Opinião
- 20 de setembro de 2005
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Desarmar é preciso
Antônio Jácome de Lima Jr.
“Se alguém quer ser um homem ou uma mulher de Deus, deve descobrir o que quebranta o coração de Deus e continuar pedindo a Deus que quebrante seu próprio coração com a mesma misericórdia”
(Bob Perce, jornalista e fundador da Visão Mundial).
Quando se fala em segurança pública e nas difíceis estatísticas que permeiam a questão da violência no Brasil, me vêm à mente um dos textos mais conhecidos e desafiadores dos Evangelhos: a parábola do bom samaritano (Lc 10.20). Apesar de esse texto ser familiar ao cristão, um de seus mais relevantes significados nos tem passado despercebido: o chamado à misericórdia, que envolve a presença contextualizada e ativa da igreja na busca de soluções para os grandes problemas de nossa sociedade. A parábola se passa em um contexto de violência e mostra a forma como três indivíduos — o sacerdote, o levita e o samaritano — reagem a ela. Os dois primeiros passam pelo “outro lado”, esquivando-se de uma responsabilidade prática em relação ao problema; já o samaritano assume uma postura comprometida, dispensa tempo e recursos para transformar a realidade.
Vivemos num tempo de profunda tensão. A sensação de insegurança e o sentimento cada vez mais comum de que uma onda de violência toma conta da sociedade têm nos estimulado a crer que a posse de uma arma é garantia de segurança pessoal. Assim, a arma é encarada pelo cidadão não como um instrumento de autodestruição, mas como uma ferramenta legítima de proteção. Esse é um entendimento extremamente perigoso.
Uma pesquisa realizada em São Paulo pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais atesta que pessoas que portam armas de fogo têm 56% mais chances de serem assassinadas durante um assalto em comparação com as vítimas sem armas. A análise de armas apreendidas pela polícia em poder de criminosos mostra que 30% delas foram compradas legalmente e caíram em mãos erradas. Outra pesquisa mostra que uma arma em casa tem 22 vezes mais chances de ser utilizada em homicídios, acidentes ou suicídios do que de ser usada em situação de legítima autodefesa. Em 2002, estima-se que 38.088 pessoas morreram a tiros no Brasil; número superior ao de muitos conflitos armados internacionais. No Brasil, morrem mais pessoas por arma de fogo (29,6%) do que em acidentes de trânsito (25,1%).
Há um ano, a campanha do desarmamento começou a ser desenvolvida com dois principais objetivos: sensibilizar a população à entrega voluntária de armas em postos de recolhimento autorizados, onde estas são danificadas e enviadas para a destruição; e a conscientizar a população brasileira para que vote contra o comércio de armas no referendo nacional previsto para outubro. É uma iniciativa em que o engajamento da igreja evangélica representa um diferencial relevante, pois o tema em pauta está relacionado à natureza de nossa missão: a vida. No livro do profeta Jeremias somos instados a assumir uma postura efetiva em relação à paz na cidade: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz, vós tereis paz” (Jr 29.7). Como cristãos devemos sinalizar neste mundo, com a maior densidade possível, o reino de Deus, que “não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no espírito santo” (Rm 14.17). Como igreja, podemos reagir de muitas maneiras à alarmante situação de violência que envolve a utilização de armas de fogo no país. Como o sacerdote e o levita, podemos negligenciar nosso chamado de pacificadores e a relevância social do evangelho de Cristo; ou como o samaritano, podemos nos envolver em ações como a campanha do desarmamento e ajudar a transformar de modo integral a nossa realidade. “O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores” (Tg 3.18) — semeemos!
Antônio Jácome de Lima Jr. é pastor da Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Natal, médico, advogado, vice-governador do RN, membro do Comitê Potiguar do Desarmamento e presidente do Fórum Nacional de Vice-governadores.
“Se alguém quer ser um homem ou uma mulher de Deus, deve descobrir o que quebranta o coração de Deus e continuar pedindo a Deus que quebrante seu próprio coração com a mesma misericórdia”
(Bob Perce, jornalista e fundador da Visão Mundial).
Quando se fala em segurança pública e nas difíceis estatísticas que permeiam a questão da violência no Brasil, me vêm à mente um dos textos mais conhecidos e desafiadores dos Evangelhos: a parábola do bom samaritano (Lc 10.20). Apesar de esse texto ser familiar ao cristão, um de seus mais relevantes significados nos tem passado despercebido: o chamado à misericórdia, que envolve a presença contextualizada e ativa da igreja na busca de soluções para os grandes problemas de nossa sociedade. A parábola se passa em um contexto de violência e mostra a forma como três indivíduos — o sacerdote, o levita e o samaritano — reagem a ela. Os dois primeiros passam pelo “outro lado”, esquivando-se de uma responsabilidade prática em relação ao problema; já o samaritano assume uma postura comprometida, dispensa tempo e recursos para transformar a realidade.
Vivemos num tempo de profunda tensão. A sensação de insegurança e o sentimento cada vez mais comum de que uma onda de violência toma conta da sociedade têm nos estimulado a crer que a posse de uma arma é garantia de segurança pessoal. Assim, a arma é encarada pelo cidadão não como um instrumento de autodestruição, mas como uma ferramenta legítima de proteção. Esse é um entendimento extremamente perigoso.
Uma pesquisa realizada em São Paulo pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais atesta que pessoas que portam armas de fogo têm 56% mais chances de serem assassinadas durante um assalto em comparação com as vítimas sem armas. A análise de armas apreendidas pela polícia em poder de criminosos mostra que 30% delas foram compradas legalmente e caíram em mãos erradas. Outra pesquisa mostra que uma arma em casa tem 22 vezes mais chances de ser utilizada em homicídios, acidentes ou suicídios do que de ser usada em situação de legítima autodefesa. Em 2002, estima-se que 38.088 pessoas morreram a tiros no Brasil; número superior ao de muitos conflitos armados internacionais. No Brasil, morrem mais pessoas por arma de fogo (29,6%) do que em acidentes de trânsito (25,1%).
Há um ano, a campanha do desarmamento começou a ser desenvolvida com dois principais objetivos: sensibilizar a população à entrega voluntária de armas em postos de recolhimento autorizados, onde estas são danificadas e enviadas para a destruição; e a conscientizar a população brasileira para que vote contra o comércio de armas no referendo nacional previsto para outubro. É uma iniciativa em que o engajamento da igreja evangélica representa um diferencial relevante, pois o tema em pauta está relacionado à natureza de nossa missão: a vida. No livro do profeta Jeremias somos instados a assumir uma postura efetiva em relação à paz na cidade: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz, vós tereis paz” (Jr 29.7). Como cristãos devemos sinalizar neste mundo, com a maior densidade possível, o reino de Deus, que “não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no espírito santo” (Rm 14.17). Como igreja, podemos reagir de muitas maneiras à alarmante situação de violência que envolve a utilização de armas de fogo no país. Como o sacerdote e o levita, podemos negligenciar nosso chamado de pacificadores e a relevância social do evangelho de Cristo; ou como o samaritano, podemos nos envolver em ações como a campanha do desarmamento e ajudar a transformar de modo integral a nossa realidade. “O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores” (Tg 3.18) — semeemos!
Antônio Jácome de Lima Jr. é pastor da Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Natal, médico, advogado, vice-governador do RN, membro do Comitê Potiguar do Desarmamento e presidente do Fórum Nacional de Vice-governadores.
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