Opinião
- 31 de janeiro de 2012
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Graça e paz!
“Graça e paz!”: Entre os cristãos, esta tem sido uma saudação comum. Paulo de Tarso já a usava no início de suas cartas.
Associar graça e paz é pertinente. A graça de Deus liberta, fortalece, santifica. Por ela também recebemos a paz de Jesus, que nos desafia a levá-la para dentro dos nossos relacionamentos e para a sociedade. Como?
Jesus ensina que a vida do cristão é uma resposta à graça de Deus. Cada um dos três aspectos da experiência pessoal com Ele desafia o cristão a responder incluindo outras pessoas, e está relacionado à paz que Ele dá. Primeiro, Deus nos perdoou; nossas vidas passaram a ser marcadas pelo perdão. Passamos a orar: “Perdoa-nos os nossos pecados, assim como perdoamos aos que nos ofendem.” (Mateus 6.12, O Livro). Segundo, Deus nos reconciliou consigo mesmo por Cristo. Por isso somos chamados a nos reconciliar com nossos inimigos e recebemos um ministério (= serviço) de reconciliação (2 Co 5.18). Terceiro, e finalmente, Jesus deixou-nos sua paz (Jo 14.27) e nos desafia a promover a paz ao nosso redor: “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5.9, NVI). O poder para nos tornarmos filhos de Deus (e, portanto, pacificadores ou promotores da paz) é dom de Deus (Jo 1.12).
Conflitos são típicos da condição humana, contudo não precisam resultar em algo negativo. Na igreja primitiva, por exemplo, a solução do primeiro conflito (At 6.1-7) levou ao crescimento da igreja. Mas quando conflitos são condenados, temidos ou ignorados, as consequências são pouco saudáveis: ira, explosões, depressão, relacionamentos quebrados, pessoas feridas ou alienadas. Infelizmente nossa cultura, história, igrejas e sociedade nem sempre favorecem boas práticas de transformação e solução de conflitos. Vivemos num mundo polarizado em que pessoas pensam e agem como adversárias umas das outras e onde se rotula vencedores e perdedores. É aí que somos chamados a construir uma cultura diferente. Como pessoas infinitamente amadas e perdoadas, não tememos rejeição. Jesus assegurou-nos sua presença e podemos cooperar com Ele enquanto nossas vidas são moldadas para que possamos produzir um “fruto de justiça e paz” (Hb 12.11, NVI).
Paulus Widjaja (Indonésia), um dos integrantes do Grupo Temático “Reconciliação” do Comitê de Lausanne para a Evangelização Mundial, destaca quatro atitudes e quatro habilidades importantes para promover a paz 1.
As quatro atitudes são:
As quatro atitudes são:
• Vulnerabilidade: relacionamentos saudáveis baseiam-se na disposição de correr o risco de ser confrontado.
• Humildade: permite reconhecer o valor daqueles com quem estamos em conflito.
• Compromisso com a segurança dos outros: permite que outros expressem seus pontos de vista sem serem atacados. Nos capacita a concordarmos e discordarmos em amor.
• Esperança: provém da convicção de que Deus está presente mesmo em situações de conflito, e que Ele deseja a paz.
As quatro habilidades são:
• Comunicar a verdade em amor, seguindo o preceito de Efésios 4.15, 25.
• Ouvir atentamente: estaremos enriquecendo nosso conhecimento com a perspectiva dos outros.
• Discernir as implicações e os aspectos do conceito bíblico de paz em cada situação (“shalom”, conforme Is 54.13-14, que inclui também bem estar e prosperidade).
• Participar de tomadas de decisão conjuntas e prestar contas uns aos outros.
Tal perspectiva da graça e da paz impactará nosso círculo de influência. Nos levará a divulgar o evangelho e motivará uma mobilização por melhores oportunidades para todos, por maior justiça econômica e social, contra a violência, etc., para que paz em sua conceituação mais abrangente (“shalom”) esteja ao alcance do maior número possível de pessoas.
Assim cristãos também podem decidir-se por pronunciamentos ou ações de grande exposição e visibilidade pública, para o que não faltam exemplos. Cito apenas três: (a) os fundadores da ONG Atini 2, cujo objetivo é ajudar indígenas a proteger seus filhos do infanticídio praticado em algumas tribos brasileiras e tacitamente tolerado por agentes do governo; (b) o teólogo John Stott, que em plena Guerra Fria tomou posição contra as armas nucleares 3; (c) a associação de igrejas evangélicas alemãs VEF 4, preocupada com o crescente envolvimento militar internacional de seu país, a liberalização da exportação de armas, e com certas medidas educacionais que aumentam a aceitação da violência militar. Em carta aberta de 6.12.2011 à chanceler de seu país esses cristãos detalharam sua preocupação e destacaram: “Cremos que paz não é uma utopia, mas um caminho viável no qual fomos chamados a andar. Nós cremos em Jesus Cristo, que como pacificador segue adiante de nós nesse caminho – Nele nos orientamos. Nossa fé no Deus da paz, que reconciliou o mundo consigo em Jesus Cristo constitui o fundamento dos nossos esforços de paz.”
“Graça e paz!” Uma saudação para lembrar da graça de Deus, da paz de Jesus que recebemos, e do que faremos com ela.
__________
Karl Heinz Kienitz trabalha como professor de engenharia em São José dos Campos (SP) e é membro da Primeira Igreja Batista naquela cidade. Serviu como oficial engenheiro da ativa da FAB por mais de 10 anos. Em 1995 colaborou com a ONU como inspetor de armas no Iraque.
Notas
1. Em seu livro A Culture of Peace: God's Vision for the Church (“Uma cultura de paz: a visão de Deus para a Igreja”), GoodBooks, 2005, em co-autoria com os professores americanos Alan e Eleanor Kreider.
3. Christianity Today, edição de 8 de fevereiro de 1980.
4. A VEF congrega, entre outras, as igrejas metodistas, batistas, pentecostais e evangélicas livres alemãs.
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