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Por Escrito

João Wilson Faustini (1931-2023)

Obituário

Por Volney Faustini

Para fazer um relato mais completo e justo sobre a vida e obra do Maestro João Wilson Faustini, falecido aos 91 anos de idade na madrugada de 26 de fevereiro último, como seu sobrinho, preciso recorrer à saga de nossa família.
 
Meu avô, José Faustini, como guardião da memória familiar, contava, no aniversário do tio João, estórias peculiares do seu nascimento, com uma anedota recorrente: 
 
“Quando João estava para nascer, era dia chuvoso e eu tinha que buscar a parteira. Só que ao dar marcha ré no meu velho Ford bigode, não brequei a tempo e derrubei o muro de casa.”
 
Foi assim que íamos aprendendo como Deus agia na história, sempre com um certo humor, característica de uma ruidosa família de sangue italiano. Como seus filhos e netos, íamos percebendo que, ao longo de nossa existência, Deus atuava nos pequenos detalhes, a forjar nossa transformação. Doutor José, como o patriarca era conhecido, fazia do contexto familiar terreno fértil para formar caráter, ensinando a vocação cristã e a firmeza de princípios a seus filhos. E em especial a João, um chamado ministerial ímpar.
 
O princípio desta narrativa se volta à conversão do meu bisavô, Silvio Faustini. Foi no ano da abolição da escravatura (1888) que Silvio, um italiano oriundi, aportou em terras brasileiras. Vinha para atuar nos campos agrícolas no interior de São Paulo, estabelecendo-se na pequena cidade de Pederneiras. Foi lá que seus vizinhos protestantes o presentearam com um Novo Testamento. Ao iniciar a leitura percebeu que muitas das histórias lá contidas sua mãe já lhe havia ensinado quando criança.
 
Com a notícia do falecimento de sua mãe, que já havia retornado à Itália, seu coração se enche de angústia. À noite, sonha que pedia orientação à sua mãe e ela nada lhe responde, antes ordena a continuar lendo as Escrituras. Ao acordar, de pronto abre a Palavra na parábola do rico e de Lázaro. E de forma aguda, após a leitura, fica com o pequeno trecho martelando sua cabeça: “Se eles não derem ouvidos a Moisés e aos profetas ... “
 
Não demorou muito para encontrar, com fé, o verdadeiro e único Salvador, Jesus. Dois anos depois, recebe em sua casa o Reverendo Vicente Themudo Lessa, ícone do presbiterianismo nacional. Este lhe orienta nos primeiros passos de sua fé e, em nova visita, realiza a sua pública profissão de fé. Anos mais tarde, Silvio compartilharia sua história em seu opúsculo “O Milagre de Minha Conversão”.
 
Silvio se casa com Amália e tem onze filhos, todos criados no Evangelho. O terceiro filho do casal é José Faustini, que se casa com Ana Zamboni e tem oito filhos que chegam à idade adulta. O casal principia a vida familiar em Bariri, depois muda-se para Pirajuí, em seguida para Osasco, e, posteriormente, para a capital, indo residir na Rua Cardeal Arcoverde, no bairro de Pinheiros. Ao longo dessa trajetória, sempre ativo nas igrejas locais Presbiterianas Independentes, fazendo sua prole, desde cedo, aprender as letras do Evangelho.
 
Martha, a primeira filha, demonstra forte aptidão pela música e segue carreira no magistério. É talvez a primeira cantora “gospel” do país. E seria ela quem influenciaria João a se dedicar à música. É nessa época que o Instituto José Manuel da Conceição se torna um ponto chave na vida de João. Martha é a primeira a ir para Jandira, estudar no JMC. E, alguns anos depois, João segue o caminho de sua irmã. É nesse contexto que a missionária americana, e musicista, Evelina Harper, conhece João e se entusiasma com o potencial do jovem músico.
 
Em 1952, aos 20 anos de idade, João ganha uma bolsa de estudos para o curso de regência e aperfeiçoamento musical no Westminster Choir College, em Princeton, New Jersey. Ao retornar ao Brasil, torna-se professor e regente no JMC. Para ocupar a função de organista, vem da Igreja Presbiteriana de Araraquara, a jovem Queila Costa que se tornaria sua esposa. Desse casamento nascem três filhos Davi Marcos, Valter Gerson e Paulo Eduardo.
 
Ao longo desses anos, continua a se aperfeiçoar em música e canto. Torna-se o regente do coral da Catedral Evangélica (1ª IPI de São Paulo). É nessa época que sua produção de hinos se multiplica. João viria a se tornar o mais prolífico compositor, autor e tradutor de hinos e cânticos corais. É de sua lavra a mais popular coletânea de hinos para corais denominada “Os Céus Proclamam”.
 
A demanda pela produção de novas composições, bem como a tradução de hinos, se intensificava com o crescimento evangélico no país. No entanto, um episódio o obrigou a buscar uma nova forma de contribuir na divulgação da boa música.
 
Aconteceu após apresentar a um amigo pastor a nova tradução de um hino. Aquele que sempre o elogiara, sem um motivo lógico, reage com uma crítica meramente emocional. Ao longo da noite, tio João resolve mudar a tradução, não porém seu conteúdo mas, sim, a assinatura do seu tradutor. Usando sua inicial com o sobrenome de sua esposa, fez nascer o pseudônimo J. Costa. Qual não foi sua surpresa, ao retornar com o hino ao amigo, que além de demonstrar agrado pela letra, elogia o desconhecido tradutor. Por várias décadas, J. Costa viria adornar diversas partituras com seu talento. A disseminação da música e seu propósito, dar glória a Deus, era o que importava.
 
Em 1964, obtém nova bolsa de estudos, o que faz com que a família se mude para Nova Iorque. Lá viria a colar grau de mestre em música pelo Union Theological Seminary, além de aperfeiçoamento de canto no Juilliard School of Music. É nesse contexto que João e família se integram à comunidade anglo-portuguesa, vinculando-se, ele, como regente, e Queila como organista, na St. Paul’s Presbiterian Church em Newark – New Jersey. Por ocasião de sua despedida em 1972, é entregue o hinário que serve até hoje a congregação, no formato bilíngue: “Seja Louvado”.
 
Em 1971, em uma de suas breves estadas por aqui, tio João teve a ousadia de aproveitar o Conjunto Vida, do qual eu era o líder, para lançar, em gravação, a Coletânea Hinos Contemporâneos. Nosso grupo recebeu intensivo treinamento musical por meio de ensaios, e em duas noites gravamos nos Estúdios Eldorado no centro de São Paulo. Destaque para a faixa “Que estou fazendo se sou cristão?”, letra de João Dias de Araújo, composta quando ambos – João Dias e João Wilson - eram colegas em Princeton, nos idos de 1967.
 
Ao retornar ao Brasil, volta a se integrar à Catedral Evangélica e se torna o primeiro pastor de música sacra do Brasil ordenado pela Igreja Presbiteriana Independente. Passa a lecionar em diferentes instituições, porém com especial carinho naquelas de formação pastoral (FATIPI e Seminário Bíblico Palavra da Vida). Com os planos de novamente retornar aos Estados Unidos, passa a residir no Rio de Janeiro, aguardando a liberação de visto para toda a família. No processo de espera, leciona no Seminário Teológico Batista do Sul.
 
 
Ao longo de várias décadas seus irmãos, também músicos, Martha, Loyde e Zuínglio, se revezam no apoio tanto para as publicações, como divulgação de suas obras.
 
Em 1984, retorna, pela terceira vez, aos Estados Unidos, continuando com uma frutífera produção musical e visitando o Brasil para dirigir Seminários de Regência e Música Coral em diferentes cidades do país, sob os auspícios da SOEMUS – Sociedade Evangélica de Música Sacra.
 
Desta feita a família residiria em Elizabeth, New Jersey, cidade em que iria pastorear e continuar com sua produção musical. Sua casa se tornaria uma espécie de Embaixada Evangélica, tal o número de pastores e irmãos que o visitavam e lá se hospedavam.
 
Foi nessa época que se acentuou a gravidade da saúde de tia Queila, vindo a falecer em 1998. Foram mais de quarenta anos de parceria conjugal e familiar, e em cumplicidade ministerial.
 
Somente em 2006 retorna de vez para o Brasil, indo morar em Irati, juntamente com Rosy, sua segunda esposa. Por ocasião da pandemia da Covid-19, foi de lá que compôs o hino para o tempo de crise, “O Mundo Inteiro Geme”, adotado como tema de esperança na hora da adversidade. Foi em Irati também, que o jovem maestro Wellington Costa se tornou um discípulo amado, a quem tio João pôde dedicar muito de seus ensinamentos. Hoje ele é um importante esteio de seu legado.
 
São várias as homenagens que lhe são prestadas. Há um espaço reservado na Biblioteca da FATIPI (São Paulo), em que um grande acervo por ele doado fica em permanente exposição. A IPI do Brasil escolheu a data de seu aniversário, 20 de novembro, para a efeméride do Dia do Músico Evangélico. E mais recentemente, o coral da Catedral Evangélica recebeu seu nome, em homenagem a tantos anos de regência e ministério.
 
O legado de João e Queila se perpetua. O caçula, Paulo Eduardo, é um cantor lírico, concertista e regente coral. Nos passos do pai, além de participar do The Westminster Choir, permaneceu por lá, dando aula de canto por vários anos. Como marca do DNA da família, herdou o bonito timbre de tenor, destacando-se em convites para participar de apresentações pelo mundo. Fundou a Serenades Choral Travel, uma agência que reúne cantores amadores e profissionais, realizando excursões corais pela Europa.
 
Priscilla, a única neta, filha de Davi Marcos e Sonia, também se formou no Westminster Choir College, e reside em New Jersey.
 
O que meu tio João realizou é considerado por muitos como a mais importante contribuição à música evangélica brasileira, não somente por suas composições, traduções e arranjos, como também pelo esforço multiplicador bem conhecido de 2º Timóteo 2:2: “E o que de mim ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensinarem os outros.” 
 
Esse legado, que hoje constitui uma grande legião de regentes, maestros, músicos e coralistas, em cascata de diferentes gerações no tempo presente, honram seu ministério. Porém, acima de tudo, juntam suas vozes para prestar culto e adoração a Deus.
 
Pelo Brasil, a cada domingo, em várias igrejas de diferentes tamanhos e estilos, certamente haverá uma canção, um louvor, um hino a ser regido, ou tocado, ou cantado, que traz a marca do legado de João Wilson Faustini. Soli Deo gloria.
 
  • Volney Faustini, autor e consultor, foi presidente da Missão Portas Abertas no Brasil. É membro da 1ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.

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