Opinião
- 03 de março de 2021
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Colocando a esperança em ação – esperançar é preciso
Por Luiz Fernando dos Santos
“Onde está então minha esperança? Quem poderá ver alguma esperança para mim?” (Jó 17.15)
Dizem que o ‘verbo’ esperançar foi usado a primeira vez pelo educador Paulo Freire. Eu mesmo o ouvi, ainda quando jovem, nos lábios de Dom Paulo Evaristo, card. Arns, falecido arcebispo de São Paulo. A fonte pouco importa, mas o fato é que desde sempre passei a amar esse tempo verbal do substantivo feminino esperança. Mais do que nunca, ‘esperançar’ é preciso.
Esperança e otimismo não são exatamente a mesma coisa. O otimismo se funda em probabilidades, conta com o aleatório, se agarra ao imponderável. O otimismo tem as suas bases em elementos da natureza, quer no pensamento do próprio homem ou em que haja uma ‘serendipidade’, isto é, a descoberta de uma coisa boa por acaso. A esperança, por sua vez, é uma virtude cristã e se fundamenta primeiro no caráter santo, bom e reto de Deus. Do Senhor só temos a esperar coisas boas, que edificam, que nos trazem paz e alegria. A esperança se agarra ao fato de que o Pai é sábio e soberano e que em suas mãos e a partir de suas mãos, as tristezas, as dores e as angústias desta existência, de alguma maneira inescrutável, trabalham para o nosso bem. Não um bem mirado por nós ou definido por nós, mas um bem maior, que diz respeito à nossa vida na eternidade e à correção de rumos nessa vida presente.
A esperança tem os olhos no retrovisor da história, seu chão é o passado e não tanto o presente. Os que fincam a sua esperança no presente logo são consumidos ou pela ansiedade ou pela alienação. Aqui entra o papel extraordinário das Sagradas Escrituras. Elas nos levam ao testemunho da história da fidelidade de Deus e seus grandes feitos em favor do seu povo e de como Ele não trata com indiferença nem mesmo aqueles que o renegam. A Bíblia nos atesta que para Deus nada é aleatório, tudo tem um fim, um propósito determinado pelo Eterno. O texto sagrado nos assegura que para o Altíssimo não existem impossíveis e que no final da história prevalecerá a sua vontade sempre boa, santa e agradável. Também, a Palavra de Deus nos testifica ao coração de que Ele é veraz e que jamais deixou de cumprir uma só de suas promessas. Mas, de maneira subordinada e sempre necessitada de exame pela Bíblia, também a história da igreja e de seus santos ao longo dos séculos revelam o mesmo enredo das Escrituras na vida de pessoas tão comuns e ordinárias como eu e você.
Olhando para trás, a esperança nos enche de forças para suportar o presente e de encorajamento para encarar o futuro. Todavia, a esperança nos liga e ao mesmo tempo nos empurra também para o tempo que ainda não veio. Nos faz esperar pelo futuro sem medos e, até certo ponto, sem surpresas definitivas. A esperança nos faz saber de antemão que mal, morte, alienação não possuem a última palavra sobre a nossa existência. São realidades nas quais estamos inseridos, contudo, são realidades caducas, fadadas a desaparecer, e o bem, a vida e a verdade triunfarão no fim. Nele (Jesus) não há possibilidade de vitória, uma chance para as coisas darem certo no futuro. Absolutamente. Nele (Jesus), somos mais que vencedores e desde já.
No presente, a esperança é como uma semente que se espalha e rega. Espalhamos a esperança insistindo todos os dias em fazer o bem e jamais nos deixar vencer pelo mal ou pela indiferença (outra forma de mal). A esperança deve ser semeada com gestos concretos de indignação com as injustiças e maldades presentes no mundo. A esperança é depositada no solo da história quando nos dirigimos de maneira intencional ao encontro dos que choram, sofrem privações, são marginalizados, vítimas do descaso ou da violência. Quando usamos as ocasiões e os meios à nossa disposição para tomar o lado certo da história, como fez Jesus: “Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir" (Lucas 4:17-21), claro, sem a exclusão de quem quer que seja.
Regamos a esperança quando intensificamos as nossas orações unidas às angústias e esperanças da hora presente do mundo, quando intercedemos pelos santos, pedimos em oração a conversão de pecadores e oramos suplicando a Deus que renove a face da terra, trazendo justiça a todos. Regamos a esperança quando não negamos amor, quando recusamos o ódio de qualquer natureza e denunciamos o pecado em qualquer modalidade. A esperança é disseminada entre os homens, é regada e cresce vicejante no mundo quando não desistimos de esperançar. Esperance você também!
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Luiz Fernando dos Santos (1970-2022), foi ministro presbiteriano e era casado com Regina, pai da Talita e professor de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul e no Seminário Teológico Servo de Cristo.
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