Opinião
- 03 de fevereiro de 2010
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Espelho, espelho meu
Jorge Camargo
Durante meus vinte e cinco anos morando com meus pais, o velho espelho da penteadeira de estilo clássico foi onipresente. Desde pequeno lembro-me de contemplá-lo para ajeitar o cabelo, a roupa, os sonhos e a alma. Mesmo depois, sempre quando ia à casa de meus pais, passar por ele era quase que um ritual obrigatório, uma maneira de reconciliar-me comigo mesmo e com a minha própria história.
Na adolescência, inúmeras foram as vezes em que cantei e toquei diante dele pra corrigir a postura e vencer a timidez.
Ele foi um bom amigo, alguém que me encorajou a dizer as coisas que digo em verso, som e canção.
E até hoje me ajuda a ver como sou: registrando os cabelos caídos, as rugas que denunciam as marcas do tempo e o brilho nos olhos que me faz perseverar no que acredito.
Depois da morte de minha mãe, ele saiu de cima da penteadeira e foi para a casa dos meus sogros no interior.
Enquanto escrevo este texto, Verônica, uma de minhas filhas, está dançando diante dele, se imaginando a bailarina mirim que já é e a bailarina profissional que poderá vir a ser.
Ao presenciar a cena, singela e ao mesmo tempo sublime, foi impossível não deixar que minha mente viajasse no tempo, imaginando os personagens que passaram diante dele, os momentos por ele registrados, as histórias que ele ajudou a contar, as saudades que ele suscita.
Um espelho é um luzeiro. É, ao mesmo tempo, um depósito, um relicário de sentimentos, pensamentos e emoções.
Ao me olhar nele pela enésima vez, vasculho em meu rosto traços de esperança. E os encontro todos.
Como se não bastasse tantos registros, tantas marcas, tantas memórias, o velho espelho projeta o futuro.
É espelho mágico.
Siga-nos no Twitter!
Durante meus vinte e cinco anos morando com meus pais, o velho espelho da penteadeira de estilo clássico foi onipresente. Desde pequeno lembro-me de contemplá-lo para ajeitar o cabelo, a roupa, os sonhos e a alma. Mesmo depois, sempre quando ia à casa de meus pais, passar por ele era quase que um ritual obrigatório, uma maneira de reconciliar-me comigo mesmo e com a minha própria história.
Na adolescência, inúmeras foram as vezes em que cantei e toquei diante dele pra corrigir a postura e vencer a timidez.
Ele foi um bom amigo, alguém que me encorajou a dizer as coisas que digo em verso, som e canção.
E até hoje me ajuda a ver como sou: registrando os cabelos caídos, as rugas que denunciam as marcas do tempo e o brilho nos olhos que me faz perseverar no que acredito.
Depois da morte de minha mãe, ele saiu de cima da penteadeira e foi para a casa dos meus sogros no interior.
Enquanto escrevo este texto, Verônica, uma de minhas filhas, está dançando diante dele, se imaginando a bailarina mirim que já é e a bailarina profissional que poderá vir a ser.
Ao presenciar a cena, singela e ao mesmo tempo sublime, foi impossível não deixar que minha mente viajasse no tempo, imaginando os personagens que passaram diante dele, os momentos por ele registrados, as histórias que ele ajudou a contar, as saudades que ele suscita.
Um espelho é um luzeiro. É, ao mesmo tempo, um depósito, um relicário de sentimentos, pensamentos e emoções.
Ao me olhar nele pela enésima vez, vasculho em meu rosto traços de esperança. E os encontro todos.
Como se não bastasse tantos registros, tantas marcas, tantas memórias, o velho espelho projeta o futuro.
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Mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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