Palavra do leitor
- 24 de março de 2013
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Morte cerebral e morte na bíblia – conceitos incompatíveis?
Em uma recente polêmica neste espaço do leitor, foram levantadas algumas questões envolvendo a doação de órgãos e a morte cerebral. A opinião mais assertiva foi “extrair órgãos de alguém declarado 'encefalicamente morto'(sic), ou 'percentualmente morto'(sic), ou 'parcialmente morto'(sic), ou 'fracionadamente morto'(sic), ou 'semimorto'(sic), ou 'quase-morto'(sic), constitui uma inaceitável aberração, MÁXIME NO ÂMBITO E SOB A ÓTICA BÍBLICO-CRISTÃ.”
É esta a questão que quero discutir.
As Escrituras usam o termo “morte” em dois universos: a morte física e a espiritual. A primeira, decorrente do processo de viver (pode ser discutido se esta morte existia no Éden ou não, se é punição pelo pecado ou não). A segunda, inquestionavelmente, punição pelo pecado. A primeira, uma porta; a segunda, uma “existência” (ou “não-existência”).
As Escrituras não dizem como diagnosticar que alguém está fisicamente morto; mas ensinam como cada um pode se perceber espiritualmente vivo, ou morto.
A morte sempre foi vista como um fato simples, até há algumas décadas. Um moribundo estava mais próximo da morte, mas estava vivo. Quando seu coração não mais batia, estava morto. Imediatamente? Alguns segundos depois?
Buscando novas formas de tratamento, passou a ser possível sustentar pessoas incapazes de respirar por si mesmas, ou incapazes de manter a circulação funcionando sem medicamentos específicos, ou incapazes de se manterem conscientes por um tempo. Foi percebido que a morte biológica é um processo contínuo, que pode ser retardado, mas nunca evitado. Foi percebido que é possível manter a circulação e a respiração, mas não a consciência em nenhum nível. Caso o suporte cardiorrespiratório cesse, a morte como sempre foi percebida ocorre.
Ainda que questionável em diversos aspectos, morte cerebral significa exatamente isto: não há possibilidade do cérebro retomar nem um mínimo de funcionamento que for. A circulação e a oxigenação (não respiração) ocorrem de modo artificial – se os meios que os mantém forem suspensos, a desintegração biológica do corpo terá início (a morte “clássica”).
Não há “quase morto”, ou “percentualmente morto” - há um processo contínuo que pode ter sua velocidade modificada.
Neste momento entra a doação de órgãos: não existe a remota chance do cérebro retomar a consciência no seu nível mais elementar (uma das definições de morte cerebral, que pode ser questionada) e as atividades vitais são sustentadas exclusivamente pelo uso da tecnologia. É o evitamento da consumação, inevitável, da morte física (e não espiritual, decidida antes).
É neste hiato que a doação, eticamente efetuada, em acordo com os procedimentos legais instituídos, ocorre.
E não foi apontado por quê esta prática contraria as Escrituras. Apenas foi pontificado que contraria, mas as razões não foram dadas.
A bíblia:
- não traz proibição nem implícita nem sugerida à doação de órgãos;
- explicita a necessidade do cuidado mútuo, da solidariedade, do cuidado com o mais fraco e desafortunado;
- ensina a ressurreição de todos, e é sólida a interpretação de que novos corpos, que não guardam continuidade com o já desaparecido, serão dados
Repito a pergunta: onde está a incompatibilidade?
É esta a questão que quero discutir.
As Escrituras usam o termo “morte” em dois universos: a morte física e a espiritual. A primeira, decorrente do processo de viver (pode ser discutido se esta morte existia no Éden ou não, se é punição pelo pecado ou não). A segunda, inquestionavelmente, punição pelo pecado. A primeira, uma porta; a segunda, uma “existência” (ou “não-existência”).
As Escrituras não dizem como diagnosticar que alguém está fisicamente morto; mas ensinam como cada um pode se perceber espiritualmente vivo, ou morto.
A morte sempre foi vista como um fato simples, até há algumas décadas. Um moribundo estava mais próximo da morte, mas estava vivo. Quando seu coração não mais batia, estava morto. Imediatamente? Alguns segundos depois?
Buscando novas formas de tratamento, passou a ser possível sustentar pessoas incapazes de respirar por si mesmas, ou incapazes de manter a circulação funcionando sem medicamentos específicos, ou incapazes de se manterem conscientes por um tempo. Foi percebido que a morte biológica é um processo contínuo, que pode ser retardado, mas nunca evitado. Foi percebido que é possível manter a circulação e a respiração, mas não a consciência em nenhum nível. Caso o suporte cardiorrespiratório cesse, a morte como sempre foi percebida ocorre.
Ainda que questionável em diversos aspectos, morte cerebral significa exatamente isto: não há possibilidade do cérebro retomar nem um mínimo de funcionamento que for. A circulação e a oxigenação (não respiração) ocorrem de modo artificial – se os meios que os mantém forem suspensos, a desintegração biológica do corpo terá início (a morte “clássica”).
Não há “quase morto”, ou “percentualmente morto” - há um processo contínuo que pode ter sua velocidade modificada.
Neste momento entra a doação de órgãos: não existe a remota chance do cérebro retomar a consciência no seu nível mais elementar (uma das definições de morte cerebral, que pode ser questionada) e as atividades vitais são sustentadas exclusivamente pelo uso da tecnologia. É o evitamento da consumação, inevitável, da morte física (e não espiritual, decidida antes).
É neste hiato que a doação, eticamente efetuada, em acordo com os procedimentos legais instituídos, ocorre.
E não foi apontado por quê esta prática contraria as Escrituras. Apenas foi pontificado que contraria, mas as razões não foram dadas.
A bíblia:
- não traz proibição nem implícita nem sugerida à doação de órgãos;
- explicita a necessidade do cuidado mútuo, da solidariedade, do cuidado com o mais fraco e desafortunado;
- ensina a ressurreição de todos, e é sólida a interpretação de que novos corpos, que não guardam continuidade com o já desaparecido, serão dados
Repito a pergunta: onde está a incompatibilidade?
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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