Palavra do leitor
- 29 de novembro de 2012
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Sabe com quem está falando?
Há certa alegria quando ouço “Alegria, Alegria” do Caetano, que diz: “Sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos, eu quero seguir vivendo, amor, eu vou...”. A alegria é justificada pela singeleza aparente da imagem, que nessa vida conturbada a qual me submeto mansamente, soa como refrigério; a boa sensação de estar “sem nada no bolso ou nas mãos” de ser eu mesmo, esvaziado dos papéis comumente assumidos e bem ensaiados do cotidiano.
Há também, óbvio, uma clara e idiossincrática leitura de uma doce anarquia; aquela particular coragem de ser e agir sem rótulos.
Os tempos modernos são propícios às encenações, assumir personalidades várias, de acordo com o ambiente, circunstâncias e necessidades; afinal, no meu trabalho, quantas pessoas sabem mais que meu nome e função? Na faculdade sabem menos ainda, certamente e na igreja, por algumas horas no domingo, talvez seja meu mais difícil ambiente, preciso desempenhar meu melhor papel, o de santo, ou candidato a tal.
Anônimo e protegido por anônimos, numa multidão sem rosto ou endereço posso me reinventar a todo instante, posso todas as coisas naquele ou neste contexto, minhas opões se tornam quase infinitas quando o assunto é representar, omitir ou alterar minha real identidade: ser quem não sou, ou não ser quem sou.
Ser um escaninho de parede com todas aquelas divisões impessoais e independentes amplia o leque de escolhas, travisto-me de acordo com o lugar ou companhia, sou um novo a cada novo instante ou novo interesse. No trabalho, escola, família, igreja, lazer, a cada nova situação lanço mão daquilo que guardo numa das divisões do escaninho e adéquo à face, olhar, pose e discurso. Mantenho a personalidade enquanto necessário seja; coerente e confiável. Represento.
Escrever na primeira pessoa do singular não é uma simplista confissão da minha frustrante incapacidade de ser eu mesmo o tempo todo (abomino aquela intimidade do “nós” que protege e salva a todos) tampouco um frio e calculado ato expiatório; na verdade a primeira pessoa assume riscos impensáveis às confortáveis personalidades que asseguram a preciosa proteção do eu desnudo.
Escrevi, tempos atrás sobre minhas aflitivas inquietações a respeito de quem sou quando ninguém está me olhando; nada pode ser mais inconclusivo. Aquela coisa de me demorar frente ao espelho e por me demorar, descobrir que não me agrada o que vejo; por mais que me esforce, Deus e eu não nos deixamos enganar por mim.
Integridade: uma palavra obsoleta e uma virtude esquecida; se for possível, e quase sempre o é, resolverei as coisas da melhor maneira, e não gastarei tempo resolvendo da maneira digna e santa; santidade é outra palavra que caducou, faz tempo.
Minha vida não “dá certo” por muito tempo quando minha principal ocupação é cultivar minha perfeição aparente; quando acredito ser possível servir a dois senhores, ter dupla ou múltipla personalidade e ainda assim ser pleno e feliz equivale a dar ouvidos à conversa fiada do diabo, que tem intenso prazer em me ver diferente e distante de Jesus, o Cristo.
Só mesmo quando me demoro frente ao espelho (Tg 1: 23-25) e aceito e amo de maneira saudável o que encontro em mim é que posso aceitar e amar as pessoas como Deus espera. Eu não posso fugir de mim nem me ignorar por tempo indeterminado; uma atitude “esquizofrênica” pode me poupar, entretanto não pode me livrar das aflições.
Uma boa opinião a respeito de mim mesmo me ajudará a desistir dos papéis e dos discursos ensaiados, das caras e bocas, uma boa opinião a respeito de mim mesmo começa na palavra de Deus e nas suas afirmações.
“Pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo”. Rm 7: 18 (NTLH). Tal afirmação me deixa em paz, entendo que toda a carne se estragou e desde o início da atividade redentora permaneço em obras, que a natureza velha vai se despedindo aos poucos; às vezes tenta reagir, balbucia e esperneia, mas lentamente vai morrendo.
As virtudes novas que começam a despontar no meu caráter, também em obras, vem do Pai, não são fruto do meu esforço, tampouco meritórias são. A presença de Deus evidenciada em minha vida é que me ajudará a me despir das vestes “carnais” que se traduzem pelas máscaras condizentes e palavras gentis, porém vazias de significado e sentido.
Ao me despir do velho e corrompido homem, (II cor 5: 17), e me vestir conforme se veste a nova criação, posso andar por aí, relacionar de um jeito assertivo/amoroso e ter a certeza de que as pessoas me verão tal qual sou e me torno à medida que a boa mão do Senhor molda; quando permaneço em Deus, as pessoas olham pra mim e sabem exatamente com que estão falando.
* missionário na Missão Vida de Brasilia
Há também, óbvio, uma clara e idiossincrática leitura de uma doce anarquia; aquela particular coragem de ser e agir sem rótulos.
Os tempos modernos são propícios às encenações, assumir personalidades várias, de acordo com o ambiente, circunstâncias e necessidades; afinal, no meu trabalho, quantas pessoas sabem mais que meu nome e função? Na faculdade sabem menos ainda, certamente e na igreja, por algumas horas no domingo, talvez seja meu mais difícil ambiente, preciso desempenhar meu melhor papel, o de santo, ou candidato a tal.
Anônimo e protegido por anônimos, numa multidão sem rosto ou endereço posso me reinventar a todo instante, posso todas as coisas naquele ou neste contexto, minhas opões se tornam quase infinitas quando o assunto é representar, omitir ou alterar minha real identidade: ser quem não sou, ou não ser quem sou.
Ser um escaninho de parede com todas aquelas divisões impessoais e independentes amplia o leque de escolhas, travisto-me de acordo com o lugar ou companhia, sou um novo a cada novo instante ou novo interesse. No trabalho, escola, família, igreja, lazer, a cada nova situação lanço mão daquilo que guardo numa das divisões do escaninho e adéquo à face, olhar, pose e discurso. Mantenho a personalidade enquanto necessário seja; coerente e confiável. Represento.
Escrever na primeira pessoa do singular não é uma simplista confissão da minha frustrante incapacidade de ser eu mesmo o tempo todo (abomino aquela intimidade do “nós” que protege e salva a todos) tampouco um frio e calculado ato expiatório; na verdade a primeira pessoa assume riscos impensáveis às confortáveis personalidades que asseguram a preciosa proteção do eu desnudo.
Escrevi, tempos atrás sobre minhas aflitivas inquietações a respeito de quem sou quando ninguém está me olhando; nada pode ser mais inconclusivo. Aquela coisa de me demorar frente ao espelho e por me demorar, descobrir que não me agrada o que vejo; por mais que me esforce, Deus e eu não nos deixamos enganar por mim.
Integridade: uma palavra obsoleta e uma virtude esquecida; se for possível, e quase sempre o é, resolverei as coisas da melhor maneira, e não gastarei tempo resolvendo da maneira digna e santa; santidade é outra palavra que caducou, faz tempo.
Minha vida não “dá certo” por muito tempo quando minha principal ocupação é cultivar minha perfeição aparente; quando acredito ser possível servir a dois senhores, ter dupla ou múltipla personalidade e ainda assim ser pleno e feliz equivale a dar ouvidos à conversa fiada do diabo, que tem intenso prazer em me ver diferente e distante de Jesus, o Cristo.
Só mesmo quando me demoro frente ao espelho (Tg 1: 23-25) e aceito e amo de maneira saudável o que encontro em mim é que posso aceitar e amar as pessoas como Deus espera. Eu não posso fugir de mim nem me ignorar por tempo indeterminado; uma atitude “esquizofrênica” pode me poupar, entretanto não pode me livrar das aflições.
Uma boa opinião a respeito de mim mesmo me ajudará a desistir dos papéis e dos discursos ensaiados, das caras e bocas, uma boa opinião a respeito de mim mesmo começa na palavra de Deus e nas suas afirmações.
“Pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo”. Rm 7: 18 (NTLH). Tal afirmação me deixa em paz, entendo que toda a carne se estragou e desde o início da atividade redentora permaneço em obras, que a natureza velha vai se despedindo aos poucos; às vezes tenta reagir, balbucia e esperneia, mas lentamente vai morrendo.
As virtudes novas que começam a despontar no meu caráter, também em obras, vem do Pai, não são fruto do meu esforço, tampouco meritórias são. A presença de Deus evidenciada em minha vida é que me ajudará a me despir das vestes “carnais” que se traduzem pelas máscaras condizentes e palavras gentis, porém vazias de significado e sentido.
Ao me despir do velho e corrompido homem, (II cor 5: 17), e me vestir conforme se veste a nova criação, posso andar por aí, relacionar de um jeito assertivo/amoroso e ter a certeza de que as pessoas me verão tal qual sou e me torno à medida que a boa mão do Senhor molda; quando permaneço em Deus, as pessoas olham pra mim e sabem exatamente com que estão falando.
* missionário na Missão Vida de Brasilia
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