Opinião
- 08 de junho de 2021
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A oração que dura até que Deus responda
“Lembrou-se Deus de Abraão”
Por Ronaldo Lidório
Deus jamais esquece. Ele não está limitado ao nosso tempo e espaço, nem se perde em meio às lembranças. Ele tudo sabe (1 Jo 3:20) e nada foge ao seu olhar (Pv 13:3). A Palavra, entretanto, usa diversos antropomorfismos para comunicar quem Ele é e o que Ele faz. Em Gênesis, lemos que “lembrou-se Deus de Abraão…” (Gn 19:29). Trata-se de uma breve menção de algo que iria mudar radicalmente o destino de uma família.
Tudo começa no capítulo anterior quando Deus comunica a Abraão o seu desejo de destruir as cidades de Sodoma e Gomorra, pois “… o seu pecado tem se agravado muito” (Gn 18:20). Deus envia seus anjos para aquelas cidades e prepara-se para destruí-las. Ló, sobrinho de Abraão, morava em uma delas, Sodoma, com toda a sua família. Assim, no capítulo 18, dos versos 22 a 33, encontra-se uma das mais belas passagens de intercessão em toda a Palavra. Abraão conversa com Deus intercedendo pela vida de Ló e sua família, e inicia perguntando: “Destruirás o justo com o ímpio?” (Gn 18:23).
O capítulo 19 trata da maldade naquelas cidades, a falta de temor ao Senhor e a destruição preparada por Deus. Porém, em certo momento, em meio à terrível destruição, salta aos olhos essa afirmação: “lembrou-se Deus de Abraão e tirou a Ló do meio das ruínas, quando subverteu as cidades em que Ló habitara” (Gn 19:29). Deus responde as orações.
O Senhor Jesus nos ensinou que a oração, associada à fé, promove uma resposta do Pai (Mt 21:22), e nos lembrou que nos embates mais difíceis devemos nos preparar com oração e jejum (Mt 17:21). O Mestre também associou a oração à vida diária com Deus, necessidade de todo homem (Lc 6:12), e se entristeceu porque os seus discípulos dormiam quando precisavam vigiar (Lc 22:45). Depois da sua morte, vemos esses discípulos unânimes na oração (At 1:14). Pedro e João saíam juntos para orar (At 3:1) e os apóstolos se reservaram ao ensino da Palavra e à oração para a edificação da Igreja (At 6:4). Paulo nos diz que ora pelas igrejas plantadas (Ef 6:18) e Pedro nos exorta a vigiar em oração (1Pe 4:7). Assim, a oração permeia a Palavra como ensino para cada um de nós, para toda a igreja e para a sinalização do Reino na terra. Há uma clara associação entre a oração e as respostas de Deus.
Calvino, em um capítulo dedicado à oração, nas Institutas da Religião Cristã, expõe a necessidade de nos aproximarmos de Deus com humildade, lembrando que Ele é o Criador e nós somos a sua criação; Ele é o Senhor e nós os servos. Expõe também a oração do ‘Pai nosso’, não como uma repetição mágica para mover Deus, mas como um quebrantamento pessoal na presença de Deus. Conclui enfatizando que a oração não é um artifício para impor a Deus a nossa vontade, mas para reconhecer a vontade de Deus em nós.
Em uma perspectiva da missão, a oração é a conversa com Deus que quebranta nosso espírito e prepara nosso coração para a vontade do Senhor, no seu tempo e do seu jeito. Nessa convicção, é dito sobre Hudson Taylor, missionário na China no fim do século 19, que o sol jamais se levantou na China por quarenta anos sem que ele estivesse de joelhos clamando ao Senhor por aquele país.
“Lembrou-se Deus de Abrãao…”. Que possamos interceder por pessoas, famílias, povos, nações e situações até que Deus responda.
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Ronaldo Lidório é teólogo e antropólogo, missionário (APMT e WEC) entre grupos pouco ou não evangelizados. É organizador de Indígenas do Brasil -- avaliando a missão da igreja e A Questão Indígena -- Uma Luta Desigual.
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