Palavra do leitor
- 15 de outubro de 2021
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Crer ou não crer (ateus e cristãos): um debate saturado?
Nietzsche, Bertrand Russel, Albert de Camus, Saramago – clássicos ateus. Sam Harris, Daniel Dennet, Richard Dawkins e Christopher Hitchens – neoateus.
W. Lane Craig, Alister McGrath, John Lennox, Frank Turek, Dinesh de Souza, J. P. Moreland, Alvin Plantinga etc. – apologistas da fé cristã.
Entre 2006 e 2012, grande foi a repercussão dos debates entre renomados ateístas e teístas, bem como inúmeros livros lançados no ocidente por autores de ambos os segmentos em questão.
Em 2019, estava eu revendo bibliografia nessa linha, quando decidi ler Crer ou Não Crer, publicado pela editora Planeta em 2017, cujo conteúdo traz um diálogo entre o historiador ateu Leandro Karnal e o padre Fábio de Melo.
Antecedendo o prefácio de M.S. Cortella, uma citação atribuída a Diderot, despertou-me a atenção: "Perguntaram um dia a alguém se havia ateus verdadeiros. Você acredita, respondeu ele, que haja cristãos verdadeiros?"
O livro apresenta um diálogo bem cordial e amistoso. Louvável. Porém, a meu ver, as razões pessoais para crença ou descrença apresentadas a partir de suas experiências não centraram em questões tão cruciais e provocativas para os leitores.
Uma ótima sugestão de leitura nessa perspectiva com um conteúdo mais intenso seria O Cristianismo é bom para o mundo? (Christopher Hitchens x Douglas Wilson), onde é travado outro diálogo também enriquecedor e numa divergência de alto nível.
Mas voltando à citação de Diderot, existe mesmo ateus verdadeiros? Existe cristãos verdadeiros?
Sem dúvida, não é tarefa simples definir um ateu/cristão falso ou ateu/cristão verdadeiro. Primeiro, pelas implicações de juízo de valor sobre as motivações internas que os levam a crença ou descrença e a coerência (ou não) de vida entre o que crê e nega. Segundo, pela necessária proficiente análise consistente dos argumentos filosoficamente apresentados por ambos com sólida conclusão silogística.
Ademais, Deus estaria além dessa discussão – que implica mais em ego e paixão humana do que prova da realidade última em pauta. Se cristãos provassem a existência de Deus não precisariam de fé; se os ateus provassem a inexistência, a questão estaria liquidada. Para além disso, fica a máxima "Deus não existe, Ele É".
No artigo publicado por La Stampa e traduzido por Moisés Sbardelotto, o filósofo francês André Comte-Sponville evidencia o que seria, a meu ver, um ateu verdadeiro: "Se você me perguntar: "Você acredita em Deus?", a resposta é simples: "Não, não acredito". Mas se você me perguntar: "Deus existe?" [...] por honestidade intelectual, devo começar dizendo que não sei nada a respeito. Ninguém sabe".
Continua Sponville: "Se alguém lhes disser: "Eu sei que Deus não existe", ele não é substancialmente um ateu; é, acima de tudo, um imbecil. Paralelamente, se vocês encontrarem alguém que lhes disser: "Eu sei que Deus existe", ele é um imbecil que tem fé e, tolamente, toma a sua fé como um saber [...]".
Para André-Comte-Sponville, o ateu nega que Deus existe, enquanto o crente nEle crê. Mas nenhum dos dois sabem (SABER no sentido do termo) se Ele existe ou não.
As razões pelas quais alguém se torna cristão ou ateu são estritamente pessoais. Dos ateus ouço explicações como: incoerências do teísmo medieval e Cristianismo romanizado, leituras de ateístas que teriam aberto seus olhos e mentes; passado traumático com a religião e seus líderes; oração sem resposta por cura de doença em ente querido; sofrimento e injustiças do mundo; sensação de ter sido bitolado e crédulo religioso até chegar no ambiente acadêmico etc.
Alguns religiosos só de ouvir a palavra "ateu" já têm um sentimento de pavor, como se estas pessoas fossem monstras e perseguidoras de cristãos etc. Este estigma pôde ser visto até no filme "Deus não está morto", onde o professor universitário é estereotipado como uma pessoa má e intolerante.
De fato, um dos graves erros atribuídos a ateus e cristãos são pechas que atacam a moral e inteligência deles por causa de suas visões de mundo. Contudo, já está mais que comprovado: fé ou descrença em si (algo de foro íntimo) não define caráter ou QI de ninguém.
No entanto, há quem diga que um ateu verdadeiro não permanecerá ateu, como fez Anthony Flew, um dos maiores filósofos ateus do século 20. Seguindo o método das evidências e lógica-socrática, antes de morrer escreveu a obra: "Um ateu garante, Deus existe!"
O reverendo Elben César certa vez escreveu: "Nem todo crente morre crente e nem todo ateu morre ateu. Às vezes o ateu precisa de ajuda para crer; e o crente, para não deixar de crer". Leandro Karnal, Charles Darwin, Bart Ehrman, por exemplo, atestam isso. Por outro lado, C.S. Lewis, Lee Strobel, Heinrich Heine, Josh McDowell, Francis Collins etc., idem.
Apesar das fartas evidências, nem mesmo a Bíblia tenta provar a existência de Deus. Do início ao fim, o livro sagrado apresenta um Criador que se revela e se relaciona.
Como escreveu Victor Hugo: "Deus é o invisível evidente." Assim, resta-nos apenas crer.
W. Lane Craig, Alister McGrath, John Lennox, Frank Turek, Dinesh de Souza, J. P. Moreland, Alvin Plantinga etc. – apologistas da fé cristã.
Entre 2006 e 2012, grande foi a repercussão dos debates entre renomados ateístas e teístas, bem como inúmeros livros lançados no ocidente por autores de ambos os segmentos em questão.
Em 2019, estava eu revendo bibliografia nessa linha, quando decidi ler Crer ou Não Crer, publicado pela editora Planeta em 2017, cujo conteúdo traz um diálogo entre o historiador ateu Leandro Karnal e o padre Fábio de Melo.
Antecedendo o prefácio de M.S. Cortella, uma citação atribuída a Diderot, despertou-me a atenção: "Perguntaram um dia a alguém se havia ateus verdadeiros. Você acredita, respondeu ele, que haja cristãos verdadeiros?"
O livro apresenta um diálogo bem cordial e amistoso. Louvável. Porém, a meu ver, as razões pessoais para crença ou descrença apresentadas a partir de suas experiências não centraram em questões tão cruciais e provocativas para os leitores.
Uma ótima sugestão de leitura nessa perspectiva com um conteúdo mais intenso seria O Cristianismo é bom para o mundo? (Christopher Hitchens x Douglas Wilson), onde é travado outro diálogo também enriquecedor e numa divergência de alto nível.
Mas voltando à citação de Diderot, existe mesmo ateus verdadeiros? Existe cristãos verdadeiros?
Sem dúvida, não é tarefa simples definir um ateu/cristão falso ou ateu/cristão verdadeiro. Primeiro, pelas implicações de juízo de valor sobre as motivações internas que os levam a crença ou descrença e a coerência (ou não) de vida entre o que crê e nega. Segundo, pela necessária proficiente análise consistente dos argumentos filosoficamente apresentados por ambos com sólida conclusão silogística.
Ademais, Deus estaria além dessa discussão – que implica mais em ego e paixão humana do que prova da realidade última em pauta. Se cristãos provassem a existência de Deus não precisariam de fé; se os ateus provassem a inexistência, a questão estaria liquidada. Para além disso, fica a máxima "Deus não existe, Ele É".
No artigo publicado por La Stampa e traduzido por Moisés Sbardelotto, o filósofo francês André Comte-Sponville evidencia o que seria, a meu ver, um ateu verdadeiro: "Se você me perguntar: "Você acredita em Deus?", a resposta é simples: "Não, não acredito". Mas se você me perguntar: "Deus existe?" [...] por honestidade intelectual, devo começar dizendo que não sei nada a respeito. Ninguém sabe".
Continua Sponville: "Se alguém lhes disser: "Eu sei que Deus não existe", ele não é substancialmente um ateu; é, acima de tudo, um imbecil. Paralelamente, se vocês encontrarem alguém que lhes disser: "Eu sei que Deus existe", ele é um imbecil que tem fé e, tolamente, toma a sua fé como um saber [...]".
Para André-Comte-Sponville, o ateu nega que Deus existe, enquanto o crente nEle crê. Mas nenhum dos dois sabem (SABER no sentido do termo) se Ele existe ou não.
As razões pelas quais alguém se torna cristão ou ateu são estritamente pessoais. Dos ateus ouço explicações como: incoerências do teísmo medieval e Cristianismo romanizado, leituras de ateístas que teriam aberto seus olhos e mentes; passado traumático com a religião e seus líderes; oração sem resposta por cura de doença em ente querido; sofrimento e injustiças do mundo; sensação de ter sido bitolado e crédulo religioso até chegar no ambiente acadêmico etc.
Alguns religiosos só de ouvir a palavra "ateu" já têm um sentimento de pavor, como se estas pessoas fossem monstras e perseguidoras de cristãos etc. Este estigma pôde ser visto até no filme "Deus não está morto", onde o professor universitário é estereotipado como uma pessoa má e intolerante.
De fato, um dos graves erros atribuídos a ateus e cristãos são pechas que atacam a moral e inteligência deles por causa de suas visões de mundo. Contudo, já está mais que comprovado: fé ou descrença em si (algo de foro íntimo) não define caráter ou QI de ninguém.
No entanto, há quem diga que um ateu verdadeiro não permanecerá ateu, como fez Anthony Flew, um dos maiores filósofos ateus do século 20. Seguindo o método das evidências e lógica-socrática, antes de morrer escreveu a obra: "Um ateu garante, Deus existe!"
O reverendo Elben César certa vez escreveu: "Nem todo crente morre crente e nem todo ateu morre ateu. Às vezes o ateu precisa de ajuda para crer; e o crente, para não deixar de crer". Leandro Karnal, Charles Darwin, Bart Ehrman, por exemplo, atestam isso. Por outro lado, C.S. Lewis, Lee Strobel, Heinrich Heine, Josh McDowell, Francis Collins etc., idem.
Apesar das fartas evidências, nem mesmo a Bíblia tenta provar a existência de Deus. Do início ao fim, o livro sagrado apresenta um Criador que se revela e se relaciona.
Como escreveu Victor Hugo: "Deus é o invisível evidente." Assim, resta-nos apenas crer.
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