Palavra do leitor
- 19 de julho de 2015
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Não Sou "Pentecosfóbico"
Um leitor enviou-me uma crítica, acusando-me de "pentecosfóbico". Interessante. Trata-se de mais um verbete no dicionário de "fobias" dessa nossa democracia, onde pensar diferente faz de você "algumacoisafóbico".
"Pentecosfobia" seria algum tipo de ódio contra pentecostais. Se eu odiasse os pentecostais, odiaria muita gente que jamais odiaria: meus pais participam desde a infância de um grupo pentecostal que agrega, hoje, a maior parte de fiéis desse segmento - as Assembleias de Deus; muitos parentes em linha reta ou colateral frequentam reuniões em igrejas pentecostais ou neopentecostais; conheci a minha esposa em uma igreja pentecostal (a maior contribuição do pentecostalismo feita a mim); minha irmã canta todos os domingos em um culto pentecostal; tenho amigos guardados no lado esquerdo do peito que são pentecostais. A lista pode ser muito maior, mas não é necessário.
Seu eu fosse "pentecosfóbico" teria que odiar milhões de brasileiros, pois - seja isso positivo ou não - a realidade é que "o país, continuando na mesma batida, terá uns 50% de população evangélica em poucos anos", como escreveu Pondé em sua coluna na Folha no dia 22/06/2015. E sabemos que os grandes responsáveis por esse crescimento sem precedentes de evangélicos no Brasil são os movimentos pentecostais e neopentecostais.
O ódio religioso não é uma patologia psicológica da qual sofro. Essa questão é séria. Mesmo no nosso mundo cientificamente evoluído e com tanto papo de tolerância e ecumenismo sabemos que muitas mortes ainda têm como causa conflitos de ordem religiosa. Pessoas continuam odiando e matando em nome de seu deus. Há católico que odeia evangélico e vice-versa. Há evangélico que não suporta candomblecista e vice-versa. Há muçulmano que quer expurgar o mundo da praga chamada "cristão" e vice-versa. E há o evangélico que detesta um evangélico de outra denominação que não a sua. Já vi um monte de piadinhas de humor negro feitas por tradicionais contra pentecostais e vice-versa. Tem calvinista que não consegue conversar com um arminiano e vice-versa.
Não, meu problema não é com os pentecostais, em sua maioria gente simples e muito sincera em sua busca por um cristianismo mais piedoso, mais espiritualmente vivo. Meu problema é com os contornos que o pentecostalismo brasileiro vêm apresentando em nossos dias. Perdoem-me os pentecostais de coração, mas não posso deixar de dizer que o pentecostalismo clássico, equilibrado, coerente com as Escrituras e com a herança teológica da Reforma Protestante está em fase terminal. Até mesmo as Assembleias de Deus, guardiãs do pentecostalismo de raiz no Brasil, estão sendo devoradas pelo neopentecostalismo (com sua teologia da prosperidade, seus apetrechos ungidos, suas reuniões com muito apelo sentimental e antiintelectual, seu analfabetismo bíblico, seus pastores midiáticos e milionários, seus fiéis infantilizados e manipulados, seu clericalismo veterotestamentário, suas músicas sentimentalistas e ególatras, dentre outras tantas marcas).
Não estou sendo categórico aqui, mas a constatação mais óbvia parece ser que o neopentecostalismo sofrerá novas mutações genéticas e sobreviverá como espécie cada vez mais forte no nicho religioso brasileiro. E mais: essa espécie permanecerá dominante sobre as demais, cravando seus tentáculos profundamente inclusive nas denominações protestantes históricas. Estas, se quiserem ser fiéis ao legado dos reformadores, terão que suportar sobreviver como grupos cada vez mais reduzidos, como ilhas isoladas no oceano, como espécies em extinção. Continuaremos experimentando um processo de neopentecostalização desenfreada no evangelicismo tupiniquim.
Não sou "pentecosfóbico". A questão é que não sou simpático a um gênero de pentecostalismo que gera uma espécie de cristão esquizofrênico, biblicamente desnutrido, espiritualmente confuso e mentalmente alienado. E quanto às lideranças, como poderia eu respeitar e admirar esses milagreiros e "semi-deuses" (esse é o único título eclesiástico que falta no neopentecostalismo) que se aproveitam do poder espiritual que exercem sobre as pessoas para obterem poder político e econômico? Como não discordar desse misticismo sincrético absurdo, da confusão hermenêutica, da bagunça cúltica, da exploração comercial do sagrado, da manipulação da consciência?
Sinais de esperança no horizonte do pentecostalismo aparecem aqui e acolá, como é o caso da Assembleia de Deus de Herança Reformada em Maringá-PR, que conheci através do meu blog. É uma igreja nascente que busca a síntese entre um pentecostalismo clássico não neopentecostalizado e a tradição teológica da Reforma Protestante.
Assim como não sou "pentecosfóbico", também não sou tão pessimista assim. Há muitos pentecostais conscienciosos que estão percebendo que o trem do pentecostalismo em algumas igrejas já descarrilhou há muito tempo. Citando Nicodemus, acredito que "quem sabe os pentecostais não estejam predestinados a avançar bastante a teologia da Reforma no Brasil?".
"Pentecosfobia" seria algum tipo de ódio contra pentecostais. Se eu odiasse os pentecostais, odiaria muita gente que jamais odiaria: meus pais participam desde a infância de um grupo pentecostal que agrega, hoje, a maior parte de fiéis desse segmento - as Assembleias de Deus; muitos parentes em linha reta ou colateral frequentam reuniões em igrejas pentecostais ou neopentecostais; conheci a minha esposa em uma igreja pentecostal (a maior contribuição do pentecostalismo feita a mim); minha irmã canta todos os domingos em um culto pentecostal; tenho amigos guardados no lado esquerdo do peito que são pentecostais. A lista pode ser muito maior, mas não é necessário.
Seu eu fosse "pentecosfóbico" teria que odiar milhões de brasileiros, pois - seja isso positivo ou não - a realidade é que "o país, continuando na mesma batida, terá uns 50% de população evangélica em poucos anos", como escreveu Pondé em sua coluna na Folha no dia 22/06/2015. E sabemos que os grandes responsáveis por esse crescimento sem precedentes de evangélicos no Brasil são os movimentos pentecostais e neopentecostais.
O ódio religioso não é uma patologia psicológica da qual sofro. Essa questão é séria. Mesmo no nosso mundo cientificamente evoluído e com tanto papo de tolerância e ecumenismo sabemos que muitas mortes ainda têm como causa conflitos de ordem religiosa. Pessoas continuam odiando e matando em nome de seu deus. Há católico que odeia evangélico e vice-versa. Há evangélico que não suporta candomblecista e vice-versa. Há muçulmano que quer expurgar o mundo da praga chamada "cristão" e vice-versa. E há o evangélico que detesta um evangélico de outra denominação que não a sua. Já vi um monte de piadinhas de humor negro feitas por tradicionais contra pentecostais e vice-versa. Tem calvinista que não consegue conversar com um arminiano e vice-versa.
Não, meu problema não é com os pentecostais, em sua maioria gente simples e muito sincera em sua busca por um cristianismo mais piedoso, mais espiritualmente vivo. Meu problema é com os contornos que o pentecostalismo brasileiro vêm apresentando em nossos dias. Perdoem-me os pentecostais de coração, mas não posso deixar de dizer que o pentecostalismo clássico, equilibrado, coerente com as Escrituras e com a herança teológica da Reforma Protestante está em fase terminal. Até mesmo as Assembleias de Deus, guardiãs do pentecostalismo de raiz no Brasil, estão sendo devoradas pelo neopentecostalismo (com sua teologia da prosperidade, seus apetrechos ungidos, suas reuniões com muito apelo sentimental e antiintelectual, seu analfabetismo bíblico, seus pastores midiáticos e milionários, seus fiéis infantilizados e manipulados, seu clericalismo veterotestamentário, suas músicas sentimentalistas e ególatras, dentre outras tantas marcas).
Não estou sendo categórico aqui, mas a constatação mais óbvia parece ser que o neopentecostalismo sofrerá novas mutações genéticas e sobreviverá como espécie cada vez mais forte no nicho religioso brasileiro. E mais: essa espécie permanecerá dominante sobre as demais, cravando seus tentáculos profundamente inclusive nas denominações protestantes históricas. Estas, se quiserem ser fiéis ao legado dos reformadores, terão que suportar sobreviver como grupos cada vez mais reduzidos, como ilhas isoladas no oceano, como espécies em extinção. Continuaremos experimentando um processo de neopentecostalização desenfreada no evangelicismo tupiniquim.
Não sou "pentecosfóbico". A questão é que não sou simpático a um gênero de pentecostalismo que gera uma espécie de cristão esquizofrênico, biblicamente desnutrido, espiritualmente confuso e mentalmente alienado. E quanto às lideranças, como poderia eu respeitar e admirar esses milagreiros e "semi-deuses" (esse é o único título eclesiástico que falta no neopentecostalismo) que se aproveitam do poder espiritual que exercem sobre as pessoas para obterem poder político e econômico? Como não discordar desse misticismo sincrético absurdo, da confusão hermenêutica, da bagunça cúltica, da exploração comercial do sagrado, da manipulação da consciência?
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São Bernardo Do Campo - SP
Textos publicados: 43 [ver]
Site: http://www.crencaevivencia.blogspot.com.br
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