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Por Escrito

Celebrando a vida com arte

Texto: Mariana Furst | Mostra: Klênia Fassoni, Mariana Furst e Whaner Endo

Celebre a beleza! Este é o convite que fazemos neste “Especial”. É preciso olhar ao redor e reconhecer alguns trabalhos admiráveis produzidos por cristãos no campo das artes. Independentemente da escolha religiosa do artista, o belo nos aproxima de Deus, pois dele provém. Contudo, esta é uma mostra de cristãos. Ultimato quer lhes dar visibilidade e incentivar o leitor a encarar a arte como um chamado. De certo esta é uma mostra pequena e parcial. Por isso, convidamos você, leitor, a expandi-la.

Há tempos Ultimato caminha nesta direção, apresentando e discutindo a relação entre arte e cristianismo. Em 1968, primeiro ano da revista, Marcos Barreto França marcou presença em todas as edições com suas poesias. De 2005 a 2009, Mark Carpenter escreveu regularmente a seção “Arte e cultura”, versando sobre música, cinema, literatura, entre outros temas. Carlinhos Veiga, conosco desde 2004, apresenta a cada “Novos acordes” músicos contemporâneos de alta qualidade.

Em 2004, a editora Ultimato publicou os livros Cristo e a Criatividade, de Michael Card, e Cinema e Fé Cristã, de Brian Godawa. Em seguida vieram A Arte e a Bíblia (2010), de Francis Schaeffer, A Arte não Precisa de Justificativa (2010), de Hans Rookmaaker, entre outros. Ainda em 2012 chegará às livrarias A Arte Moderna e a Morte de Uma Cultura, também de Rookmaaker.

O portal Ultimato também não fica para trás, abrindo espaço para a moçada fazer arte. O boletim eletrônico “Ultimato Jovem” estampou em suas edições 22 fotos tiradas por jovens artistas. Em 2012, o informativo semanal “Ultimas” foi inaugurado com um novo espaço: a cada edição traz no topo arte produzida por cristãos.

Participe! Acesse o portal Ultimato e indique obras, eventos, artigos, sites, vídeos e músicas. (Se preferir, escreva para ultimatoonline@ultimato.com.br) Este é apenas um sopro inicial. Quem sabe com a sua participação tenhamos fôlego para ir mais longe nessa nobre empreitada.

Um chamado para as artes
As artes tiveram destaque especial no Terceiro Congresso de Lausanne sobre Evangelização Mundial, realizado na Cidade do Cabo, em 2010. O livro O Compromisso da Cidade do Cabo, fruto do evento e das reflexões a respeito do tema, reafirma que a arte é “parte integral do que fazemos como humanos e pode refletir algo da beleza de Deus”. E acrescenta: “Os artistas, no seu melhor, são narradores da verdade e, por isso, a arte constitui um meio importante através do qual podemos comunicar a verdade do evangelho” (p. 81).

Para além do discurso da arte como um recurso para a pregação do evangelho, vê-se no trecho acima a preocupação com a integralidade do homem e com a imagem do Criador refletida nas obras artísticas. Para Hans Rookmaaker, escritor holandês e professor de teoria e história da arte, música, filosofia e religião, a arte deve ser apreciada e cultivada “por proporcionar um enriquecimento da vida pela manifestação de uma experiência estética”.
 

Desfrutar da beleza artística de uma obra por si só deve ser o suficiente. Em outras palavras, a arte não precisa de justificativas. Esta afirmação de Rookmaker, ao contrário do que se possa pensar, não faz uma apologia da “arte pela arte”, na qual o homem não tem mais lugar. Para ele,

"Embora a arte possa ser cultivada e apreciada pela simples função de expressão estética, ela é carregada de substratos simbólicos, ou representações, que expressam a profunda qualidade de criaturidade do artista, sua relação com os sentidos últimos da existência, com a ideia de origem, com a diversidade de aspectos criacionais e com o real".1

Deste modo, imbuído de uma cosmovisão cristã – que inclui as realidades de Deus, do homem, da comunidade e do belo –, o ser humano manifesta estas verdades naturalmente, fazendo com que o reino de Deus seja implantado também no campo das artes.
No livro Surpreendido pela Esperança, N. T. Wright argumenta que a arte que melhor exprime a realidade do reino entre nós concilia as dores humanas com as promessas eternas.

Quando a arte souber harmonizar as feridas do mundo e a promessa da ressurreição, e aprender a expressá-las simultaneamente, estaremos caminhando para uma nova visão e para uma nova missão. [...] A arte, em sua melhor expressão, não somente chama a atenção para a realidade atual, mas aponta também para o futuro, quando a terra se encherá do conhecimento de Deus, como as águas cobrem o mar. (p. 238)

Falar de eternidade, neste sentido, não significa anunciar uma impossibilidade de fazer arte no mundo presente, como se a vida eterna só se realizasse no porvir (Jo 17.3) e devêssemos esperar por ela para produzirmos algo que valha a pena. Para muitos, o trecho de Apocalipse 21. 24-27 indica que a glória dos reis e das nações, que será apresentada diante do Rei dos reis, é constituída pelo acúmulo das realizações culturais ao longo das gerações.

Arte, literatura, música, arquitetura, gastronomia e moda, a riqueza da língua e da cultura – e tantas outras coisas – são elas que formam as características nacionais – que, na melhor das hipóteses, enriquecem nossa humanidade [...]. A nova criação vai “começar” com uma enorme reserva de tudo o que a civilização humana conquistou na antiga criação – mas purificado, limpo, desinfetado, santificado e abençoado. E teremos a eternidade para nos regozijarmos e nos estabelecermos de maneiras que agora não podemos imaginar, já que poremos em prática as capacidades criativas de nossa humanidade redimida.2

Trata-se, então, de iniciarmos agora o que será pleno no futuro. O chamado é para que – a despeito da depravação total que abarca a arte, como fruto da queda, de um persistente mau gosto cristão, ou, ainda, da acidez de alguns quando o assunto é arte e cristianismo – a arte esteja presente nos púlpitos, nas discussões e, sobretudo, na vida dos cristãos; tornando-nos, assim, mais humanos; quiçá, mais divinos.

Notas
1. RAMOS, Leonardo, CAMARGO, Marcel, AMORIM, Rodolfo (org.). Fé cristã e cultura contemporânea. Viçosa: Ultimato, 2009. p. 123.
2. WRIGHT, Christopher J. H. O Deus que eu não entendo. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 242.

» Texto publicado originalmente na edição 335 de Ultimato.

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