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- 09 de novembro de 2016
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A redação do ENEM e a intolerância religiosa
Tendo em vista alguns acontecimentos recentes envolvendo questões religiosas, como a série de atentados em Paris e o caso da jovem que usava roupas brancas – características de alguns rituais de origem africana –, e foi apedrejada no Rio de Janeiro, o tema "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, escolhido pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) para a redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) na última semana, não causou surpresa.
Durante o I Congresso Internacional de Ciências da Religião da Universidade Mackenzie, Ultimato ouviu o historiador e pós-doutor em História da Educação, Paulo de Assunção, sobre o assunto. Para o professor Paulo, que coordenou a mesa "Religião e os desafios da sociedade contemporânea", a cobrança de uma proposta resolutiva do candidato talvez não seja a melhor opção para o contexto do exame e para um tema como esse. Seria preciso incitar o pensamento crítico antes de propor respostas: “Assim não se coloca em jogo ideias reflexivas. O que seria essa intolerância? Como entender esse fenômeno?”.
Pensando em um exame que surgiu para avaliar o desempenho dos estudantes que concluíram o ensino médio, essa exigência do apontamento de soluções na redação “revela que nossa sociedade quer respostas, de qualquer maneira, a qualquer custo. E coloca sobre o jovem, a responsabilidade da busca por esse caminho. Não é em um sistema de avaliação como o Enem que isso deveria ser feito”, continua o historiador.
Para o professor Paulo, essa captação de ideias e abordagens poderia ser feita na sala de aula, com diálogo, com troca de experiências entre os alunos. E, além disso, é preciso pensar também em como o ensino sobre “religiões” vem sendo tratado no país: “Há uma má qualificação profissional dos docentes que atuam nessa área no ensino público, com muitas falhas. Uma delas, o fato de se formarem no ensino superior com deficiência nessa área, sem terem contato com um discurso específico e cuidadoso em relação à religião e, então, reproduzirem defasagens e estereótipos”.
É preciso cuidado e atenção à qualificação de quem trabalha nos ensinos fundamental e médio, atuando na formação dos indivíduos. Segundo o professor, “quem vai entrar na discussão de temas religiosos são professores de Geografia e História, abordando essa temática a partir de um certo enfoque, como messianismo, Reforma Protestante, II Guerra Mundial e massacres; e cada um a partir de uma escola de leitura”.
Intolerância em contextos diferentes
É preciso ainda pensar a intolerância religiosa em um contexto amplo. “É a tolerância religiosa do judeu em relação ao católico? Do católico em relação ao protestante? Do protestante em relação ao muçulmano?”. Para o historiador, cada cenário terá contornos diferentes, sendo sempre uma via de mão dupla.
Apesar dos atentados e outras formas de violência física tomarem as manchetes dos noticiários, é válido lembrar que a intolerância religiosa pode ocorrer também pela agressão verbal, psicológica e simbólica.
Em certas religiões, é possível falar de intolerância até dentro de seus próprios sitemas, com a formação de elites que não toleram a ideia de contaminação com castas ou grupos tidos como inferiores. “Se aquele grupo precisa continuar a existir, a intolerância também segue persistindo, visto que se todos forem iguais, não existirá ninguém que se destaque”, conclui Paulo.
Reportagem: Amanda Almeida.
Foto: Segundo dia de provas do Enem 2016 em São Paulo. Rovena Rosa, Agência Brasil
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O Evangelho não deixa espaço para a intolerância
Ciência e Religião: uma conversa significativa
ONU: Intolerância religiosa é incentivada por governos e favorece crimes de ódio
Aprendemos a resistir. Agora experimentaremos a esperança
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Pensando em um exame que surgiu para avaliar o desempenho dos estudantes que concluíram o ensino médio, essa exigência do apontamento de soluções na redação “revela que nossa sociedade quer respostas, de qualquer maneira, a qualquer custo. E coloca sobre o jovem, a responsabilidade da busca por esse caminho. Não é em um sistema de avaliação como o Enem que isso deveria ser feito”, continua o historiador.
Para o professor Paulo, essa captação de ideias e abordagens poderia ser feita na sala de aula, com diálogo, com troca de experiências entre os alunos. E, além disso, é preciso pensar também em como o ensino sobre “religiões” vem sendo tratado no país: “Há uma má qualificação profissional dos docentes que atuam nessa área no ensino público, com muitas falhas. Uma delas, o fato de se formarem no ensino superior com deficiência nessa área, sem terem contato com um discurso específico e cuidadoso em relação à religião e, então, reproduzirem defasagens e estereótipos”.
É preciso cuidado e atenção à qualificação de quem trabalha nos ensinos fundamental e médio, atuando na formação dos indivíduos. Segundo o professor, “quem vai entrar na discussão de temas religiosos são professores de Geografia e História, abordando essa temática a partir de um certo enfoque, como messianismo, Reforma Protestante, II Guerra Mundial e massacres; e cada um a partir de uma escola de leitura”.
Intolerância em contextos diferentes
É preciso ainda pensar a intolerância religiosa em um contexto amplo. “É a tolerância religiosa do judeu em relação ao católico? Do católico em relação ao protestante? Do protestante em relação ao muçulmano?”. Para o historiador, cada cenário terá contornos diferentes, sendo sempre uma via de mão dupla.
Apesar dos atentados e outras formas de violência física tomarem as manchetes dos noticiários, é válido lembrar que a intolerância religiosa pode ocorrer também pela agressão verbal, psicológica e simbólica.
Em certas religiões, é possível falar de intolerância até dentro de seus próprios sitemas, com a formação de elites que não toleram a ideia de contaminação com castas ou grupos tidos como inferiores. “Se aquele grupo precisa continuar a existir, a intolerância também segue persistindo, visto que se todos forem iguais, não existirá ninguém que se destaque”, conclui Paulo.
Reportagem: Amanda Almeida.
Foto: Segundo dia de provas do Enem 2016 em São Paulo. Rovena Rosa, Agência Brasil
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