Opinião
- 30 de abril de 2009
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Levei um baile
Marcos Inhauser
Ou melhor, mais de um. O primeiro foi quando recebi o pedido dos netos para fazer com eles um "real robot". O segundo baile foi pensar em algo que pudesse fazer e que se parecesse ao que me pediam. Para tanto, vários amigos me ajudaram e me deram ideias. O terceiro foi chegar aqui e começar a fazer a coisa.
Trouxe um monte de coisas, mas o básico eram algumas peças de metal e parafusos que, juntados, serviriam de estrutura para o que iríamos construir. Vim com uma ideia bastante completa e pronta e quis impor isto a eles. Aí entrou o mais completo baile que levei. Eles me mostraram o quanto eu havia perdido a capacidade de imaginar, sonhar, fantasiar, de ser criança. Me mostraram que mais importante que o produto pronto e acabado, a coisa bem feita, é a imaginação, o que se sonha ao fazer.
Quando menos esperei a imaginação deles estava a mil e a minha execução trôpega. Eu queria colocar algo em um local definido e eles viajavam e queriam outras coisas em outros lugares. Onde eu via uma haste mecânica, eles viam o braço, a mão, os dedos. Onde eu via um monte de hastes mal montadas, eles viam o “real robot”. Onde eu via algo a ser completado, eles viam mundos.
Acho que é por isto que Jesus ensinou que se não nos tornarmos como crianças, não poderemos entrar no reino de Deus. Há no reino algo de sonho, fantasia, utopia, de possibilidade diante da impossibilidade. É um tornar-se criança, um desfrutar as coisas mais simples tirando delas as doçuras que só a fantasia e o sonho conseguem. É querer simplicidade, as verdades menos complexas (quanto mais complexa maior a possibilidade de erro), acreditar nas pessoas, viajar nas possibilidades, crer no impossível. É um contentar-se com um estilo de vida onde o conforto simples, e não o luxo, é a tônica.
Muitos amigos me escreveram desejando-me sorte na empreitada e outros pedindo fotos da obra. Publicamente quero reconhecer que não consegui fazer um “real robot” nos moldes que imaginei e que os amigos imaginaram. Tampouco tenho absoluta certeza de que os netos acham que conseguimos. Mas o que valeu foi o tempo que passamos juntos, as coisas que puder ensinar sobre mecânica, eletricidade, trabalho em equipe, planejamento. Se o “real robot” não saiu como eu queria, a intimidade, a amizade, o amor entre mim e os netos (que não tenho oportunidade de conviver porque a distância é enorme) só fez aumentar.
Não há “real robot”. Contudo há, por causa dele, amor verdadeiro, amizade e, importantíssimo, sonhos que queremos que se tornem realidade.
• Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular. www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
Ou melhor, mais de um. O primeiro foi quando recebi o pedido dos netos para fazer com eles um "real robot". O segundo baile foi pensar em algo que pudesse fazer e que se parecesse ao que me pediam. Para tanto, vários amigos me ajudaram e me deram ideias. O terceiro foi chegar aqui e começar a fazer a coisa.
Trouxe um monte de coisas, mas o básico eram algumas peças de metal e parafusos que, juntados, serviriam de estrutura para o que iríamos construir. Vim com uma ideia bastante completa e pronta e quis impor isto a eles. Aí entrou o mais completo baile que levei. Eles me mostraram o quanto eu havia perdido a capacidade de imaginar, sonhar, fantasiar, de ser criança. Me mostraram que mais importante que o produto pronto e acabado, a coisa bem feita, é a imaginação, o que se sonha ao fazer.
Quando menos esperei a imaginação deles estava a mil e a minha execução trôpega. Eu queria colocar algo em um local definido e eles viajavam e queriam outras coisas em outros lugares. Onde eu via uma haste mecânica, eles viam o braço, a mão, os dedos. Onde eu via um monte de hastes mal montadas, eles viam o “real robot”. Onde eu via algo a ser completado, eles viam mundos.
Acho que é por isto que Jesus ensinou que se não nos tornarmos como crianças, não poderemos entrar no reino de Deus. Há no reino algo de sonho, fantasia, utopia, de possibilidade diante da impossibilidade. É um tornar-se criança, um desfrutar as coisas mais simples tirando delas as doçuras que só a fantasia e o sonho conseguem. É querer simplicidade, as verdades menos complexas (quanto mais complexa maior a possibilidade de erro), acreditar nas pessoas, viajar nas possibilidades, crer no impossível. É um contentar-se com um estilo de vida onde o conforto simples, e não o luxo, é a tônica.
Muitos amigos me escreveram desejando-me sorte na empreitada e outros pedindo fotos da obra. Publicamente quero reconhecer que não consegui fazer um “real robot” nos moldes que imaginei e que os amigos imaginaram. Tampouco tenho absoluta certeza de que os netos acham que conseguimos. Mas o que valeu foi o tempo que passamos juntos, as coisas que puder ensinar sobre mecânica, eletricidade, trabalho em equipe, planejamento. Se o “real robot” não saiu como eu queria, a intimidade, a amizade, o amor entre mim e os netos (que não tenho oportunidade de conviver porque a distância é enorme) só fez aumentar.
Não há “real robot”. Contudo há, por causa dele, amor verdadeiro, amizade e, importantíssimo, sonhos que queremos que se tornem realidade.
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