Jó e o Nosso Sofrimento

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O livro de Jó talvez seja o mais enigmático de toda a Bíblia, mais até que o Apocalipse. Nesse último, lemos sobre coisas que nos parecem distantes no tempo e no espaço, ao passo que Jó nos fala de coisas com as quais nos identificamos, mas sobre as quais não encontramos uma explicação, não uma que nos convença.

Penso que muitos de nós gostaríamos que o livro de Jó não estivesse lá, que não fizesse parte do Cânon, que aquilo que acometeu Jó jamais passasse perto de nós. Gostamos das histórias de sucesso. Gostamos de ouvir falar de Hananias, Misael e Azarias, que foram jogados na fornalha de fogo, mas saíram de lá sem sequer cheirar fumaça. Ou de Daniel, que passou a noite na cova dos leões e saiu de lá sem nenhum arranhão. Gostamos dessas e de outras histórias semelhantes.

Mas Jó não nos atrai. É difícil encararmos seu sofrimento, principalmente quando ele disse: "O que eu temia veio sobre mim; o que eu receava me aconteceu."

Podemos extrair inúmeras lições da sua vida. Podemos discutir o porquê do sofrimento humano, questionar as razões pelas quais Deus permite que Satanás aflija o justo, falar sobre a soberania de Deus, ou sobre sua paciência, como Tiago nos ensina.

Meditando sobre sua história, comecei a pensar sobre como nos sentimos quando passamos por lutas e provações.

Gastamos boa parte da nossa vida tentando ter o controle sobre ela. Fazemos todo o possível para que nada de errado aconteça. Procuramos evitar possíveis problemas tanto para o momento presente quanto para o futuro. Assim, cuidamos da saúde, tentamos administrar com prudência as finanças, criar bem os filhos, ter um bom emprego, se relacionar bem, etc. Queremos a garantia, mesmo que não total, de que tudo está e estará sob controle. Não há nada de errado com essas atitudes.

Mas creio que, muitas vezes, até mesmo inconscientemente, achamos que Deus está conosco somente nessas horas. Ou seja, cremos que a mão abençoadora e protetora do Senhor está sobre nossas vidas quando temos tudo sob controle, e achamos que ele não está mais conosco quando perdemos esse controle.

Penso que isso aconteceu com Jó. Ele era sincero, íntegro e temente a Deus. Mas também achava que tinha o controle sobre sua vida e sobre os filhos. Quando ele perdeu completamente esse controle, entrou em desespero. Afinal, qual de nós não entraria?

O que se seguiu foi um longo processo, com Jó tentando encontrar uma explicação para tanta dor e sofrimento, o que também fazemos. Jó chegou a dizer: "Sem dúvida, ó Deus, tu me esgotaste as forças; ... Tu me deixaste deprimido, ... Deus, em sua ira, ataca-me e faz-me em pedaços, e range os dentes contra mim; ... Deus fez-me cair nas mãos dos ímpios e atirou-me nas garras dos maus. Eu estava tranquilo, mas ele me arrebentou; agarrou-me pelo pescoço e esmagou-me. ... Ele traspassou sem dó os meus rins e derramou na terra a minha bílis."

Jó começou a raciocinar como muitas vezes fazemos: se algo dá errado, se provações nos alcançam e se tempestades nos cercam, então é porque Deus nos deixou de lado. Além de todas as perdas, Jó teve que lidar com o sentimento de total abandono da parte de Deus.

Mas Deus amava Jó. Ainda que ele tenha permitido que esse homem sofresse tanto, o Senhor não o havia abandonado nem o rejeitado, nem mesmo estava irado com ele. Deus queria que Jó crescesse na sua fé.

Depois de todos os discursos acusatórios dos amigos, Deus fala a Jó e lhe mostra que ele, o Criador, nunca perdeu o controle de nada, que o Universo e tudo o que nele há se mantém porque o Senhor está no controle.

Os olhos de Jó, então, começam a se abrir. Jó percebe que estava enganado com relação a tudo o que ele pensou sobre Deus. Quando ele achava que Deus o havia abandonado, isso nunca havia acontecido.

Nos nossos momentos de crise, somos tentados a pensar assim e Satanás procura tirar vantagem disso. Nessas horas ele joga em nossa mente pensamentos como: "Que Deus é esse que você serve? Veja, agora que você mais precisa, ele lhe virou as costas. Você ainda vai confiar nele?" É assim que o inimigo age e não podemos cair nas suas armadilhas.

Temos que nos lembrar das palavras do Senhor a Josué: "O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!"

Jó aprendeu isso e no final disse: "Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram."

A Deus seja toda a glória!

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Opinião do leitor