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Opinião

A Palavra, a iluminação e o testemunho

Por Herminsten Maia Pereira da Costa
 
Deus é o autor e comunicador das Escrituras. A obra de Deus é sempre completa. Nada cai no vazio ou esquecimento. Não há remendos ou ajustes. Nada escapa ao seu controle e direção.
 
O Deus transcendente, criador de todas as coisas, que se revela aos homens, fez com que essa revelação fosse progressivamente sendo escrita encontrando o seu ápice em Cristo, o Verbo encarnado. Essa revelação foi registrada e ele a tem preservado, providenciando meios para que ela alcance a todos a quem ele a destinou.
 
Para Abraham Kuyper (1837-1920), “Aquele que fez com que as Escrituras Sagradas fossem escritas é o mesmo que nos ensina a lê-la. Sem ele, esse produto de arte divina não pode nos afetar”1.
 
Pelo Espírito, Deus continua hoje aplicando a verdade bíblica aos nossos corações levando adiante o seu eterno propósito. Segundo João Calvino (1509-1564), “A função peculiar do Espírito Santo consiste em gravar a Lei de Deus em nossos corações”2. É o Espírito que nos ensina por meio da Escritura.
 
Na Escritura, temos o currículo completo e suficiente: “A Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual, como nada é omitido não só necessário, mas também proveitosos de conhecer-se, assim também nada é ensinado senão o que convenha saber”3.
 
Portanto, como decorrência lógica, não é a Igreja que autentica a Palavra por sua interpretação, como a igreja romana sustentou em diversas ocasiões. É a Bíblia que se autentica a si mesma como Palavra de Deus revestida de autoridade, e é o Espírito Santo quem ilumina para que possamos interpretá-la corretamente (Sl 119.18). A Palavra não pode ser separada do Espírito. 
 
Portanto, quando aplica a Palavra ao nosso coração, o Espírito produz a sua boa obra em nós, gerando a fé salvadora que se direciona para Cristo e para os feitos de sua redenção.
 
Somente pela operação divina poderemos reconhecer a sua origem divina bem como compreendê-la salvadoramente. Desse modo, a pretensão da igreja de subordinar a autoridade da Bíblia ao seu arbítrio consiste numa “blasfêmia”: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada”4.

 
Cabe a nós submeter o nosso juízo e entendimento à verdade de Deus conforme testemunhada pelo Espírito.
 
A Palavra é a escola da Trindade. A Trindade esteve totalmente comprometida com a Revelação, o registro e a preservação da Palavra. Esse mesmo Deus Trino acompanha na sua transmissão e abre o coração do seu povo para entende-la espiritualmente.
 
Portanto, sem a aplicação do evangelho em nosso coração, a pregação não obterá nenhum efeito salvador. Contudo, o propiciar as condições para que ouçamos o evangelho já é por si só uma ação do Espírito. A didática de Deus é completa e perfeita: “(...) primeiro, ele nos faz ouvi-lo pelos lábios humanos; e, segundo, ele nos fala intimamente por seu Espírito (...)”5.
 
Desse modo, continua o reformador: “Nossa oração a Deus deve ser no sentido de desimpedir nossa vista e nos capacitar para a meditação sobre suas obras”6.
 
A Reforma teve como uma de suas características principais a ênfase na pregação da Palavra. Os reformadores criam que se as Escrituras estivessem numa língua acessível aos povos, todos os que quisessem poderiam ouvir a voz de Deus e, todos os crentes teriam acesso à presença de Deus.
 
  • Herminsten Maia Pereira da Costa, pastor-auxiliar da 1ª Igreja Presbiteriana de São Bernardo do Campo, SP. Ensina teologia no JMC, é membro do CECEP e do Conselho Editorial do Brasil Presbiteriano.
 
Artigo originalmente publicado na edição de dezembro do jornal Brasil Presbiteriano. Reproduzido com permissão.

Notas
1. Abraham Kuyper. A Obra do Espírito Santo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 113.
2. João Calvino. O Livro dos Salmos. São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2 [Sl 40.8], p. 228.
3. João Calvino. As Institutas. III.21.3.
4. João Calvino. As Pastorais. São Paulo: Paracletos, 1998 [1Tm 3.15], p. 98.
5. João Calvino. O Evangelho Segundo João. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015, v. 2 [Jo 14.25], p. 109.
6. João Calvino. O Livro dos Salmos. São Paulo: Paracletos, 1999, v. 3 [Sl 92.6], p. 465.

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