Opinião
- 26 de janeiro de 2007
- Visualizações: 4055
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Entre profetas espiritualistas e líderes pragmáticos
por Rodolfo Montosa
Tenho percebido uma constante e crescente tensão entre dois extremos na liderança cristã evangélica. De um lado, aqueles que passo a chamar de profetas espiritualistas, que, em nome da essência relacional do evangelho, da sublimidade da missão, da profundidade existencial do conteúdo bíblico e da adoração contemplativa, sacam seu arsenal verborrágico contra toda expressão organizacional da Igreja, fixando-se na comparação inexata e parcial com empresas de mercado. De outro lado, aqueles que passo a chamar de líderes pragmáticos, que, em nome do reino de Deus, da carência dos necessitados, do cumprimento de seu chamamento e de sua própria visão, voltam-se alucinadamente para a obtenção de resultados objetivos em seus ministérios, ignorando por completo a crítica dos primeiros, ou qualquer outro tipo de reflexão teológico-doutrinária por considerarem esse tipo absoluta perda de tempo. Quem afinal está certo? Simultaneamente os dois e nenhum. Senão, passemos a algumas considerações.
Crentes não são clientes. Congregação não é uma franquia. Pregação não é marketing. Apelo não é fechamento de vendas. Aconselhamento, ensino ou orações não são serviços prestados; nem dízimo, o pagamento dos mesmos. Contudo, a igreja tem empregados, recolhe encargos, tem CNPJ, faz sua contabilidade, tem fluxo financeiro constante de recebimentos e pagamentos, acumula patrimônio, realiza assembléias, faz prestação de contas, localiza-se em um endereço estratégico, está na lista telefônica, contrata, distrata e muito mais. O que é isso então? Ao mesmo tempo, a realidade espiritual e organizacional da Igreja.
Na realidade espiritual tudo está centrado em Cristo: sua morte sacrificial, sua ressurreição, seu perdão, nosso arrependimento, nossa confissão, a reconciliação, o reaprendizado, a transformação, a constatação externa da mudança interior, o testemunho, a divulgação dessa graça, a permanente renúncia, o crescimento espiritual, o relacionamento renovado com Deus e com o próximo.
Na realidade organizacional tudo está centrado nas pessoas: a regularidade dos encontros, seu conteúdo, o atendimento das necessidades, a formação educacional, o local, o horário, o programa, o som, as cadeiras, a decoração, os compromissos financeiros conseqüentes, os desafios de alcançar outros, a mobilização para fora, o senso do ir, do fazer acontecer, do se importar.
O grande desafio a todos, então, é conciliar essas duas realidades concomitantes. Não se levantar contra uma, como forma de exaltar a outra. Muito menos focalizar-se na outra, ignorando a existência de uma. Buscar as motivações santas e íntegras do coração na melhor excelência e destreza das mãos.
Se os espiritualistas insistirem em ignorar a realidade organizacional da Igreja, agindo inconseqüentemente sem buscar resultados para o reino de Deus, por favor: renunciem seus salários, doem o patrimônio acumulado, dispensem os empregados, rasguem as atas, abandonem os programas de ensino, as liturgias programadas, os planos futuros. Estão convidados à frustração ministerial. Mas não se esqueçam de apagar as luzes ao final.
Se os pragmáticos insistirem em ignorar a realidade espiritual da Igreja, agindo sem temor e santidade, por favor: aproveitem ao máximo tudo o que arrecadarem, insuflem-se ao extremo do prazer da auto-promoção, pois naquele dia muitos dirão a Jesus: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então ele lhes dirá claramente: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”
• Rodolfo Montosa, bacharel em teologia pela FTSA e em administração pela FGV, é diretor do Instituto Jetro — www.institutojetro.com
Tenho percebido uma constante e crescente tensão entre dois extremos na liderança cristã evangélica. De um lado, aqueles que passo a chamar de profetas espiritualistas, que, em nome da essência relacional do evangelho, da sublimidade da missão, da profundidade existencial do conteúdo bíblico e da adoração contemplativa, sacam seu arsenal verborrágico contra toda expressão organizacional da Igreja, fixando-se na comparação inexata e parcial com empresas de mercado. De outro lado, aqueles que passo a chamar de líderes pragmáticos, que, em nome do reino de Deus, da carência dos necessitados, do cumprimento de seu chamamento e de sua própria visão, voltam-se alucinadamente para a obtenção de resultados objetivos em seus ministérios, ignorando por completo a crítica dos primeiros, ou qualquer outro tipo de reflexão teológico-doutrinária por considerarem esse tipo absoluta perda de tempo. Quem afinal está certo? Simultaneamente os dois e nenhum. Senão, passemos a algumas considerações.
Crentes não são clientes. Congregação não é uma franquia. Pregação não é marketing. Apelo não é fechamento de vendas. Aconselhamento, ensino ou orações não são serviços prestados; nem dízimo, o pagamento dos mesmos. Contudo, a igreja tem empregados, recolhe encargos, tem CNPJ, faz sua contabilidade, tem fluxo financeiro constante de recebimentos e pagamentos, acumula patrimônio, realiza assembléias, faz prestação de contas, localiza-se em um endereço estratégico, está na lista telefônica, contrata, distrata e muito mais. O que é isso então? Ao mesmo tempo, a realidade espiritual e organizacional da Igreja.
Na realidade espiritual tudo está centrado em Cristo: sua morte sacrificial, sua ressurreição, seu perdão, nosso arrependimento, nossa confissão, a reconciliação, o reaprendizado, a transformação, a constatação externa da mudança interior, o testemunho, a divulgação dessa graça, a permanente renúncia, o crescimento espiritual, o relacionamento renovado com Deus e com o próximo.
Na realidade organizacional tudo está centrado nas pessoas: a regularidade dos encontros, seu conteúdo, o atendimento das necessidades, a formação educacional, o local, o horário, o programa, o som, as cadeiras, a decoração, os compromissos financeiros conseqüentes, os desafios de alcançar outros, a mobilização para fora, o senso do ir, do fazer acontecer, do se importar.
O grande desafio a todos, então, é conciliar essas duas realidades concomitantes. Não se levantar contra uma, como forma de exaltar a outra. Muito menos focalizar-se na outra, ignorando a existência de uma. Buscar as motivações santas e íntegras do coração na melhor excelência e destreza das mãos.
Se os espiritualistas insistirem em ignorar a realidade organizacional da Igreja, agindo inconseqüentemente sem buscar resultados para o reino de Deus, por favor: renunciem seus salários, doem o patrimônio acumulado, dispensem os empregados, rasguem as atas, abandonem os programas de ensino, as liturgias programadas, os planos futuros. Estão convidados à frustração ministerial. Mas não se esqueçam de apagar as luzes ao final.
Se os pragmáticos insistirem em ignorar a realidade espiritual da Igreja, agindo sem temor e santidade, por favor: aproveitem ao máximo tudo o que arrecadarem, insuflem-se ao extremo do prazer da auto-promoção, pois naquele dia muitos dirão a Jesus: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então ele lhes dirá claramente: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”
• Rodolfo Montosa, bacharel em teologia pela FTSA e em administração pela FGV, é diretor do Instituto Jetro — www.institutojetro.com
- 26 de janeiro de 2007
- Visualizações: 4055
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Leia mais em Opinião
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Assuntos em Últimas
- 500AnosReforma
- Aconteceu Comigo
- Aconteceu há...
- Agenda50anos
- Arte e Cultura
- Biografia e História
- Casamento e Família
- Ciência
- Devocionário
- Espiritualidade
- Estudo Bíblico
- Evangelização e Missões
- Ética e Comportamento
- Igreja e Liderança
- Igreja em ação
- Institucional
- Juventude
- Legado e Louvor
- Meio Ambiente
- Política e Sociedade
- Reportagem
- Resenha
- Série Ciência e Fé Cristã
- Teologia e Doutrina
- Testemunho
- Vida Cristã
Revista Ultimato
+ lidos
- Descobrindo o potencial da diáspora: um chamado à igreja brasileira
- Trabalho sob a perspectiva do reino de Deus
- Jesus [não] tem mais graça
- Onde estão as crianças?
- Não confunda o Natal com Papai Noel — Para celebrar o verdadeiro Natal
- Uma cidade sitiada - Uma abordagem literária do Salmo 31
- C. S. Lewis, 126 anos
- Ultimato recebe prêmio Areté 2024
- Exalte o Altíssimo!
- Paciência e determinação: virtudes essenciais para enfrentar a realidade da vida