Opinião
- 14 de junho de 2019
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Cristãos para os quais o sofrimento faz parte da vida normal. Como assim?
Livro da Semana | Sangue, Sofrimento e Fé
Por Christopher J. H. Wright
Eu estava entrando na adolescência quando o renomado pastor romeno que tinha vivido em uma solitária na prisão e sido torturado pelos comunistas, Richard Wurmbrand, passou alguns dias em nossa casa em Belfast, durante uma visita à Irlanda do Norte.
O pastor Wurmbrand estava insistindo que eu fosse servir a Deus em lugares perigosos do mundo, onde eu talvez tivesse que dar minha vida por Cristo. “Afinal”, ele disse, “você tem sangue de mártires na sua família”. Minha mãe não gostou muito da ideia...
Ele estava se referindo ao meu falecido tio Fred, que havia seguido seu irmão mais velho em 1935 (meu pai, Joe Wright) até o Brasil, para alcançar tribos indígenas na Amazônia com o evangelho. Na sua primeira expedição no rio Xingu, junto com outros dois missionários (Fred Roberts e Fred Dawson – o que explica o apelido, “Os três Freds”), eles foram todos mortos a pauladas pelos índios Kayapó, ao pé da Cachoeira da Fumaça. Seria difícil alegar que foram mortos por sua fé em Cristo, já que nem tiveram a chance de compartilhá-la. Eram homens brancos, e os únicos homens brancos que esses indígenas conheciam eram os exploradores de borracha, homens violentos que matavam os indígenas assim que os viam. Podemos entender sua reação ao grupo de três pioneiros.
Mas é verdade que morreram por causa do seu desejo de compartilhar o evangelho com aqueles que ainda não o haviam ouvido. Mas, pela graça de Deus, os esforços de atingir os Kayapó mais tarde foram bem-sucedidos e meu pai e minha mãe conheceram crentes dessa tribo numa visita em 1965, ocasião em que meu pai pregou usando a Bíblia do tio Fred.
Então, creio que, em toda a minha vida, eu sempre estive ciente de que o sofrimento e o martírio fazem parte da história do povo de Deus, desde os tempos bíblicos até hoje, e já encontrei suficientes histórias missionárias parecidas com a do tio Fred para me sentir pessoalmente próximo a pessoas que passaram por elas. Também tivemos a oportunidade de hospedar em nossa casa algumas pessoas que passaram pelos horrores da Rebelião Simba, no Congo, nos anos 60. Nossa família se maravilhava com os testemunhos simples, sem detalhes rebuscados, de famílias comuns e mulheres solteiras frágeis que haviam testemunhado carnificinas horríveis, e que nos disseram que durante todo o tempo haviam sentido uma força e uma paz impossíveis de se explicar, o que as sustentou no meio de tudo aquilo.
Mas além disso, tenho que confessar que muitas vezes me sinto uma fraude e um covarde em relação aos assuntos tratados neste livro. O que sei é muito pouco sobre o sofrimento por minha fé em toda minha vida (não segui o conselho de Wurmbrand), e por isso, quem sou eu para falar qualquer coisa? O que posso fazer é me manter informado, alerta e em oração pelo número crescente de irmãos e irmãs em Cristo em todo o mundo, para quem o sofrimento, de uma forma ou de outra, simplesmente é de se esperar e faz parte da vida cristã normal, e também por aqueles cujo sofrimento extremo e morte são o caminho para sua coroa de mártir. E se percebo lágrimas em meu coração pelo povo do Senhor em tais circunstâncias, quantas lágrimas haverá no céu, no coração de Deus?
Que este livro enciclopédico impressionante possa estimular lágrimas e orações na medida certa, e quando apropriado, nos desperte à ação.
>> Trecho retirado do prefácio de Sangue, Sofrimento e Fé – A missão cristã em contextos de perseguição (Editora Ultimato).
• Christopher J. H. Wright, autor de Povo, Terra e Deus e O Deus Que Eu Não Entendo, é diretor internacional da Langham Partnership, onde assumiu a função ocupada por John Stott durante 30 anos. Ele é também presidente do Grupo Teológico de Trabalho do Comitê de Lausanne e do Comitê Teológico da Tearfund, conhecida organização cristã de assistência e desenvolvimento. Escreveu outros livros, incluindo Knowing Jesus Through the Old Testament e o premiado The Mission of God. Chris e sua esposa, Liz, têm quatro filhos e cinco netos.
Por Christopher J. H. Wright
Eu estava entrando na adolescência quando o renomado pastor romeno que tinha vivido em uma solitária na prisão e sido torturado pelos comunistas, Richard Wurmbrand, passou alguns dias em nossa casa em Belfast, durante uma visita à Irlanda do Norte.
O pastor Wurmbrand estava insistindo que eu fosse servir a Deus em lugares perigosos do mundo, onde eu talvez tivesse que dar minha vida por Cristo. “Afinal”, ele disse, “você tem sangue de mártires na sua família”. Minha mãe não gostou muito da ideia...
Ele estava se referindo ao meu falecido tio Fred, que havia seguido seu irmão mais velho em 1935 (meu pai, Joe Wright) até o Brasil, para alcançar tribos indígenas na Amazônia com o evangelho. Na sua primeira expedição no rio Xingu, junto com outros dois missionários (Fred Roberts e Fred Dawson – o que explica o apelido, “Os três Freds”), eles foram todos mortos a pauladas pelos índios Kayapó, ao pé da Cachoeira da Fumaça. Seria difícil alegar que foram mortos por sua fé em Cristo, já que nem tiveram a chance de compartilhá-la. Eram homens brancos, e os únicos homens brancos que esses indígenas conheciam eram os exploradores de borracha, homens violentos que matavam os indígenas assim que os viam. Podemos entender sua reação ao grupo de três pioneiros.
Mas é verdade que morreram por causa do seu desejo de compartilhar o evangelho com aqueles que ainda não o haviam ouvido. Mas, pela graça de Deus, os esforços de atingir os Kayapó mais tarde foram bem-sucedidos e meu pai e minha mãe conheceram crentes dessa tribo numa visita em 1965, ocasião em que meu pai pregou usando a Bíblia do tio Fred.
Então, creio que, em toda a minha vida, eu sempre estive ciente de que o sofrimento e o martírio fazem parte da história do povo de Deus, desde os tempos bíblicos até hoje, e já encontrei suficientes histórias missionárias parecidas com a do tio Fred para me sentir pessoalmente próximo a pessoas que passaram por elas. Também tivemos a oportunidade de hospedar em nossa casa algumas pessoas que passaram pelos horrores da Rebelião Simba, no Congo, nos anos 60. Nossa família se maravilhava com os testemunhos simples, sem detalhes rebuscados, de famílias comuns e mulheres solteiras frágeis que haviam testemunhado carnificinas horríveis, e que nos disseram que durante todo o tempo haviam sentido uma força e uma paz impossíveis de se explicar, o que as sustentou no meio de tudo aquilo.
Mas além disso, tenho que confessar que muitas vezes me sinto uma fraude e um covarde em relação aos assuntos tratados neste livro. O que sei é muito pouco sobre o sofrimento por minha fé em toda minha vida (não segui o conselho de Wurmbrand), e por isso, quem sou eu para falar qualquer coisa? O que posso fazer é me manter informado, alerta e em oração pelo número crescente de irmãos e irmãs em Cristo em todo o mundo, para quem o sofrimento, de uma forma ou de outra, simplesmente é de se esperar e faz parte da vida cristã normal, e também por aqueles cujo sofrimento extremo e morte são o caminho para sua coroa de mártir. E se percebo lágrimas em meu coração pelo povo do Senhor em tais circunstâncias, quantas lágrimas haverá no céu, no coração de Deus?
Que este livro enciclopédico impressionante possa estimular lágrimas e orações na medida certa, e quando apropriado, nos desperte à ação.
>> Trecho retirado do prefácio de Sangue, Sofrimento e Fé – A missão cristã em contextos de perseguição (Editora Ultimato).
• Christopher J. H. Wright, autor de Povo, Terra e Deus e O Deus Que Eu Não Entendo, é diretor internacional da Langham Partnership, onde assumiu a função ocupada por John Stott durante 30 anos. Ele é também presidente do Grupo Teológico de Trabalho do Comitê de Lausanne e do Comitê Teológico da Tearfund, conhecida organização cristã de assistência e desenvolvimento. Escreveu outros livros, incluindo Knowing Jesus Through the Old Testament e o premiado The Mission of God. Chris e sua esposa, Liz, têm quatro filhos e cinco netos.
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