina. Segundo a matéria da Veja, assinada pela jornalista Isabela Boscov, o mercado de entretenimento cristão movimenta, a cada ano, 4,3 bilhões de dólares entre os americanos. Até recentemente a Editora Vida, historicamente identificada com as Assembléias de Deus e para a qual os direitos de uso comercial da Bíblia NVI – Nova Versão Internacional foram passados, era o braço editorial do império Murdoch no Brasil.
A invasão do templo e conseqüente transformação da Igreja em mero espaço de comercialização do sagrado, protagonizada por pastores, líderes e executivos de empresas e corporações tidas como evangélicas, me faz lembrar a reação do profeta Isaías diante da besteira feita pelo rei Ezequias por ter recebido em seu palácio os mensageiros e presentes enviados pelo rei da Babilônia, conforme relato bíblico em 2 Reis 20.12-18.
Ezequias deve ter ficado impressionado e lisonjeado com toda aquela atenção que estava recebendo de uma figura tão poderosa e confiou cegamente nas credenciais, apresentação pessoal e no discurso daqueles indivíduos. Eles caiu na jogada dos “executivos” babilônicos e mostrou-lhes absolutamente tudo, todos os tesouros, que havia em seu palácio. Nessa hora os presentes que o rei da Babilônia lhe enviou também devem ter feito uma diferença. Afinal, como dizem os próprios americanos, “money talks” (“dinheiro fala”, no sentido de convencer e fazer a diferença numa negociação). Além disso, competentes e ágeis que eram, os executivos babilônicos já deviam ter prontos em suas pastas os contratos de acordo comercial para serem assinados pelo rei Ezequias, que, aparentemente, deve ter assinado tudo sem resistência.
Quando ficou sabendo disso o profeta Isaías ficou indignado com o rei Ezequias por tamanha ingenuidade, por não ter se dado conta de que a agenda daqueles mensageiros era outra. Mas já era tarde.
Na condição de profeta do Deus Altíssimo, Isaías não usou de meias palavras quando disse ao rei Ezequias:
Ouça a palavra do Senhor: “um dia, tudo o que se encontra em seu palácio, bem como tudo o que os seus antepassados acumularam até hoje, será levado para a Babilônia. Nada restará”, diz o Senhor. “Alguns dos seus próprios descendentes serão levados, e eles se tornarão eunucos no palácio do rei da Babilônia.”
Será que ainda há tempo para os Cristãos, Evangélicos e Católicos, voltarem atrás antes de se tornarem eunucos no palácio do rei da Babilônia dos tempos atuais? Ou será que alguns já não viraram eunucos e estejam aproveitando das benesses nos palácios babilônicos do mundo globalizado em que vivemos? Mesmo que alguns, ou muitos, já tenham ido para o lado de lá, ainda há tempo e oportunidade para uma tomada de posição antes que, como sugere a jornalista Isabela Boscov, Murdoch se torne o próximo grande evangelista.
Robson Ramos é bacharel em teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo e mestre em Estudos do Novo Testamento pelo Pittsburgh Theological Seminary, em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA. É autor de Evangelização no Mercado Pós-Moderno.
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