Opinião
- 31 de agosto de 2021
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Fé Cristã e cultura pop: o que e como consumir?
Entrevista com Steve Turner
Por Bruno Maroni
Steve Turner é autoridade no assunto cristianismo e cultura, principalmente no que diz respeito à interação cristã com as artes e a cultura pop, muito influenciado por Rookmaaker e Schaeffer (inclusive, passou pelo L’Abri na Inglaterra). Como jornalista, trabalhou em alguns dos veículos de comunicação mais relevantes, especialmente do mundo da música, tais como as revistas Melody Maker, Rolling Stone e NME (New Musical Express).
Turner entrevistou personagens célebres do universo pop: David Bowie, John Lennon, Bono Vox. Ele é um dos maiores especialistas (do mundo!) em Beatles. Ah! Ele já passou dias em um sítio de Paul e Linda McCartney (isso mesmo, se você está lendo essa entrevista, está a uma pessoa de tomar um café com Paul McCartney). Steve também escreveu sobre Marvin Gaye, Eric Clapton, Van Morrison, Jack Kerouac e Johnny Cash. Além disso, também tem se dedicado à literatura e à poesia.
Entre seus principais trabalhos estão: Cristianismo Criativo (2011); The Beatles: Todas as Músicas, Todas as Letras, Todas as Histórias (2016); Imagine: a Vision for Christians in the Arts (2016) e… claro, Engolidos Pela Cultura Pop: Arte, Mídia e Consumo – uma Abordagem Cristã (2014) — tema da nossa conversa!
Falei um pouco com Steve Turner sobre as motivações cristãs para a interação com a cultura, os desafios ligados a esse diálogo e o papel da arte na interpretação da cultura. Aqui você saberá o que ele compartilhou sobre essas e outras questões!
1) Steve, você tem escrito sobre fé cristã, cultura, arte e entretenimento há algum tempo e já publicou livros a respeito. Também já escreveu para veículos para além do cenário cristão. Sendo alguém que participa ativamente da vida da igreja, quais são as suas motivações para estudar a interação da fé com a cultura pop?
A crença de que, se o Cristianismo é verdadeiro, ele é verdade em todas as áreas da vida. Não é apenas verdade para uma pequena área “espiritual”. É a verdade sobre ‘o que é’ e, portanto, pode ser aplicada à nossa compreensão das artes e da cultura. Em vez de ser um obstáculo ao meu envolvimento na cultura, deveria ser uma grande vantagem. Eu não queria uma vida dividida, em que eu tinha uma perspectiva quando estava na igreja, mas uma perspectiva completamente diferente no cinema, clube ou sala de concertos. Acho que entendi melhor os Beatles, por exemplo, por causa da minha fé.
2) E quais são as suas principais referências (como autores e livros) para esse tipo de diálogo entre o cristianismo e a cultura?
Os livros que me ajudaram a me firmar foram: A Arte Moderna e a Morte de uma Cultura, de Hans Rookmaaker, e O Deus que intervém, de Francis Schaeffer; O Evangelho segundo Peanuts, de Robert L. Short (mostrando como as percepções cristãs permeiam a história em quadrinhos), ensaios sobre religião e literatura, de C. S. Lewis e T. S. Eliot; The Invading Gospel, de Jack Clemo (um poeta britânico, cego, cristão calvinista); A mente cristã, de Harry Blamires; Mystery and Manners, de Flannery O’Connor; e A Arte Não Precisa de Justificativa, de Hans Rookmaaker.
3) Por que você considera importante para um discípulo de Jesus participar intencionalmente da cultura? Quais são os riscos que precisamos evitar nesta iniciativa?
Acho que estamos envolvidos, gostemos ou não. Todos nós checamos o Facebook, olhamos o Instagram, assistimos TV, vemos filmes, lemos jornais ou revistas, vemos anúncios, ouvimos músicas. A questão é como devemos nos envolver como consumidores e criadores. O risco é sermos sobrecarregados pelo que consumimos porque não temos tempo para analisar. O maior problema, há 50 anos, eram os cristãos se restringindo à cultura popular (sem filmes, sem TV, etc). Agora, é o consumo acrítico. Eu ouço cristãos chamando os filmes de ‘bons’, mas sem definir o que significa ser “bom”. Boa direção? Boa atuação? Verdadeiro? Um filme pode ser lindo de assistir, mas uma mentira. Um filme pode ser mal montado, mas verdadeiro.
4) Qual papel a boa teologia bíblica tem para uma interação saudável com a cultura contemporânea?
Se você vive em uma cultura secular e tem uma mente secular, pode simplesmente “seguir o fluxo”. Você pode simplesmente se deixar moldar pelo espírito da época. Como cristãos, é provável que nos encontremos em conflito com a cosmovisão dominante. Precisamos de força e conhecimento para tomar parte nessa batalha.
5) Quais você diria que são os ídolos mais enfáticos que motivam a cultura pop hoje? E quais são os traços de graça mais evidentes que ela comunica?
Provavelmente o ídolo da autenticidade. Dizem que o objetivo da vida é “ser você mesmo”. Uma vez ouvi Tim Keller dizer que o objetivo da geração de seus pais, nascida após a Primeira Guerra Mundial, era ser boa. O objetivo de seus filhos (após a 2ª Guerra Mundial) era ser livre; e o objetivo da geração dos millenials era ser autêntica. Acho que há graça no aumento da conectividade, no compartilhamento viabilizado pelas redes sociais e na disponibilização de conhecimento on-line.
6) Agora, uma questão sobre artes. Qual é a contribuição singular das produções artísticas para o entendimento da nossa atmosfera cultural? Tem algum aspecto na arte que a torne um medidor distinto das tendências da nossa cultura?
Grande parte do que consideramos cultura é trabalho de artistas — de tatuagens, moda à arquitetura, design, publicidade, urbanismo e cinema. Acho que os artistas geralmente estão mais sintonizados com as mudanças sociais — assim como meu cachorro está mais sintonizado com os cheiros! Eles tendem a explorar e experimentar muito e questionar por que as coisas são como são. É mais provável que perguntem “Por quê?” e “Por que não?”. A última pergunta é difícil de responder… porque os artistas muitas vezes expõem um vício e sucumbem a outro!
7) Quais direções objetivas você daria a estudantes de teologia pública, que servem em comunidades cristãs, para participarem ativamente na cultura pop?
Nós participamos da cultura, suponho, de três maneiras principais. (1) Podemos analisar as artes como estudantes ou como críticos profissionais. Podemos ser estudantes de literatura, por exemplo, ou podemos ter um blog. Nosso trabalho é dar sentido ao que vemos e ouvimos por meio de uma “moldura” cristã. (2) Podemos ser consumidores — leitores de livros, apreciadores de pinturas — e precisamos nos envolver com a visão ou a mensagem do artista. (3) Podemos ser criadores — seja em um contexto secular (lendo poemas em um bar, cantando canções em um clube), ou em um contexto especificamente religioso (na igreja, durante uma missão, em uma conferência).
Quanto mais completamente cristãos somos em nossa vida devocional, comportamento e estudo, é mais provável que o trabalho que produzimos seja o que T. S. Eliot chamou de “implicitamente cristão”. Assim como nosso suor é feito dos nutrientes que ingerimos, nossa expressão artística é feita daquilo que nutrimos em nossas mentes e espíritos.
• Bruno Maroni, 23 anos. Teólogo formado pela FTBSP, trabalha como editor no Ministério Razão Para Viver e serve na equipe pastoral da Comviver, igreja batista em Jundiaí-SP. Autor do recém publicado Cristianismo & Cultura Pop, aluno do Invisible College e colaborador do Coletivo Tangente e IACA Brasil, onde escreve sobre cosmovisão cristã, cultura e música popular.
Entrevista publicada originalmente no site do Invisible College. Reproduzida com permissão.
>> CURSO DE TEOLOGIA & CULTURA POP: Estão abertas até 5 de setembro as inscrições para o curso Jardim Elétrico - Interação cultural à luz da fé cristã, ministrado por Bruno Maroni e oferecido pelo Invisible College. Mais informações aqui <<
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