Opinião
- 12 de dezembro de 2016
- Visualizações: 4350
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Férias de quê? O desafio de desplugar-se
O mundo anda turbulento por diversas razões. Nós, agitados, só pelo embalo. O jeito de viver como sociedade se estabelece, e a pressão aumenta. Por que tanta correria? Onde está a pressão crescente? Alguns identificam facilmente, outros, nem tanto.
Gandhi já dizia que “a vida não se limita a ir cada vez mais rápido”, porém, ao nosso redor parece haver um culto à velocidade. Assimilamos o ritmo forte, angustiados por não ter tempo para fazermos o que gostaríamos.
Na era do conhecimento não saber é um problema. Nunca saberemos muito diante da enormidade de conhecimento disponível. Mas a combinação conhecimento e velocidade é perigosa. Não é difícil acumularmos algumas informações e cairmos na superficialidade. Hoje, você é pressionado a saber as manchetes do dia, o vídeo que “bombou” na internet durante a semana, a 36ª etapa da Operação Lava Jato, as últimas postagens dos youtubers mais famosos, a música que está “estourada”, o divórcio da celebridade etc. E, se algo escapa, a pergunta horrorizada é: “Mas você ainda não viu? Em que mundo você vive?”.
Na sociedade do espetáculo, imagem é tudo, e assim, cada dia mais você precisa cuidar melhor da sua. Então, você precisa saber e comentar sobre um pouco de tudo, como se fosse possível e ainda valesse muito; precisa estar com a aparência boa, com a dieta em dia e o corpo sarado. E compartilhar com o mundo um tanto de sua vida bem-sucedida, ou seja, as fotos do que você come, em que festa ou evento você se encontra, qual a viagem que faz, o look do dia, o livro que, em tese, você está lendo, e por aí vai. Conexão permanente. Você não pode desligar nunca. Afinal, verificando as notícias, os vídeos, as redes sociais, as curtidas, os comentários, você ainda deixa a desejar, imagine se você se desconectar por um pouco? A sensação para muitos é que a vida acaba, jamais irão se recuperar.
A autopercepção encontra-se comprometida pelo suposto fracasso de não dar conta de acompanhar tudo. Tanto nos é oferecido e tão pouco podemos: assim o lamento cresce, a frustração por achar-se desatualizado em algum aspecto se amplia e os desconfortos em termos de autoestima se tornam mais profundos. Pela fresta da vida podemos ver que em parte tem a ver com a ilusão da onipotência, a dificuldade em lidar com a falta, o desafio de colocar limites.
Quando se constatam cansaço e insatisfação, além do fim de ano que se aproxima, o que implica em mais euforia, encontros, comemorações e explicações, posts, fotos, poses etc, pensa-se em férias à vista, num breve horizonte.
Férias poderiam ser simplesmente um tempo onde agitados desaceleram, entram num outro ritmo onde é possível saborear o momento, afastar-se das pressões, relaxar, estar realmente presente no instante. Só que para boa parte das pessoas há um estranhamento com o ritmo mais lento, com o permitir-se não acessar as redes sociais a fim de sossegar. A possibilidade de desplugar-se e voltar-se mais para dentro, não ter a atenção tão dividida, não espremer-se com as expectativas dos outros pode ser um choque. A sensação de que tem muita coisa acontecendo e que você está perdendo, está ficando para trás, é tão maior para alguns que eles não conseguem relaxar, isso quando não levam trabalho para as férias ou mesmo durante o suposto período de descanso precisam permanecer de plantão. E ainda há aqueles que em nome da maximização da eficiência criam metas cruéis para as férias. Assim sendo, férias são quase mais do mesmo ritmo fora delas. Muda-se o ambiente externo, mas o interno é igual ao de sempre.
Gosto é da expressão do salmista quando vê o Eterno como seu pastor: “Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranquilas; restaura-me o vigor” (Sl 23.2-3).
O corpo e a alma precisam de tempo, de repouso e um tanto de suavidade. Quantos de nós afirmaríamos que a vida encontra-se harmonizada? Por vezes precisamos nos afastar desse tempo onde as preocupações competem entre si para um outro espaço e tempo onde o que se encontra e desfruta são os pastos verdejantes, águas tranquilas e onde o vigor é restaurado. Para tanto é necessário que a alma encontre alimento fresco, os olhos contemplem beleza não como mero consumo, e a vivência do tempo seja outra, a ponto inclusive de influenciar o ritmo na volta.
Novos sons, sabores e cores, novo cardápio para o corpo e a alma. Boas verdadeiras férias!
• Tais Machado é psicóloga clínica e atua em pastoreio e ensino na Igreja Metodista Livre, além de atuar no Seminário Servo de Cristo, no Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e na Faculdade Teológica Metodista Livre.
Gandhi já dizia que “a vida não se limita a ir cada vez mais rápido”, porém, ao nosso redor parece haver um culto à velocidade. Assimilamos o ritmo forte, angustiados por não ter tempo para fazermos o que gostaríamos.
Na era do conhecimento não saber é um problema. Nunca saberemos muito diante da enormidade de conhecimento disponível. Mas a combinação conhecimento e velocidade é perigosa. Não é difícil acumularmos algumas informações e cairmos na superficialidade. Hoje, você é pressionado a saber as manchetes do dia, o vídeo que “bombou” na internet durante a semana, a 36ª etapa da Operação Lava Jato, as últimas postagens dos youtubers mais famosos, a música que está “estourada”, o divórcio da celebridade etc. E, se algo escapa, a pergunta horrorizada é: “Mas você ainda não viu? Em que mundo você vive?”.
Na sociedade do espetáculo, imagem é tudo, e assim, cada dia mais você precisa cuidar melhor da sua. Então, você precisa saber e comentar sobre um pouco de tudo, como se fosse possível e ainda valesse muito; precisa estar com a aparência boa, com a dieta em dia e o corpo sarado. E compartilhar com o mundo um tanto de sua vida bem-sucedida, ou seja, as fotos do que você come, em que festa ou evento você se encontra, qual a viagem que faz, o look do dia, o livro que, em tese, você está lendo, e por aí vai. Conexão permanente. Você não pode desligar nunca. Afinal, verificando as notícias, os vídeos, as redes sociais, as curtidas, os comentários, você ainda deixa a desejar, imagine se você se desconectar por um pouco? A sensação para muitos é que a vida acaba, jamais irão se recuperar.
A autopercepção encontra-se comprometida pelo suposto fracasso de não dar conta de acompanhar tudo. Tanto nos é oferecido e tão pouco podemos: assim o lamento cresce, a frustração por achar-se desatualizado em algum aspecto se amplia e os desconfortos em termos de autoestima se tornam mais profundos. Pela fresta da vida podemos ver que em parte tem a ver com a ilusão da onipotência, a dificuldade em lidar com a falta, o desafio de colocar limites.
Quando se constatam cansaço e insatisfação, além do fim de ano que se aproxima, o que implica em mais euforia, encontros, comemorações e explicações, posts, fotos, poses etc, pensa-se em férias à vista, num breve horizonte.
Férias poderiam ser simplesmente um tempo onde agitados desaceleram, entram num outro ritmo onde é possível saborear o momento, afastar-se das pressões, relaxar, estar realmente presente no instante. Só que para boa parte das pessoas há um estranhamento com o ritmo mais lento, com o permitir-se não acessar as redes sociais a fim de sossegar. A possibilidade de desplugar-se e voltar-se mais para dentro, não ter a atenção tão dividida, não espremer-se com as expectativas dos outros pode ser um choque. A sensação de que tem muita coisa acontecendo e que você está perdendo, está ficando para trás, é tão maior para alguns que eles não conseguem relaxar, isso quando não levam trabalho para as férias ou mesmo durante o suposto período de descanso precisam permanecer de plantão. E ainda há aqueles que em nome da maximização da eficiência criam metas cruéis para as férias. Assim sendo, férias são quase mais do mesmo ritmo fora delas. Muda-se o ambiente externo, mas o interno é igual ao de sempre.
Gosto é da expressão do salmista quando vê o Eterno como seu pastor: “Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranquilas; restaura-me o vigor” (Sl 23.2-3).
O corpo e a alma precisam de tempo, de repouso e um tanto de suavidade. Quantos de nós afirmaríamos que a vida encontra-se harmonizada? Por vezes precisamos nos afastar desse tempo onde as preocupações competem entre si para um outro espaço e tempo onde o que se encontra e desfruta são os pastos verdejantes, águas tranquilas e onde o vigor é restaurado. Para tanto é necessário que a alma encontre alimento fresco, os olhos contemplem beleza não como mero consumo, e a vivência do tempo seja outra, a ponto inclusive de influenciar o ritmo na volta.
Novos sons, sabores e cores, novo cardápio para o corpo e a alma. Boas verdadeiras férias!
• Tais Machado é psicóloga clínica e atua em pastoreio e ensino na Igreja Metodista Livre, além de atuar no Seminário Servo de Cristo, no Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e na Faculdade Teológica Metodista Livre.
- 12 de dezembro de 2016
- Visualizações: 4350
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida