Opinião
- 27 de setembro de 2018
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Cuidado com o banal
Por Luiz Fernando dos Santos
“Tal como o estalo de espinhos debaixo da panela, assim é o riso dos tolos. Isso também não faz sentido” (Ecl 7.6).
Um dos perigos com consequências mais letais para a vida cristã é a banalização. Banalizar é transformar valores em coisas triviais, é a vulgarização do que é importante e o esvaziamento das coisas significativas. A nossa sociedade banaliza tudo o que pode. Vulgariza a sexualidade, coisifica o corpo humano, faz comédia da tragédia, abranda as consequências dos atos malsãos e trata com leviandade tanto a vida como a morte.
A banalização mormente começa na relação com Deus. Começa primeiro com a relativização ou a acomodação da Lei Moral fazendo concessões levianas em cada um dos mandamentos. Admitindo ídolos e recepcionando doutrinas espúrias, prestando reverência ou culto ao que não é Deus, usando o domingo como “fim de semana”, quando na verdade ele é o primeiro dia dos demais dias. Então, gasta-se esse dia com os exageros do lazer, esporte, cultura e entretenimento.
Nosso tempo não leva a sério a autoridade de Deus, seus direitos e o caráter normativo das Escrituras, por isso não tem respeito ou apreço pela autoridade, nem mesmo a dos pais, o que se estende depois para todas as áreas da vida: professores, supervisores, chefes, patrões, policiais etc. Quando os poderes e as autoridades, preceitos e normas são esvaziados, as relações pessoais em todos os níveis ficam comprometidas. Por isso a nossa sociedade é tão violenta e os roubos, as corrupções, os adultérios e os assassinatos dão prova disso. Sem falar nas toxinas da contemporaneidade como o desprezo pelo meio ambiente, o consumismo desenfreado, a pornografia onipresente e a perversão do direito, homens e mulheres chamando mal de bem, crime de justiça, trevas de luz, cultuando bandidos e destruindo reputações. Tudo isso já seria suficiente para alarmar-nos e fazer-nos temer pelo nosso futuro.
Todavia, o quadro piora muito quando encontramos a cultura da banalização dessa relação com Deus no meio dos cristãos e de maneira especial presente no comportamento dos líderes, pastores, presbíteros, teólogos e professores de Bíblia em geral. Quanta tragédia poderia ser evitada se os que estão encarregados de conduzir o povo de Deus pelo ensino e pela vida, não esvaziassem a Teologia para encher o templo, não relativizassem o pecado para fidelizar o ‘cliente’, não fizessem casuística e acomodassem as exigências do Evangelho ao espírito de época, deixando que a igreja seja capitulada pelo ‘politicamente correto’, ou ‘porque todo mundo faz’ ou porque é comum.
Os líderes jamais poderiam banalizar as promessas de Deus em Cristo no Evangelho, sob pena de matar a esperança e solapar as convicções e seguranças dos crentes. Entretanto, deveriam menos ainda banalizar as advertências e ameaças da Palavra de Deus que são tão reais e necessárias à saúde da vida cristã, como aquelas outras. Vivemos dias difíceis e fazer pilhéria de tudo, e o tempo todo, de nossa situação política e sobretudo moral não tem a menor graça e não deveria partir justamente de quem tem a missão de conduzir os outros à verdade e no viver de modo a agradar a Deus.
A Igreja de Cristo é uma comunidade profética, é o povo com quem Deus trata na intimidade e lhe revela por meio das Escrituras a sua vontade. Como povo de profetas é nosso dever proclamar no coração do mundo as Boas Novas do Senhor que podem vir em forma de anúncio da graça ou de denúncias contra toda impiedade e justiça.
Os cristãos precisam voltar às páginas do Antigo Testamento para entender as seriedades de tempos como esses em que vivemos. Tempos de iniquidades e impiedades praticadas à luz do dia. Dias em que magistrados sem nenhuma desfaçatez operam o direito sem imparcialidade ideológica e movidos por forças alienígenas às garantias da justiça, como o poder econômico, as pressões políticas, os lobbys dos impérios financeiros e a opinião pública. Dias difíceis quando os que nos fazem representar nas câmaras ou que recebem poder para governar, tudo o que fazem é manipular as leis e as massas para se perpetuarem no poder e praticar ações delituosas sob o espúrio manto da imunidade.
Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías, Jeremias e Amós, para ficar nesses, foram incumbidos de proclamar em alto e bom som para que desde o casebre mais humilde até os palácios mais suntuosos toda injustiça fosse cessada, toda iniquidade tivesse fim e que todos os homens lavassem as mãos de suas sujidades morais e éticas e aprendessem a fazer o bem. Ordenaram aos juízes que julgassem com retidão. Ameaçaram os poderosos caso não deixassem de explorar o povo e chamaram os políticos à conversão do coração e que deixassem se governar pela Lei do Senhor.
É nosso dever como povo de profetas não banalizar a violência, a iniquidade e a injustiça e jamais fazer escolhas fáceis, populistas ou passionais. É nosso dever não fazer pilhéria e gracejo de nossas tragédias de cada dia. É nossa vocação demonstrar que o Reino, ainda que provisório já chegou e pede passagem e com ele a Justiça e a Paz querem se instalar no meio de todos os homens.
Leia mais
» Como a fé cristã pode ajudar a promover uma cultura da paz?
» A tentação de dizer “Assim diz o Senhor” quando conversamos sobre política
» Atentado a mando de Deus. Que Deus?
Foto: Visualhunt.com / CC BY-NC-ND
“Tal como o estalo de espinhos debaixo da panela, assim é o riso dos tolos. Isso também não faz sentido” (Ecl 7.6).
Um dos perigos com consequências mais letais para a vida cristã é a banalização. Banalizar é transformar valores em coisas triviais, é a vulgarização do que é importante e o esvaziamento das coisas significativas. A nossa sociedade banaliza tudo o que pode. Vulgariza a sexualidade, coisifica o corpo humano, faz comédia da tragédia, abranda as consequências dos atos malsãos e trata com leviandade tanto a vida como a morte.
A banalização mormente começa na relação com Deus. Começa primeiro com a relativização ou a acomodação da Lei Moral fazendo concessões levianas em cada um dos mandamentos. Admitindo ídolos e recepcionando doutrinas espúrias, prestando reverência ou culto ao que não é Deus, usando o domingo como “fim de semana”, quando na verdade ele é o primeiro dia dos demais dias. Então, gasta-se esse dia com os exageros do lazer, esporte, cultura e entretenimento.
Nosso tempo não leva a sério a autoridade de Deus, seus direitos e o caráter normativo das Escrituras, por isso não tem respeito ou apreço pela autoridade, nem mesmo a dos pais, o que se estende depois para todas as áreas da vida: professores, supervisores, chefes, patrões, policiais etc. Quando os poderes e as autoridades, preceitos e normas são esvaziados, as relações pessoais em todos os níveis ficam comprometidas. Por isso a nossa sociedade é tão violenta e os roubos, as corrupções, os adultérios e os assassinatos dão prova disso. Sem falar nas toxinas da contemporaneidade como o desprezo pelo meio ambiente, o consumismo desenfreado, a pornografia onipresente e a perversão do direito, homens e mulheres chamando mal de bem, crime de justiça, trevas de luz, cultuando bandidos e destruindo reputações. Tudo isso já seria suficiente para alarmar-nos e fazer-nos temer pelo nosso futuro.
Todavia, o quadro piora muito quando encontramos a cultura da banalização dessa relação com Deus no meio dos cristãos e de maneira especial presente no comportamento dos líderes, pastores, presbíteros, teólogos e professores de Bíblia em geral. Quanta tragédia poderia ser evitada se os que estão encarregados de conduzir o povo de Deus pelo ensino e pela vida, não esvaziassem a Teologia para encher o templo, não relativizassem o pecado para fidelizar o ‘cliente’, não fizessem casuística e acomodassem as exigências do Evangelho ao espírito de época, deixando que a igreja seja capitulada pelo ‘politicamente correto’, ou ‘porque todo mundo faz’ ou porque é comum.
Os líderes jamais poderiam banalizar as promessas de Deus em Cristo no Evangelho, sob pena de matar a esperança e solapar as convicções e seguranças dos crentes. Entretanto, deveriam menos ainda banalizar as advertências e ameaças da Palavra de Deus que são tão reais e necessárias à saúde da vida cristã, como aquelas outras. Vivemos dias difíceis e fazer pilhéria de tudo, e o tempo todo, de nossa situação política e sobretudo moral não tem a menor graça e não deveria partir justamente de quem tem a missão de conduzir os outros à verdade e no viver de modo a agradar a Deus.
A Igreja de Cristo é uma comunidade profética, é o povo com quem Deus trata na intimidade e lhe revela por meio das Escrituras a sua vontade. Como povo de profetas é nosso dever proclamar no coração do mundo as Boas Novas do Senhor que podem vir em forma de anúncio da graça ou de denúncias contra toda impiedade e justiça.
Os cristãos precisam voltar às páginas do Antigo Testamento para entender as seriedades de tempos como esses em que vivemos. Tempos de iniquidades e impiedades praticadas à luz do dia. Dias em que magistrados sem nenhuma desfaçatez operam o direito sem imparcialidade ideológica e movidos por forças alienígenas às garantias da justiça, como o poder econômico, as pressões políticas, os lobbys dos impérios financeiros e a opinião pública. Dias difíceis quando os que nos fazem representar nas câmaras ou que recebem poder para governar, tudo o que fazem é manipular as leis e as massas para se perpetuarem no poder e praticar ações delituosas sob o espúrio manto da imunidade.
Os profetas do Antigo Testamento, como Isaías, Jeremias e Amós, para ficar nesses, foram incumbidos de proclamar em alto e bom som para que desde o casebre mais humilde até os palácios mais suntuosos toda injustiça fosse cessada, toda iniquidade tivesse fim e que todos os homens lavassem as mãos de suas sujidades morais e éticas e aprendessem a fazer o bem. Ordenaram aos juízes que julgassem com retidão. Ameaçaram os poderosos caso não deixassem de explorar o povo e chamaram os políticos à conversão do coração e que deixassem se governar pela Lei do Senhor.
É nosso dever como povo de profetas não banalizar a violência, a iniquidade e a injustiça e jamais fazer escolhas fáceis, populistas ou passionais. É nosso dever não fazer pilhéria e gracejo de nossas tragédias de cada dia. É nossa vocação demonstrar que o Reino, ainda que provisório já chegou e pede passagem e com ele a Justiça e a Paz querem se instalar no meio de todos os homens.
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» Como a fé cristã pode ajudar a promover uma cultura da paz?
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Foto: Visualhunt.com / CC BY-NC-ND
Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
- Textos publicados: 105 [ver]
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