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Por Escrito

Como lidar com a espera

Por Liz Valente | Resenha
 
Existe uma dor específica que todos conhecemos de perto. Existe uma agonia distinta do ser humano que vive no tempo. Existe uma dificuldade inerente a nós, e que se amplifica nos tempos atuais onde tudo é pra já. Essa dor tem um nome próprio, chama-se “espera”. A espera se instala em nossas vidas sem ser convidada. Tudo estava indo de acordo com o planejado até que... a conta não fechou, o namoro não deu certo, a expectativa se frustrou, a gravidez não veio, a doença se estendeu, a saudade não curou e por aí vai. A dona espera tem muitas portas de entrada, e já deu para notar que ela só faz visitas acompanhada de parceiras igualmente incômodas. Então, como pensar sobre essa realidade a partir de uma cosmovisão cristã? É possível hidratar a alma ao longo de um processo de seca prolongada? O que Deus tem para nos dizer enquanto esperamos? Essa é a reflexão de Vanessa Belmonte em seu livro O lugar da espera na vida cristã (Editora 371). 
 
A autora propõe que a espera não é apenas uma condição própria da vida que decorre no tempo, mas é também uma necessidade da vida humana. Somente na espera é que certas verdades se sedimentarão em nós. As esperas do nosso dia a dia podem ser compreendidas como pequenos treinos, usados por Deus como metáforas vivas para um exercício de fé ainda mais excelente. A espera aponta para o fato de que estamos inseridos dentro de um proposito maior, uma vontade mais poderosa, uma narrativa que o próprio Deus está construindo na história da redenção em nós e para muito além de nós. 
 
Li o livro da Vanessa Belmonte numa sentada só. Isso já diz algo a respeito de mim mesma e de minha dificuldade de esperar, até mesmo pelo final de um livro. Confesso que li a oração final logo após terminar o primeiro capítulo e depois fui avançando na leitura segurando com o dedo a parte da oração que mais me marcou: “Esperamos um fim em aberto, na certeza de que o que o Senhor deseja para nós é infinitamente melhor do que nós somos capazes de desejar agora; que a beleza, a alegria e o sentido serão revelados um dia de modo perfeito para nós e, então, entenderemos o que ainda vemos apenas em parte”.
 
A imagem de uma semente lançada na terra é uma figura que brotou em mim, ao longo de toda leitura. Ela ilustra o movimento oculto, aquilo que está acontecendo por baixo da terra e que trará grande proveito. Compara-se ao movimento oculto de Deus nos momentos de espera, algo está acontecendo, e que, se soubermos acolher, trará grande proveito. Ilustra também a necessidade de praticarmos o que a autora chama de espera ativa, comparando o trabalho do agricultor de aguar e cuidar da semeadura para garantir uma colheita mais produtiva com o nosso trabalho a ser feito enquanto esperamos. Esse trabalho é o exercício das virtudes da paciência e da fé.
 
O desejo e o lamento formam um dueto no texto. Para a autora, esses sentimentos são naturais e não devem ser suprimidos. Entretanto, muitas vezes eles precisam ser recalibrados e levados perante Deus. Ambos constroem o nosso cenário interior durante a espera, o desejo olhando para frente e o lamento olhando para trás. 
 
O livro pode ser lido em sequência, ou não. Os capítulos são curtos e foram estruturados de modo a facilitar a leitura. Ao final de cada bloco de conteúdo há uma pergunta para reflexão que serve de guia para ajudar na aplicação dos temas em diferentes contextos. Desse modo, a autora vai direcionando seu leitor a entender que a espera pode ser recebida de outro modo. A espera pode se tornar uma disciplina espiritual para nos moldar perante Deus.
 
• Liz Valente é mestra em arquitetura e urbanismo. Também é cantora, compositora e autora de 4 peças teatrais. Casada com Pedro Paulo e mãe do João, do Davi e da Maria.

>> Conheça também o livro O Que Você Quer?, de Jen Pollock Michel
 
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