Opinião
- 24 de fevereiro de 2006
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Identidade e diferença - o indígena e o cristianismo*
4. As culturas indígenas das Américas
Muitos acreditam que no principio não havia habitantes nas Américas. Aí os povos indígenas vieram da Ásia e da Austrália, através do Pólo Norte, atravessando um local chamado Estreito de Bering, e ocuparam as Américas. Esses povos vinham de diferentes localidades, com diferentes línguas, diferentes culturas e diferentes armamentos. Ainda não há uma data certa para esse povoamento, mas os estudiosos pensam que isso ocorreu pelo menos uns trinta mil anos atrás.
Os povos europeus começaram a chegar muito depois às Américas: em 1498. No Brasil, foi em 1500.
Antes da chegada dos europeus, os povos indígenas já mantinham um grande sistema de comércio e de influência cultural entre si. Eles não formavam povos isolados e sim povos com intercâmbio econômico e cultural uns com os outros.
No entanto, os europeus causaram maiores mudanças culturais no modo de vida dos povos indígenas, por causa de sua tecnologia mais avançada e por causa da força e violência que muitas vezes usaram contra as populações indígenas. O rei de Portugal daquela época mandava para o Brasil apenas os maus elementos, os bandidos e assassinos. Esses maus elementos abusavam fisicamente dos homens indígenas e sexualmente das mulheres indígenas.
Em resumo, a história mostra que uma cultura indígena pode modificar outra cultura indígena; mostra também que as maiores modificações nas culturas indígenas foram causadas pelos elementos europeus.
5. Definição ou identificação do indígena
O estudioso de culturas indígenas Darcy Ribeiro fala de algumas tentativas de se definir o indígena. Ele fala de quatro critérios que foram usados para isso: (1) racial, (2) cultural, (3) de desenvolvimento econômico e (4) de auto-identificação étnica.
Racial: seria a pessoa ou povo que descendesse dos habitantes das Américas que estavam lá antes da chegada de Cristóvão Colombo (em 1498).
Cultural: seria a pessoa ou povo que tivesse cultura semelhante aos habitantes das Américas que lá estavam antes da chegada de Cristóvão Colombo.
Desenvolvimento Económico: seria a pessoa ou povo que tivesse menos condição económica do que a camada mais pobre da sociedade não-indígena.
Auto-identificação Étnica: seria a pessoa ou povo que se indentificasse como indígena e que fosse identificada como tal pelos habitantes que vivessem ao seu redor.
Percebeu-se que o melhor critério era o da auto-identificação étnica.
6. A identidade e a diferença
Os estudos mais atuais a respeito do que vem a ser "identidade" dizem que ela não pode ser definida somente a partir dos elementos que a constituem ou a formam. Ou seja, ela não pode ser definida somente a partir da sua essência. A identidade seria definida também levando-se em consideração o que é diferente dela, o outro, a alteridade (alter em latim quer dizer: outro). De fato, esses estudos dizem que a identidade não pode ser definida sem a diferença e a diferença não pode ser definida sem a identidade. Uma depende da outra.
Um desses estudiosos, chamado Stuart Hall, diz: “As identidades são construídas por meio da diferença e não fora dela” (Hall, 2000:110).
Para esse estudioso, uma mesma pessoa pode ter mais de uma identidade: “As identidades são as posições que o sujeito é obrigado a assumir” (op.cit.:2000:l 12).
O “sujeito” nesse caso é uma pessoa qualquer. As “posições” que esse sujeito assume são as maneiras através das quais ele se identifica. Uma mesmo homeme pode dizer: “Sou um professor”. Pode dizer também: “Sou esposo de fulana”; “Sou pai de sicrana”; “Sou torcedor do flamengo”; “Sou indígena”. Essas seriam várias identidades assumidas por um mesmo sujeito.
Um outro aspecto da identidade que Stuart Hall considera é sua formação, construção, elaboração, criação:
“A abordagem discursiva vê a identificação como uma construção, como um processo nunca completado - como algo sempre 'em processo'. Ela não é, nunca, completamente determinada - no sentido de que se pode, sempre, 'ganhá-la' ou 'perdê-la'; no sentido de que ela pode ser, sempre, sustentada ou abandonada” (op.cit.:2000:106).
Ou seja, para Hall, a identidade está sempre em processo de construção ou formação. Ela não é algo estático, como uma fotografia. Ela é dinâmica, como um filme, está sempre em movimento. Ou seja, a identidade pode aumentar elementos a sua construção ou formação; pode diminuir elementos a essa construção ou formação; pode, como um todo, ser sustentada, mantida; ou pode ser abandonada também. Um fumante pode perder a identidade de fumante ao deixar de fumar. Um bêbado pode perder a identidade de bêbado ao deixar de consumir bebida alcoólica. Um drogado pode perder a sua identidade de drogado ao deixar de consumir drogas. Entretanto, um crente pode manter sua identidade de crente mesmo em face a acusações. Um indígena pode manter sua identidade indígena e ter orgulho dela mesmo diante das discriminações vindas dos não indígenas e dos próprios indígenas. Em resumo, um indígena cristão pode manter as suas identidades de indígena e de cristão sem nenhum problema de conflito de identidade ou personalidade.
*Apresentado no Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI). Dourados, 2 de setembro de 2004.
Muitos acreditam que no principio não havia habitantes nas Américas. Aí os povos indígenas vieram da Ásia e da Austrália, através do Pólo Norte, atravessando um local chamado Estreito de Bering, e ocuparam as Américas. Esses povos vinham de diferentes localidades, com diferentes línguas, diferentes culturas e diferentes armamentos. Ainda não há uma data certa para esse povoamento, mas os estudiosos pensam que isso ocorreu pelo menos uns trinta mil anos atrás.
Os povos europeus começaram a chegar muito depois às Américas: em 1498. No Brasil, foi em 1500.
Antes da chegada dos europeus, os povos indígenas já mantinham um grande sistema de comércio e de influência cultural entre si. Eles não formavam povos isolados e sim povos com intercâmbio econômico e cultural uns com os outros.
No entanto, os europeus causaram maiores mudanças culturais no modo de vida dos povos indígenas, por causa de sua tecnologia mais avançada e por causa da força e violência que muitas vezes usaram contra as populações indígenas. O rei de Portugal daquela época mandava para o Brasil apenas os maus elementos, os bandidos e assassinos. Esses maus elementos abusavam fisicamente dos homens indígenas e sexualmente das mulheres indígenas.
Em resumo, a história mostra que uma cultura indígena pode modificar outra cultura indígena; mostra também que as maiores modificações nas culturas indígenas foram causadas pelos elementos europeus.
5. Definição ou identificação do indígena
O estudioso de culturas indígenas Darcy Ribeiro fala de algumas tentativas de se definir o indígena. Ele fala de quatro critérios que foram usados para isso: (1) racial, (2) cultural, (3) de desenvolvimento econômico e (4) de auto-identificação étnica.
Racial: seria a pessoa ou povo que descendesse dos habitantes das Américas que estavam lá antes da chegada de Cristóvão Colombo (em 1498).
Cultural: seria a pessoa ou povo que tivesse cultura semelhante aos habitantes das Américas que lá estavam antes da chegada de Cristóvão Colombo.
Desenvolvimento Económico: seria a pessoa ou povo que tivesse menos condição económica do que a camada mais pobre da sociedade não-indígena.
Auto-identificação Étnica: seria a pessoa ou povo que se indentificasse como indígena e que fosse identificada como tal pelos habitantes que vivessem ao seu redor.
Percebeu-se que o melhor critério era o da auto-identificação étnica.
6. A identidade e a diferença
Os estudos mais atuais a respeito do que vem a ser "identidade" dizem que ela não pode ser definida somente a partir dos elementos que a constituem ou a formam. Ou seja, ela não pode ser definida somente a partir da sua essência. A identidade seria definida também levando-se em consideração o que é diferente dela, o outro, a alteridade (alter em latim quer dizer: outro). De fato, esses estudos dizem que a identidade não pode ser definida sem a diferença e a diferença não pode ser definida sem a identidade. Uma depende da outra.
Um desses estudiosos, chamado Stuart Hall, diz: “As identidades são construídas por meio da diferença e não fora dela” (Hall, 2000:110).
Para esse estudioso, uma mesma pessoa pode ter mais de uma identidade: “As identidades são as posições que o sujeito é obrigado a assumir” (op.cit.:2000:l 12).
O “sujeito” nesse caso é uma pessoa qualquer. As “posições” que esse sujeito assume são as maneiras através das quais ele se identifica. Uma mesmo homeme pode dizer: “Sou um professor”. Pode dizer também: “Sou esposo de fulana”; “Sou pai de sicrana”; “Sou torcedor do flamengo”; “Sou indígena”. Essas seriam várias identidades assumidas por um mesmo sujeito.
Um outro aspecto da identidade que Stuart Hall considera é sua formação, construção, elaboração, criação:
“A abordagem discursiva vê a identificação como uma construção, como um processo nunca completado - como algo sempre 'em processo'. Ela não é, nunca, completamente determinada - no sentido de que se pode, sempre, 'ganhá-la' ou 'perdê-la'; no sentido de que ela pode ser, sempre, sustentada ou abandonada” (op.cit.:2000:106).
Ou seja, para Hall, a identidade está sempre em processo de construção ou formação. Ela não é algo estático, como uma fotografia. Ela é dinâmica, como um filme, está sempre em movimento. Ou seja, a identidade pode aumentar elementos a sua construção ou formação; pode diminuir elementos a essa construção ou formação; pode, como um todo, ser sustentada, mantida; ou pode ser abandonada também. Um fumante pode perder a identidade de fumante ao deixar de fumar. Um bêbado pode perder a identidade de bêbado ao deixar de consumir bebida alcoólica. Um drogado pode perder a sua identidade de drogado ao deixar de consumir drogas. Entretanto, um crente pode manter sua identidade de crente mesmo em face a acusações. Um indígena pode manter sua identidade indígena e ter orgulho dela mesmo diante das discriminações vindas dos não indígenas e dos próprios indígenas. Em resumo, um indígena cristão pode manter as suas identidades de indígena e de cristão sem nenhum problema de conflito de identidade ou personalidade.
*Apresentado no Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI). Dourados, 2 de setembro de 2004.
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