Opinião
- 26 de janeiro de 2007
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Entre profetas espiritualistas e líderes pragmáticos
por Rodolfo Montosa
Tenho percebido uma constante e crescente tensão entre dois extremos na liderança cristã evangélica. De um lado, aqueles que passo a chamar de profetas espiritualistas, que, em nome da essência relacional do evangelho, da sublimidade da missão, da profundidade existencial do conteúdo bíblico e da adoração contemplativa, sacam seu arsenal verborrágico contra toda expressão organizacional da Igreja, fixando-se na comparação inexata e parcial com empresas de mercado. De outro lado, aqueles que passo a chamar de líderes pragmáticos, que, em nome do reino de Deus, da carência dos necessitados, do cumprimento de seu chamamento e de sua própria visão, voltam-se alucinadamente para a obtenção de resultados objetivos em seus ministérios, ignorando por completo a crítica dos primeiros, ou qualquer outro tipo de reflexão teológico-doutrinária por considerarem esse tipo absoluta perda de tempo. Quem afinal está certo? Simultaneamente os dois e nenhum. Senão, passemos a algumas considerações.
Crentes não são clientes. Congregação não é uma franquia. Pregação não é marketing. Apelo não é fechamento de vendas. Aconselhamento, ensino ou orações não são serviços prestados; nem dízimo, o pagamento dos mesmos. Contudo, a igreja tem empregados, recolhe encargos, tem CNPJ, faz sua contabilidade, tem fluxo financeiro constante de recebimentos e pagamentos, acumula patrimônio, realiza assembléias, faz prestação de contas, localiza-se em um endereço estratégico, está na lista telefônica, contrata, distrata e muito mais. O que é isso então? Ao mesmo tempo, a realidade espiritual e organizacional da Igreja.
Na realidade espiritual tudo está centrado em Cristo: sua morte sacrificial, sua ressurreição, seu perdão, nosso arrependimento, nossa confissão, a reconciliação, o reaprendizado, a transformação, a constatação externa da mudança interior, o testemunho, a divulgação dessa graça, a permanente renúncia, o crescimento espiritual, o relacionamento renovado com Deus e com o próximo.
Na realidade organizacional tudo está centrado nas pessoas: a regularidade dos encontros, seu conteúdo, o atendimento das necessidades, a formação educacional, o local, o horário, o programa, o som, as cadeiras, a decoração, os compromissos financeiros conseqüentes, os desafios de alcançar outros, a mobilização para fora, o senso do ir, do fazer acontecer, do se importar.
O grande desafio a todos, então, é conciliar essas duas realidades concomitantes. Não se levantar contra uma, como forma de exaltar a outra. Muito menos focalizar-se na outra, ignorando a existência de uma. Buscar as motivações santas e íntegras do coração na melhor excelência e destreza das mãos.
Se os espiritualistas insistirem em ignorar a realidade organizacional da Igreja, agindo inconseqüentemente sem buscar resultados para o reino de Deus, por favor: renunciem seus salários, doem o patrimônio acumulado, dispensem os empregados, rasguem as atas, abandonem os programas de ensino, as liturgias programadas, os planos futuros. Estão convidados à frustração ministerial. Mas não se esqueçam de apagar as luzes ao final.
Se os pragmáticos insistirem em ignorar a realidade espiritual da Igreja, agindo sem temor e santidade, por favor: aproveitem ao máximo tudo o que arrecadarem, insuflem-se ao extremo do prazer da auto-promoção, pois naquele dia muitos dirão a Jesus: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então ele lhes dirá claramente: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”
• Rodolfo Montosa, bacharel em teologia pela FTSA e em administração pela FGV, é diretor do Instituto Jetro — www.institutojetro.com
Tenho percebido uma constante e crescente tensão entre dois extremos na liderança cristã evangélica. De um lado, aqueles que passo a chamar de profetas espiritualistas, que, em nome da essência relacional do evangelho, da sublimidade da missão, da profundidade existencial do conteúdo bíblico e da adoração contemplativa, sacam seu arsenal verborrágico contra toda expressão organizacional da Igreja, fixando-se na comparação inexata e parcial com empresas de mercado. De outro lado, aqueles que passo a chamar de líderes pragmáticos, que, em nome do reino de Deus, da carência dos necessitados, do cumprimento de seu chamamento e de sua própria visão, voltam-se alucinadamente para a obtenção de resultados objetivos em seus ministérios, ignorando por completo a crítica dos primeiros, ou qualquer outro tipo de reflexão teológico-doutrinária por considerarem esse tipo absoluta perda de tempo. Quem afinal está certo? Simultaneamente os dois e nenhum. Senão, passemos a algumas considerações.
Crentes não são clientes. Congregação não é uma franquia. Pregação não é marketing. Apelo não é fechamento de vendas. Aconselhamento, ensino ou orações não são serviços prestados; nem dízimo, o pagamento dos mesmos. Contudo, a igreja tem empregados, recolhe encargos, tem CNPJ, faz sua contabilidade, tem fluxo financeiro constante de recebimentos e pagamentos, acumula patrimônio, realiza assembléias, faz prestação de contas, localiza-se em um endereço estratégico, está na lista telefônica, contrata, distrata e muito mais. O que é isso então? Ao mesmo tempo, a realidade espiritual e organizacional da Igreja.
Na realidade espiritual tudo está centrado em Cristo: sua morte sacrificial, sua ressurreição, seu perdão, nosso arrependimento, nossa confissão, a reconciliação, o reaprendizado, a transformação, a constatação externa da mudança interior, o testemunho, a divulgação dessa graça, a permanente renúncia, o crescimento espiritual, o relacionamento renovado com Deus e com o próximo.
Na realidade organizacional tudo está centrado nas pessoas: a regularidade dos encontros, seu conteúdo, o atendimento das necessidades, a formação educacional, o local, o horário, o programa, o som, as cadeiras, a decoração, os compromissos financeiros conseqüentes, os desafios de alcançar outros, a mobilização para fora, o senso do ir, do fazer acontecer, do se importar.
O grande desafio a todos, então, é conciliar essas duas realidades concomitantes. Não se levantar contra uma, como forma de exaltar a outra. Muito menos focalizar-se na outra, ignorando a existência de uma. Buscar as motivações santas e íntegras do coração na melhor excelência e destreza das mãos.
Se os espiritualistas insistirem em ignorar a realidade organizacional da Igreja, agindo inconseqüentemente sem buscar resultados para o reino de Deus, por favor: renunciem seus salários, doem o patrimônio acumulado, dispensem os empregados, rasguem as atas, abandonem os programas de ensino, as liturgias programadas, os planos futuros. Estão convidados à frustração ministerial. Mas não se esqueçam de apagar as luzes ao final.
Se os pragmáticos insistirem em ignorar a realidade espiritual da Igreja, agindo sem temor e santidade, por favor: aproveitem ao máximo tudo o que arrecadarem, insuflem-se ao extremo do prazer da auto-promoção, pois naquele dia muitos dirão a Jesus: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então ele lhes dirá claramente: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”
• Rodolfo Montosa, bacharel em teologia pela FTSA e em administração pela FGV, é diretor do Instituto Jetro — www.institutojetro.com
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