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- 23 de janeiro de 2019
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Deus salve as baleias
Por Marcelo Renan D. Santos
Há mais de vinte anos, países membros da Comissão Internacional da Baleia tentam criar um santuário de baleias no Atlântico Sul, protegendo diversas espécies cuja caça já é proibida apenas nas águas territoriais dos países da região.
Moro em Vitória, no Espírito Santo. A primeira capela construída na cidade, no século 16, Igreja de Santa Luzia, ainda está de pé. Além dela, outras construções antigas como o famoso Convento da Penha, de 1558, permanecem firmes com seus blocos de pedra colados por uma massa de cal, areia e óleo de baleia. Naquela época, as baleias eram também fonte de energia, uma vez que as lamparinas das cidades eram alimentadas com seu óleo. Aqui, a carne delas nunca foi um prato comum como é em alguns países nórdicos, onde comunidades tradicionais esquimós ainda dependem dela para se nutrir.
Em todo o mundo, as baleias viraram um símbolo grandioso e carismático da diversidade e da beleza marinha, exceto para alguns japoneses. Após a Segunda Guerra Mundial, a carne de baleia passou a ser parte da merenda escolar e a alimentar uma boa parcela da população daquele país destruído. Hoje não é mais, porém a caça continua.
Há uma convenção que rege a caça das baleias no mundo, que foi criada pela Comissão Internacional da Baleia (CIB), instalada em 1946. Em 1986 uma moratória foi estabelecida proibindo a caça, exceto para pesquisa científica. Com essa justificativa, o Japão mantém a caça de milhares de baleias desde então. Contudo, a carne de baleia não é apreciada no Japão, tampouco se utiliza óleo em construções e luminárias. Noventa e cinco por cento da população nem consome a carne, que fica armazenada aos milhares de toneladas em grandes frigoríficos. Perante a comunidade internacional essa atitude chega a ser constrangedora.
Há mais de vinte anos, o Brasil e outros países membros da CIB tentam criar um santuário de baleias no Atlântico Sul, protegendo diversas espécies cuja caça já é proibida apenas nas águas territoriais dos países da região. Na última reunião da CIB, realizada em Florianópolis, SC, em setembro de 2018, o bloco de países contra a caça perdeu novamente em uma votação que se ganha com 75% dos votos. Os países que ganharam foram o Japão, a Rússia e os países nórdicos, que lideram um bloco de 25 países estranhamente aliados, como a Mongólia (que nem tem mar), alguns países africanos, caribenhos e sul-americanos que recebem do Japão recursos para a pesca. Na prática, um pequeno grupo de japoneses orientados pela ganância e falta de respeito pela criação coloca diversos países contra o interesse comum e o benefício da maioria para manter a indústria baleeira, que é completamente descontextualizada.
Por que insistimos em atitudes consideradas pela maioria como inadequadas ou que representam um atraso e até mesmo um malefício para o próximo?
> Conteúdo originalmente publicado em “Mais do que notícias”, da edição 374 da revista Ultimato.
Imagem: Leonardo Merçon. Usada com permissão.
Leia mais:
» Símbolo do cristianismo ameaçado de extinção
Há mais de vinte anos, países membros da Comissão Internacional da Baleia tentam criar um santuário de baleias no Atlântico Sul, protegendo diversas espécies cuja caça já é proibida apenas nas águas territoriais dos países da região.
Moro em Vitória, no Espírito Santo. A primeira capela construída na cidade, no século 16, Igreja de Santa Luzia, ainda está de pé. Além dela, outras construções antigas como o famoso Convento da Penha, de 1558, permanecem firmes com seus blocos de pedra colados por uma massa de cal, areia e óleo de baleia. Naquela época, as baleias eram também fonte de energia, uma vez que as lamparinas das cidades eram alimentadas com seu óleo. Aqui, a carne delas nunca foi um prato comum como é em alguns países nórdicos, onde comunidades tradicionais esquimós ainda dependem dela para se nutrir.
Em todo o mundo, as baleias viraram um símbolo grandioso e carismático da diversidade e da beleza marinha, exceto para alguns japoneses. Após a Segunda Guerra Mundial, a carne de baleia passou a ser parte da merenda escolar e a alimentar uma boa parcela da população daquele país destruído. Hoje não é mais, porém a caça continua.
Há uma convenção que rege a caça das baleias no mundo, que foi criada pela Comissão Internacional da Baleia (CIB), instalada em 1946. Em 1986 uma moratória foi estabelecida proibindo a caça, exceto para pesquisa científica. Com essa justificativa, o Japão mantém a caça de milhares de baleias desde então. Contudo, a carne de baleia não é apreciada no Japão, tampouco se utiliza óleo em construções e luminárias. Noventa e cinco por cento da população nem consome a carne, que fica armazenada aos milhares de toneladas em grandes frigoríficos. Perante a comunidade internacional essa atitude chega a ser constrangedora.
Há mais de vinte anos, o Brasil e outros países membros da CIB tentam criar um santuário de baleias no Atlântico Sul, protegendo diversas espécies cuja caça já é proibida apenas nas águas territoriais dos países da região. Na última reunião da CIB, realizada em Florianópolis, SC, em setembro de 2018, o bloco de países contra a caça perdeu novamente em uma votação que se ganha com 75% dos votos. Os países que ganharam foram o Japão, a Rússia e os países nórdicos, que lideram um bloco de 25 países estranhamente aliados, como a Mongólia (que nem tem mar), alguns países africanos, caribenhos e sul-americanos que recebem do Japão recursos para a pesca. Na prática, um pequeno grupo de japoneses orientados pela ganância e falta de respeito pela criação coloca diversos países contra o interesse comum e o benefício da maioria para manter a indústria baleeira, que é completamente descontextualizada.
Por que insistimos em atitudes consideradas pela maioria como inadequadas ou que representam um atraso e até mesmo um malefício para o próximo?
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