Palavra do leitor
- 01 de fevereiro de 2019
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Você sabia que as nossas cidades são muito parecidas com as cidades medievais?
No livro intitulado "Por amor às cidades" escrito pelo historiador Jacques Le Goff, podemos perceber como nossas cidades modernas são muito parecidas com as cidades medievais. Mencionaremos algumas semelhanças importantes:
1. Negócio e diversões
Ao contrário das cidades gregas construídas para propiciar o ócio e a reflexão filosófica e política, tendo como centro a Ágora (praça pública), a cidade medieval e a cidade moderna foram construídas para favorecer o neg-ócio (a negação do ócio). Nem as cidades medievais e nem as nossas cidades foram projetadas para favorecer o ócio e o devaneio, mas para promover o negócio, o comércio, as trocas e também os divertimentos.
2. Segurança
A cidade medieval era rodeada por uma muralha que a protegia de invasores e vagabundos. Os citadinos, mormente os mais ricos, tinham o hábito de trancar as portas a chave. Semelhante aos condomínios fechados de nossas cidades, cheios de grades e fechaduras.
As igrejas e monastérios também eram verdadeiras fortificações nas quais buscava-se proteção. Assim como os arranha-céus são fortificações hoje em dia.
3. Casas de solidariedade
É na Idade Média que surgem os abrigos, os asilos, casa para leprosos e toda sorte de acolhimento humanitário. Isto porque, se por um lado a cidade medieval priorizava o negócio e a riqueza, por outro lado ela atentava para o pobre e o excluído. Tendo em conta que o excluído-mor no imaginário medieval era o próprio Cristo. Cristo que deixara de ser o Cristo Pantocrator (todo-poderoso) para ser o Cristo pobre e marginalizado.
Nossas cidades também, embora grandes e sufocantes pelo alto nível de competição e tudo o que se relaciona a isto, possui muitos albergues, asilos, casas de apoio e pessoas solidárias que atentam para os mais pobres.
Obs: neste sentido a moral cristã faz-se superior a moral grega. Os gregos valorizavam os fortes, já os cristãos valorizam os fracos, a exemplo do próprio Cristo: homem de dores e transfigurado por nossas maldades. Agonizou no duro madeiro da Cruz e sofreu um montão.
3. Pregadores itinerantes
Sabe aqueles pregadores endoidecidos que a gente vê na Praça da Sé? Então, no medievo eles também existiam. Eram os frades mendicantes. Frades que dedicavam suas vidas a pregar de maneira itinerante. Muitos deles pouco conheciam sobre teologia. O próprio Francisco de Assis não era um erudito. Ele devia possuir um conhecimento médio das Escrituras, mas não um conhecimento profundo e refinado como o de um Agostinho, por exemplo.
4. Urbanismo e beleza
Tanto as cidades medievais quanto as nossas primam pelo urbanismo, estética e beleza. Outrossim, as cidades medievais possuíam subterrâneos tais como as nossas. Lá, as pessoas divertiam e embebedavam-se. O imaginário medieval balança então entre a boa cidade que é "Jerusalém", e a má cidade que é "Babilônia".
5. Universidades e hospitais
Se hoje nós podemos ter educação para todos e saúde para todos é porque tais valores foram instaurados na Idade Média.
Os hospitais também surgiram no fundo dos monastérios, aonde os frades cuidavam dos leprosos (ao invés de jogá-los para fora dos muros da cidade). E as universidades no molde como hoje as conhecemos surgiu no medievo também.
6. Ciência
E, finalmente a investigação e o progresso científico. Sim! não fosse a ciência praticada primeiro nos monastérios não teríamos tido a então nascente e benquista ciência moderna. Oh! a ciência moderna foi precedida pelos cientistas medievais, frades e monges que dedicavam suas vidas ao estudo da Natureza que refletia a glória de Deus. Conhecendo a natureza para melhor conhecer a Deus e a si mesmos, já que toda a Criação apontava para o Senhor. A investigação e observação da natureza fez muitos avanços na Idade Média.
Obs: as informações contidas nos tópicos que enumeramos como 5 e 6 não estão no livro, salvo melhor juízo.
No fim das contas as nossas cidades se parecem mais com as cidades medievais a qualquer outro tipo de cidade construída ao longo de toda a história, afirma Le Goff. Cidade preocupada com: negocio, segurança, enriquecimento mas também solidariedade, urbanismo e beleza, hospitais, universidades e ciência.
E é por essas e outras, que sentimos certo embaraço ao ouvir o famoso bordão "tá vendo: isso é coisa da Idade Média".
* José Chadan é mestre em filosofia pela PUC-SP.
E-mail: zepchadan@outlook.com .
**Comentário sobre "Por Amor às Cidades" de Jacques Le Goff.
1. Negócio e diversões
Ao contrário das cidades gregas construídas para propiciar o ócio e a reflexão filosófica e política, tendo como centro a Ágora (praça pública), a cidade medieval e a cidade moderna foram construídas para favorecer o neg-ócio (a negação do ócio). Nem as cidades medievais e nem as nossas cidades foram projetadas para favorecer o ócio e o devaneio, mas para promover o negócio, o comércio, as trocas e também os divertimentos.
2. Segurança
A cidade medieval era rodeada por uma muralha que a protegia de invasores e vagabundos. Os citadinos, mormente os mais ricos, tinham o hábito de trancar as portas a chave. Semelhante aos condomínios fechados de nossas cidades, cheios de grades e fechaduras.
As igrejas e monastérios também eram verdadeiras fortificações nas quais buscava-se proteção. Assim como os arranha-céus são fortificações hoje em dia.
3. Casas de solidariedade
É na Idade Média que surgem os abrigos, os asilos, casa para leprosos e toda sorte de acolhimento humanitário. Isto porque, se por um lado a cidade medieval priorizava o negócio e a riqueza, por outro lado ela atentava para o pobre e o excluído. Tendo em conta que o excluído-mor no imaginário medieval era o próprio Cristo. Cristo que deixara de ser o Cristo Pantocrator (todo-poderoso) para ser o Cristo pobre e marginalizado.
Nossas cidades também, embora grandes e sufocantes pelo alto nível de competição e tudo o que se relaciona a isto, possui muitos albergues, asilos, casas de apoio e pessoas solidárias que atentam para os mais pobres.
Obs: neste sentido a moral cristã faz-se superior a moral grega. Os gregos valorizavam os fortes, já os cristãos valorizam os fracos, a exemplo do próprio Cristo: homem de dores e transfigurado por nossas maldades. Agonizou no duro madeiro da Cruz e sofreu um montão.
3. Pregadores itinerantes
Sabe aqueles pregadores endoidecidos que a gente vê na Praça da Sé? Então, no medievo eles também existiam. Eram os frades mendicantes. Frades que dedicavam suas vidas a pregar de maneira itinerante. Muitos deles pouco conheciam sobre teologia. O próprio Francisco de Assis não era um erudito. Ele devia possuir um conhecimento médio das Escrituras, mas não um conhecimento profundo e refinado como o de um Agostinho, por exemplo.
4. Urbanismo e beleza
Tanto as cidades medievais quanto as nossas primam pelo urbanismo, estética e beleza. Outrossim, as cidades medievais possuíam subterrâneos tais como as nossas. Lá, as pessoas divertiam e embebedavam-se. O imaginário medieval balança então entre a boa cidade que é "Jerusalém", e a má cidade que é "Babilônia".
5. Universidades e hospitais
Se hoje nós podemos ter educação para todos e saúde para todos é porque tais valores foram instaurados na Idade Média.
Os hospitais também surgiram no fundo dos monastérios, aonde os frades cuidavam dos leprosos (ao invés de jogá-los para fora dos muros da cidade). E as universidades no molde como hoje as conhecemos surgiu no medievo também.
6. Ciência
E, finalmente a investigação e o progresso científico. Sim! não fosse a ciência praticada primeiro nos monastérios não teríamos tido a então nascente e benquista ciência moderna. Oh! a ciência moderna foi precedida pelos cientistas medievais, frades e monges que dedicavam suas vidas ao estudo da Natureza que refletia a glória de Deus. Conhecendo a natureza para melhor conhecer a Deus e a si mesmos, já que toda a Criação apontava para o Senhor. A investigação e observação da natureza fez muitos avanços na Idade Média.
Obs: as informações contidas nos tópicos que enumeramos como 5 e 6 não estão no livro, salvo melhor juízo.
No fim das contas as nossas cidades se parecem mais com as cidades medievais a qualquer outro tipo de cidade construída ao longo de toda a história, afirma Le Goff. Cidade preocupada com: negocio, segurança, enriquecimento mas também solidariedade, urbanismo e beleza, hospitais, universidades e ciência.
E é por essas e outras, que sentimos certo embaraço ao ouvir o famoso bordão "tá vendo: isso é coisa da Idade Média".
* José Chadan é mestre em filosofia pela PUC-SP.
E-mail: zepchadan@outlook.com .
**Comentário sobre "Por Amor às Cidades" de Jacques Le Goff.
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