Opinião
- 21 de junho de 2012
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Napoleão sem filtro
Napoleão Bonaparte, o quase invincível imperador francês, foi finalmente derrotado na batalha de Waterloo, na Bélgica (1815). Para que não mais fizesse guerras no continente europeu, ele foi banido sob domínio inglês para a pequena ilha de Santa Helena no Oceano Atlântico entre África e América do Sul. Ali faleceu seis anos depois, aos 52 anos de idade. Geralmente se pensa que a causa da sua morte era um câncer de estômago. Por outro lado, desde que em alguns tufos de cabelo guardados foram localizados um alto grau de arsênico (usado para exterminar ratos, já que havia muitos, como na ilha de Fernando de Noronha), surgiu a ideia de que Napoleão tivesse morrido por envenenamento proposital. Mas isto não é muito provável. Muito mais provável é que ele faleceu por intoxicação lenta não intencional. É que a casa de exílio onde morava, havia papel pintado verde nas paredes, inclusive na sala de banho. Naquele tempo se usava arsênico na preparação de tinta verde. Considerando que a umidade na ilha causava fungos na casa e, sem dúvida, mormente naquela salinha de banho, é bem mais provável que o ex-imperador, que usava banhos longos, sem saber, respirava o veneno que finalmente o intoxicaria, levando-o à morte precoce.
A história da cultura conhece tempos de ar mais puro e outros de neblinas tóxicas. Esses gases podem afetar qualquer área da vida. Pensando na política, quanto mais concentração de poder, mais sufocante o ar, como debaixo do nazismo e do comunismo (por isso o Rev. Heinz Neuman disse que não fazia muita diferença ser mordido pelo esquerdo ou pelo direito, e que a opção melhor era ainda a democracia, embora um pouco cambaleante). Também na metereologia, mormente as grandes cidades sofrem dessas neblinas, como o temido ‘fog’ de Londres e atualmente metrópoles na China, obrigando seus habitantes a usarem capinhas na boca e no nariz. Essas cidades sofrem também de fumos tóxicos sociológicos, e não é de estranhar que Bismarck considerava cidades como úlceras da sociedade. Quanto à higiene, às vezes, a neblina é de cheiro ruim, outras a poluição é quase imperceptível, mas sempre danosa para a saúde. Durante a guerra, a ameaça real do uso de gases tóxicos levou meu pai a comprar máscaras para toda a família, muito feias e apertadas, mas com filtros eficientes.
Infelizmente, muitas vezes nem percebemos como o ar atual é poluído espiritualmente e que precisamos de máscaras contra gás para não sermos pouco a pouco envenenados com as tendências relativistas e amorais da nossa época. Vamos usar o filtro da fiel Palavra de Deus para nos proteger contra “toda sorte de impureza. Pois não foi assim que aprendemos a Cristo” (Ef 4.20). Parece que esse ar moderno não cheira tão mal, mas ele pode derrubar até um imperador sem filtro. Quem pensa estar em pé, veja que não caia (1Cor 10.12).
Francisco Leonardo Schalkwijk mora na Holanda com sua esposa Margarida, com quem serviu como missionário no Brasil por quase 40 anos. É doutor em história e pastor emérito da Igreja Evangélica Reformada. É autor de Confissão de Um Peregrino, "Igreja e Estado no Brasil Holandês, 1630 - 1654" e da gramática grega Coine.
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