Palavra do leitor
- 07 de outubro de 2008
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Fé que pensa, razão que crê (Parte II)
A caminhada destas duas atividades humanas (a fé e a ciência) no mundo ocidental se mistura com a busca pelo poder, tanto sobre o conjunto social (o político) quanto sobre a consciência individual (a religião e principalmente a moral). A brecha que possibilita isto é a extrapolação, o salto criativo do cientista em busca de uma nova idéia, ou da articulação de antigas idéias que possibilita ver o mundo de modo completamente novo, trazendo modificações (positivas, sempre se espera). A extrapolação a partir do texto sagrado, que busca transcender uma visão mecânica e desprovida de sentido pessoal que a árida descrição técnica provê.
A extrapolação científica inadequada é provar, ou não, a existência de Deus - ela é, em si, uma piada.
A extrapolação religiosa inadequada é determinar a idade do universo baseado nas Escrituras (pelo menos nas cristãs).
O campo mais ilustrativo da disputa, inadequada, de poder entre ambas está na controvérsia sobre as origens do homem e do universo. A face humana da questão é a biografia de Charles Darwin, atormentado entre o salto criativo proporcionado por suas observações e a criação religiosa, que insistia em uma interpretação literal de Gênesis capítulos 1 e 2. A face política é a condenação de Galileu por um tribunal inquisitorial por contrariar a teologia oficial da época.
O maior prejuízo para a questão fé e ciência que a controvérsia evolucionista trouxe foi reduzir a dupla ciência / fé, tão ampla, a apenas este aspecto. Baseado nele se decide acreditar em Deus ou negá-lo, aceitar o progresso científico ou descartá-lo. Todo reducionismo é escapista, incluindo este.
A fé tem de questionar sim a eticidade de condutas científicas, porque é sua missão constitutiva e, no caso da fé cristã, um imperativo. Onde estaria o controle sobre experimentos científicos em seres humanos se não houvesse uma crença (ou fé) no caráter especial do homem (mesmo que este caráter seja determinado exclusivamente pelo naturalismo)? A Declaração de Helsinki existiria? Os experimentos nazistas em campos de concentração teriam sido condenados?
A ciência tem de questionar sim a fé, porque enquanto atividade de observação, adota a dúvida como ferramenta de trabalho. Pode existir cura de doenças através da religião sem comprovação científica da mesma?
Ciência e fé são atividades humanas radicais, mas que não podem ser fanáticas. Ambas são radicais porque a aceitação de uma premissa científica exclui aquela(s) que a contradiz(em), tornando possível uma linha de raciocínio e patrocinando uma linha de experimentos, negando voz a(s) outra(s), mesmo que haja nela(s) valor. Não é possível ser budista e mulçumano ao mesmo tempo; se for o somatório de ambos, não será nem um, nem outro, e negará ambos. Fanatismo é quando o cientista ou crente se recusa a ouvir o que o desafia e questiona, protegendo-se através de dogmas científicos ou de fé. Não ter resposta a uma nova questão não invalida uma tese acadêmica ou uma visão religiosa, mas frequentemente as fragiliza de alguma forma. Impor pela força uma visão religiosa ou científica talvez seja a maior demonstração possível de fanatismo por parte de um, ou de outro.
O próximo capítulo desta saga será escrito pela geração atual, chamada a fazer ciência crendo, e a crer fazendo ciência.
A extrapolação científica inadequada é provar, ou não, a existência de Deus - ela é, em si, uma piada.
A extrapolação religiosa inadequada é determinar a idade do universo baseado nas Escrituras (pelo menos nas cristãs).
O campo mais ilustrativo da disputa, inadequada, de poder entre ambas está na controvérsia sobre as origens do homem e do universo. A face humana da questão é a biografia de Charles Darwin, atormentado entre o salto criativo proporcionado por suas observações e a criação religiosa, que insistia em uma interpretação literal de Gênesis capítulos 1 e 2. A face política é a condenação de Galileu por um tribunal inquisitorial por contrariar a teologia oficial da época.
O maior prejuízo para a questão fé e ciência que a controvérsia evolucionista trouxe foi reduzir a dupla ciência / fé, tão ampla, a apenas este aspecto. Baseado nele se decide acreditar em Deus ou negá-lo, aceitar o progresso científico ou descartá-lo. Todo reducionismo é escapista, incluindo este.
A fé tem de questionar sim a eticidade de condutas científicas, porque é sua missão constitutiva e, no caso da fé cristã, um imperativo. Onde estaria o controle sobre experimentos científicos em seres humanos se não houvesse uma crença (ou fé) no caráter especial do homem (mesmo que este caráter seja determinado exclusivamente pelo naturalismo)? A Declaração de Helsinki existiria? Os experimentos nazistas em campos de concentração teriam sido condenados?
A ciência tem de questionar sim a fé, porque enquanto atividade de observação, adota a dúvida como ferramenta de trabalho. Pode existir cura de doenças através da religião sem comprovação científica da mesma?
Ciência e fé são atividades humanas radicais, mas que não podem ser fanáticas. Ambas são radicais porque a aceitação de uma premissa científica exclui aquela(s) que a contradiz(em), tornando possível uma linha de raciocínio e patrocinando uma linha de experimentos, negando voz a(s) outra(s), mesmo que haja nela(s) valor. Não é possível ser budista e mulçumano ao mesmo tempo; se for o somatório de ambos, não será nem um, nem outro, e negará ambos. Fanatismo é quando o cientista ou crente se recusa a ouvir o que o desafia e questiona, protegendo-se através de dogmas científicos ou de fé. Não ter resposta a uma nova questão não invalida uma tese acadêmica ou uma visão religiosa, mas frequentemente as fragiliza de alguma forma. Impor pela força uma visão religiosa ou científica talvez seja a maior demonstração possível de fanatismo por parte de um, ou de outro.
O próximo capítulo desta saga será escrito pela geração atual, chamada a fazer ciência crendo, e a crer fazendo ciência.
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