Opinião
- 18 de novembro de 2021
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A Missão Integral não diz nada que não tenha sido dito
A missão integral não representa nenhuma novidade acerca do que crê, e se o fizesse haveria algo muito errado com ela
Por Valdir Steuernagel
A missão integral, é preciso dizer sempre novamente, não começou com os seus pioneiros, muitos dos quais estão presentes no livro Raízes de um Evangelho Integral. Ela não desenha nem representa nenhuma novidade acerca do que crê, e se o fizesse haveria algo muito errado com ela. Ela se entende a partir de uma longa caminhada de homens e mulheres que, em diferentes tempos e em muitos lugares, escutaram a voz de Deus e se submeteram a ela. Homens e mulheres que olharam para as suas vidas na perspectiva da vocação com a qual Deus havia marcado as suas vidas. São homens e mulheres que, como Davi, queriam ser pessoas “segundo o coração de Deus”, buscando servi-lo na sua geração e no seu tempo (At 13.22, 36), como já se fez referência a René Padilla.
Em seu livro The Genesee Diary [O diário de Genesee], em que Henri Nouwen relata a sua experiência de sete meses passados num mosteiro trapista, ele reflete sobre a sua jornada espiritual e suas lutas existenciais. Ao deixar uma vida ativa de “ensinar, ler, e escrever” e abraçar a experiência monástica, esta se transformou, para Nouwen, em mudança de vida. Em suas notas do dia 13 de julho ele diz: “Eu estou mais e mais ciente da maneira como o meu estilo de vida tornou-se parte do nosso desejo contemporâneo por ‘estrelato’. Eu queria dizer, escrever ou fazer algo ‘diferente’ ou ‘especial’ que fosse observado e comentado”. Vivendo naquele mosteiro, Nouwen discerniu uma realidade diferente: “Quando você se tornou inteiramente ciente de que não tem nada a dizer que já não tenha sido dito, aí talvez um monge possa se interessar em escutá-lo. O mistério do amor de Deus está em que nesta mesmice nós descobrimos nossa singularidade”. Pois, como ele acentua, “parece que todos os grandes escritores espirituais estão dizendo: ‘Você não pode ser original. Se há algo digno de ser dito, você encontrará a sua origem na Palavra de Deus e nos seus santos’”.1
Portanto, ao se falar de missão integral, não há nenhum esforço para dizer algo que já não tenha sido dito ou vivido, senão buscar um compromisso e uma comunidade em que uma nova obediência seja gestada. Pois no exercício da fé cristã não se está em busca de nenhuma novidade, mas apenas de uma contínua fidelidade.
Assim, com as nossas mães e pais na fé nós afirmamos o mesmo: o mesmo evangelho de Jesus Cristo. O mesmo amor expresso pelo Deus triúno. A mesma graça maravilhosamente vivida por um Deus que, encarnado em Jesus, está faminto por prover salvação, relacionamento e comunidade. O mesmo mandato para construir uma comunidade que se transforme num sinal do reino de Deus no meio de um mundo desmantelado e em desintegração. A mesma vocação missional para expressar amor, viver restauração, servir aos pobres e lutar pela justiça, no nome do Deus triúno.
Essa é a busca pelo “caminho antigo” no qual ouvimos os nossos pais e mães, sabemos do seu enraizamento nas Escrituras e nos percebemos rodeados de “uma grande nuvem de testemunhas” (Hb 12.1). Um dos profetas de ontem nos ajuda a colocar em palavras essa vocação:
Assim diz o Senhor:
“Ponham-se nas encruzilhadas e olhem;
perguntem pelos caminhos antigos,
perguntem pelo bom caminho.
Sigam-no e acharão descanso”.
– Jeremias 6.16
Nota
1. NOUWEN, Henri J. M. The Genesee diary: report from a Trappist monastery. Nova York: Doubleday, 1981. p. 13, 65-67.
• Valdir Steuernagel é pastor luterano e integrante da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e da Visão Mundial. @silva.steuernagel.
Texto publicado originalmente em Raízes de um Evangelho Integral – Missão em Perspectiva Histórica, Editora Ultimato.
Leia mais:
» Discípulos radicais e uma missão integral. O que isso significa?
Por Valdir Steuernagel
A missão integral, é preciso dizer sempre novamente, não começou com os seus pioneiros, muitos dos quais estão presentes no livro Raízes de um Evangelho Integral. Ela não desenha nem representa nenhuma novidade acerca do que crê, e se o fizesse haveria algo muito errado com ela. Ela se entende a partir de uma longa caminhada de homens e mulheres que, em diferentes tempos e em muitos lugares, escutaram a voz de Deus e se submeteram a ela. Homens e mulheres que olharam para as suas vidas na perspectiva da vocação com a qual Deus havia marcado as suas vidas. São homens e mulheres que, como Davi, queriam ser pessoas “segundo o coração de Deus”, buscando servi-lo na sua geração e no seu tempo (At 13.22, 36), como já se fez referência a René Padilla.
Em seu livro The Genesee Diary [O diário de Genesee], em que Henri Nouwen relata a sua experiência de sete meses passados num mosteiro trapista, ele reflete sobre a sua jornada espiritual e suas lutas existenciais. Ao deixar uma vida ativa de “ensinar, ler, e escrever” e abraçar a experiência monástica, esta se transformou, para Nouwen, em mudança de vida. Em suas notas do dia 13 de julho ele diz: “Eu estou mais e mais ciente da maneira como o meu estilo de vida tornou-se parte do nosso desejo contemporâneo por ‘estrelato’. Eu queria dizer, escrever ou fazer algo ‘diferente’ ou ‘especial’ que fosse observado e comentado”. Vivendo naquele mosteiro, Nouwen discerniu uma realidade diferente: “Quando você se tornou inteiramente ciente de que não tem nada a dizer que já não tenha sido dito, aí talvez um monge possa se interessar em escutá-lo. O mistério do amor de Deus está em que nesta mesmice nós descobrimos nossa singularidade”. Pois, como ele acentua, “parece que todos os grandes escritores espirituais estão dizendo: ‘Você não pode ser original. Se há algo digno de ser dito, você encontrará a sua origem na Palavra de Deus e nos seus santos’”.1
Portanto, ao se falar de missão integral, não há nenhum esforço para dizer algo que já não tenha sido dito ou vivido, senão buscar um compromisso e uma comunidade em que uma nova obediência seja gestada. Pois no exercício da fé cristã não se está em busca de nenhuma novidade, mas apenas de uma contínua fidelidade.
Assim, com as nossas mães e pais na fé nós afirmamos o mesmo: o mesmo evangelho de Jesus Cristo. O mesmo amor expresso pelo Deus triúno. A mesma graça maravilhosamente vivida por um Deus que, encarnado em Jesus, está faminto por prover salvação, relacionamento e comunidade. O mesmo mandato para construir uma comunidade que se transforme num sinal do reino de Deus no meio de um mundo desmantelado e em desintegração. A mesma vocação missional para expressar amor, viver restauração, servir aos pobres e lutar pela justiça, no nome do Deus triúno.
Essa é a busca pelo “caminho antigo” no qual ouvimos os nossos pais e mães, sabemos do seu enraizamento nas Escrituras e nos percebemos rodeados de “uma grande nuvem de testemunhas” (Hb 12.1). Um dos profetas de ontem nos ajuda a colocar em palavras essa vocação:
Assim diz o Senhor:
“Ponham-se nas encruzilhadas e olhem;
perguntem pelos caminhos antigos,
perguntem pelo bom caminho.
Sigam-no e acharão descanso”.
– Jeremias 6.16
Nota
1. NOUWEN, Henri J. M. The Genesee diary: report from a Trappist monastery. Nova York: Doubleday, 1981. p. 13, 65-67.
• Valdir Steuernagel é pastor luterano e integrante da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e da Visão Mundial. @silva.steuernagel.
Texto publicado originalmente em Raízes de um Evangelho Integral – Missão em Perspectiva Histórica, Editora Ultimato.
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