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- 22 de janeiro de 2020
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Minha amizade com Carmem – uma trabalhadora migrante hispânica rural nos EUA
Um Dia de Cada Vez
Por Neiva Garcia
Gosto muito do ditado que diz: “Coce onde está coçando!”. Usei esta expressão em uma conversa com um bibliotecário em estilo cowboy que me contratou para um trabalho de algumas horas semanais na biblioteca pública de uma cidade rural e pequena no norte do estado de Washington. “É preciso pessoas que se comuniquem bem com os hispânicos”, disse ele. Aceitei a proposta em prol da oportunidade de fazer amizade com hispânicos rurais e outros estrangeiros pobres que lutam dia a dia pela sobrevivência nesta região.
Há dois anos, quando meu marido e eu ainda morávamos no estado de Idaho, estabeleci como alvo ministerial ajudar trabalhadores rurais migrantes a entrarem no sistema de legalização do país. Para tanto, aproximei-me intencionalmente da população de hispânicos migrantes para aprender melhor a língua e cultura e servir dentro de seu contexto. Já aprendi muito sobre o que posso ou não fazer como representante oficial voluntária na ajuda aos que buscam a permanência legal no país e também os passos para ajuda-los a obter a cidadania norte-americana.
Entre os perfis de famílias que encontro no meu dia a dia, encontra-se o da família de Carmen, que vive e trabalha em transição de um estado para outro há muitos anos, ou indo e voltando de seu país pela fronteira do sul. Carmen veio à biblioteca e inscreveu-se para aprender inglês e estudar para os testes de cidadania. Ofereci-me para ser sua tutora e já nos encontramos semanalmente por três meses. Carmen é muito dedicada. Já sabe o suficiente para passar nos testes. O seu esposo, Carlos, sofre de uma enfermidade séria, um tipo de câncer, e, no momento, não pode mais trabalhar. Ele não fala inglês, mas gostaria de se tornar cidadão para oferecer segurança à família. A filha mais nova do casal, de doze anos, já tem cidadania norte-americana por ter nascido no país. Essa filha desenvolveu uma enfermidade semelhante à do pai, mas consegue frequentar a escola e tem progredido bem.
No mês de agosto, Carmen, a única com condição para o trabalho pesado na agricultura, precisou deixar esposo e filha, mesmo doentes, e ir para outro estado onde conseguiu um emprego suplementar por mais alguns meses. Como família, eles não podem parar de trabalhar devido ao visto de trabalho temporário. E assim vivem, um dia após outro. Carmen sempre tem um sorriso no rosto e traz frutas quando nos encontramos. O momento de aprendizado hoje significa esperança de um amanhã que leva Carmem ao encontro da pátria esperada.
Os migrantes são pessoas ou famílias que chegam ao país em busca de asilo de qualquer forma e a qualquer preço. Podem ser identificados de muitas formas. Na maioria, são não documentados que ficam no país sem aprovação do governo. Muitos vieram com esperança de encontrar ajuda e em busca de um futuro mais seguro. Alguns recebem um visto de trabalho temporário, e espera-se que retornem ao seu país de origem depois de completada a colheita. Apesar de serem os responsáveis pela boa alimentação do país e do estado onde trabalham na colheita, em sua maioria, os migrantes não têm quase nada para comer. É uma situação triste de observar e difícil de resolver. O medo prevalece sobre todos, locais ou estrangeiros, um contra o outro.
Com um grupo de nossa igreja, fui visitar um povoado construído para abrigo dos trabalhadores migrantes. Observei e ouvi o ponto de vista dos que são a favor e dos que são contra os trabalhadores que chegam para a estação de colheita de frutas. As disputas sobre o que fazer com a população migrante estão cada vez mais intensas. Muitos trabalhadores migrantes sentem-se injustiçados, enfurecidos, confusos e constantemente perseguidos pela lei. Trabalham com ardor, mas logo chega o término da estação e muitos ficam sem lar, sem certeza do amanhã, sem recursos e sem lugar de retorno. Vivem com medo e cercados pelos desafios.
E a história de cada um continua.
Sou grata por novas amizades. No trabalho na biblioteca, faço uso de uma metodologia de perguntas e respostas dos ditados populares inseridos nas culturas de cada um. Assim há espaço para compartilhar a história do evangelho de Jesus na jornada de cada migrante por aqui.
• Neiva Garcia é missionária brasileira na América do Norte desde 1984. Nos Estados Unidos, ela estudou no Fuller Seminary e trabalhou como Diretora Executiva do Hollywood Urban Project. No Canadá, fez um mestrado no Prairie Graduate School, e foi professora de missões e teologia nesta escola. Foi deã e professora do Centro Evangélico de Missões (CEM), em Viçosa, MG, entre 2013 e 2017.
Nota
Relato escrito em setembro de 2019, mês de comemoração do Dia da Constituição e Cidadania Norte-Americana.
Leia mais:
» Os migrantes venezuelanos e a missão da igreja
» Como deve ser a nossa relação com imigrantes e refugiados?
Por Neiva Garcia
Gosto muito do ditado que diz: “Coce onde está coçando!”. Usei esta expressão em uma conversa com um bibliotecário em estilo cowboy que me contratou para um trabalho de algumas horas semanais na biblioteca pública de uma cidade rural e pequena no norte do estado de Washington. “É preciso pessoas que se comuniquem bem com os hispânicos”, disse ele. Aceitei a proposta em prol da oportunidade de fazer amizade com hispânicos rurais e outros estrangeiros pobres que lutam dia a dia pela sobrevivência nesta região.
Há dois anos, quando meu marido e eu ainda morávamos no estado de Idaho, estabeleci como alvo ministerial ajudar trabalhadores rurais migrantes a entrarem no sistema de legalização do país. Para tanto, aproximei-me intencionalmente da população de hispânicos migrantes para aprender melhor a língua e cultura e servir dentro de seu contexto. Já aprendi muito sobre o que posso ou não fazer como representante oficial voluntária na ajuda aos que buscam a permanência legal no país e também os passos para ajuda-los a obter a cidadania norte-americana.
Entre os perfis de famílias que encontro no meu dia a dia, encontra-se o da família de Carmen, que vive e trabalha em transição de um estado para outro há muitos anos, ou indo e voltando de seu país pela fronteira do sul. Carmen veio à biblioteca e inscreveu-se para aprender inglês e estudar para os testes de cidadania. Ofereci-me para ser sua tutora e já nos encontramos semanalmente por três meses. Carmen é muito dedicada. Já sabe o suficiente para passar nos testes. O seu esposo, Carlos, sofre de uma enfermidade séria, um tipo de câncer, e, no momento, não pode mais trabalhar. Ele não fala inglês, mas gostaria de se tornar cidadão para oferecer segurança à família. A filha mais nova do casal, de doze anos, já tem cidadania norte-americana por ter nascido no país. Essa filha desenvolveu uma enfermidade semelhante à do pai, mas consegue frequentar a escola e tem progredido bem.
No mês de agosto, Carmen, a única com condição para o trabalho pesado na agricultura, precisou deixar esposo e filha, mesmo doentes, e ir para outro estado onde conseguiu um emprego suplementar por mais alguns meses. Como família, eles não podem parar de trabalhar devido ao visto de trabalho temporário. E assim vivem, um dia após outro. Carmen sempre tem um sorriso no rosto e traz frutas quando nos encontramos. O momento de aprendizado hoje significa esperança de um amanhã que leva Carmem ao encontro da pátria esperada.
Os migrantes são pessoas ou famílias que chegam ao país em busca de asilo de qualquer forma e a qualquer preço. Podem ser identificados de muitas formas. Na maioria, são não documentados que ficam no país sem aprovação do governo. Muitos vieram com esperança de encontrar ajuda e em busca de um futuro mais seguro. Alguns recebem um visto de trabalho temporário, e espera-se que retornem ao seu país de origem depois de completada a colheita. Apesar de serem os responsáveis pela boa alimentação do país e do estado onde trabalham na colheita, em sua maioria, os migrantes não têm quase nada para comer. É uma situação triste de observar e difícil de resolver. O medo prevalece sobre todos, locais ou estrangeiros, um contra o outro.
Com um grupo de nossa igreja, fui visitar um povoado construído para abrigo dos trabalhadores migrantes. Observei e ouvi o ponto de vista dos que são a favor e dos que são contra os trabalhadores que chegam para a estação de colheita de frutas. As disputas sobre o que fazer com a população migrante estão cada vez mais intensas. Muitos trabalhadores migrantes sentem-se injustiçados, enfurecidos, confusos e constantemente perseguidos pela lei. Trabalham com ardor, mas logo chega o término da estação e muitos ficam sem lar, sem certeza do amanhã, sem recursos e sem lugar de retorno. Vivem com medo e cercados pelos desafios.
E a história de cada um continua.
Sou grata por novas amizades. No trabalho na biblioteca, faço uso de uma metodologia de perguntas e respostas dos ditados populares inseridos nas culturas de cada um. Assim há espaço para compartilhar a história do evangelho de Jesus na jornada de cada migrante por aqui.
• Neiva Garcia é missionária brasileira na América do Norte desde 1984. Nos Estados Unidos, ela estudou no Fuller Seminary e trabalhou como Diretora Executiva do Hollywood Urban Project. No Canadá, fez um mestrado no Prairie Graduate School, e foi professora de missões e teologia nesta escola. Foi deã e professora do Centro Evangélico de Missões (CEM), em Viçosa, MG, entre 2013 e 2017.
Nota
Relato escrito em setembro de 2019, mês de comemoração do Dia da Constituição e Cidadania Norte-Americana.
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