Palavra do leitor
- 01 de julho de 2013
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Outra história
É... Eu amo gente. Amo a ponto de gastar meus melhores dias e o melhor de mim com gente e não com coisas; aprendi, na caminhada cristã na qual muita gente boa protagonizou a figura de mestre, que, se devo me gastar, que seja com quem queira ser ajudado; não há outra forma de fazer as coisas por aqui.
Outro dia encontrei um vídeo com uma pregação do Pr. Wildo e foi boa surpresa, afinal, mesmo servindo ao Reino de Deus sob sua liderança, raramente tenho oportunidade de ouvi-lo, (sendo missionário demais à vezes me torno ovelha de menos; coisas do campo, ou coisas da minha desfaçatez religiosa).
Eu amo gente e meu “negócio” aqui na Terra é recuperar mendigos, anunciar a salvação que só Jesus pode dar; servir a cada morador de rua sob nossos cuidados como quem serve ao próprio Cristo; aprendo assim aqui e antes daqui também.
Ouvindo a pregação eu pude deixar de me sentir culpado por algumas ideias e sentimentos que me atormentavam de quando em vez, pois que amar gente não significa amar os hábitos ruins e os entortamentos de caráter das mesmas; amar gente é empenhar-me e trabalhar com excelência para promover as pessoas à outra percepção de consciência, de si mesmas, de Deus; acompanhá-las a outro lugar social, amplo e com chances concretas de real recuperação. Fácil? Nunca é fácil.
Após ouvir as palavras do pastor eu estou livre pra dizer que me gasto no programa de recuperação de mendigos da Missão Vida aqui em Brasília competentemente, a qualquer hora posso ser encontrado e não encolho as mãos que o Cristo me ensinou a estender; mas que tenho sérios problemas com o meu olfato e sempre que entrevisto, revisto e ajudo no banho ou corto as unhas de algum morador de rua é com imensa dificuldade que o faço, todas as vezes que faço ou troco um curativo nas feridas, muitas vezes horrorosas deles, sofro; ainda que ao final eu sempre me encontre feliz com o resultado.
Não consigo nem posso entender como normal o comportamento de pessoas que saem da condição de detestáveis para a condição de “irmãos”, mas continuam mentindo, ludibriando, criando caso por ninharias e anulando a graça de Deus em troca de nada, ou quase; dias ruins não são nossa marca, mas acontecem e os atuais tem sido assim.
Aprendo que os internos que se recuperam (e estes são muitos) compensam as frustrações doloridas de ver gente a quem nos apegamos preferir voltar pras ruas por sentir saudades da droga do crack e da droga de vida que levava, gente que aprendo a amar, mas que ama e sente inveja do mal.
Não gaste seu tempo deixando um comentário solidário/enternecedor sobre o assunto, o couro de um missionário vai engrossando com o tempo, o desencanto e o desalento momentâneos não chegam a tomar o lugar da esperança, uma vez que a esperança que nasce em Cristo sempre é nova; se renova e sustenta a alma abatida pelos tais dias ruins.
Libertar-me da culpa pela indignação com os resultados pífios alcançados por alguns é uma saudável e importante vitória que me faz lembrar de certo texto bíblico muito apreciado pelo Pr. Wildo: “Logo ao alvorecer semeia a tua semente e à tarde não repouses a mão, pois não sabes qual das tuas obras vai prosperar, se esta ou aquela, ou ambas serão boas”. Eclesiastes 11:6. Continuo a serviço e disposto a me gastar e me frustrar quantas vezes forem necessárias para ver gente restaurada.
O convívio diário e prolongado com meus irmãos internos me traz sempre à lembrança meu próprio trajeto até aqui, das inúmeras segundas chances que precisei; nessas horas de lembranças entendo o que faço aqui em meio ao cheiro ruim do início, aos ludíbrios do meio e vitórias ou não do final; eu reproduzo a graça de Deus, prossigo conhecendo e fazendo-O conhecido, nem tanto pelas palavras que prego, pois minha vida, toda ela é derivação relacional e espelho cotidiano.
Fazer parte da caminhada de alguém é um preço alto, porém justo quando olho lá adiante e entendo que minha vocação é semear; fazer germinar, fazer crescer já é outra história, outra patente.
Magno Aquino é diretor do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida de Brasília
Outro dia encontrei um vídeo com uma pregação do Pr. Wildo e foi boa surpresa, afinal, mesmo servindo ao Reino de Deus sob sua liderança, raramente tenho oportunidade de ouvi-lo, (sendo missionário demais à vezes me torno ovelha de menos; coisas do campo, ou coisas da minha desfaçatez religiosa).
Eu amo gente e meu “negócio” aqui na Terra é recuperar mendigos, anunciar a salvação que só Jesus pode dar; servir a cada morador de rua sob nossos cuidados como quem serve ao próprio Cristo; aprendo assim aqui e antes daqui também.
Ouvindo a pregação eu pude deixar de me sentir culpado por algumas ideias e sentimentos que me atormentavam de quando em vez, pois que amar gente não significa amar os hábitos ruins e os entortamentos de caráter das mesmas; amar gente é empenhar-me e trabalhar com excelência para promover as pessoas à outra percepção de consciência, de si mesmas, de Deus; acompanhá-las a outro lugar social, amplo e com chances concretas de real recuperação. Fácil? Nunca é fácil.
Após ouvir as palavras do pastor eu estou livre pra dizer que me gasto no programa de recuperação de mendigos da Missão Vida aqui em Brasília competentemente, a qualquer hora posso ser encontrado e não encolho as mãos que o Cristo me ensinou a estender; mas que tenho sérios problemas com o meu olfato e sempre que entrevisto, revisto e ajudo no banho ou corto as unhas de algum morador de rua é com imensa dificuldade que o faço, todas as vezes que faço ou troco um curativo nas feridas, muitas vezes horrorosas deles, sofro; ainda que ao final eu sempre me encontre feliz com o resultado.
Não consigo nem posso entender como normal o comportamento de pessoas que saem da condição de detestáveis para a condição de “irmãos”, mas continuam mentindo, ludibriando, criando caso por ninharias e anulando a graça de Deus em troca de nada, ou quase; dias ruins não são nossa marca, mas acontecem e os atuais tem sido assim.
Aprendo que os internos que se recuperam (e estes são muitos) compensam as frustrações doloridas de ver gente a quem nos apegamos preferir voltar pras ruas por sentir saudades da droga do crack e da droga de vida que levava, gente que aprendo a amar, mas que ama e sente inveja do mal.
Não gaste seu tempo deixando um comentário solidário/enternecedor sobre o assunto, o couro de um missionário vai engrossando com o tempo, o desencanto e o desalento momentâneos não chegam a tomar o lugar da esperança, uma vez que a esperança que nasce em Cristo sempre é nova; se renova e sustenta a alma abatida pelos tais dias ruins.
Libertar-me da culpa pela indignação com os resultados pífios alcançados por alguns é uma saudável e importante vitória que me faz lembrar de certo texto bíblico muito apreciado pelo Pr. Wildo: “Logo ao alvorecer semeia a tua semente e à tarde não repouses a mão, pois não sabes qual das tuas obras vai prosperar, se esta ou aquela, ou ambas serão boas”. Eclesiastes 11:6. Continuo a serviço e disposto a me gastar e me frustrar quantas vezes forem necessárias para ver gente restaurada.
O convívio diário e prolongado com meus irmãos internos me traz sempre à lembrança meu próprio trajeto até aqui, das inúmeras segundas chances que precisei; nessas horas de lembranças entendo o que faço aqui em meio ao cheiro ruim do início, aos ludíbrios do meio e vitórias ou não do final; eu reproduzo a graça de Deus, prossigo conhecendo e fazendo-O conhecido, nem tanto pelas palavras que prego, pois minha vida, toda ela é derivação relacional e espelho cotidiano.
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Magno Aquino é diretor do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida de Brasília
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