Palavra do leitor
- 13 de fevereiro de 2019
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Como ler um texto?
Quando lemos um texto qualquer, precisamos primeiro encontrar nossa posição diante dele. Ao ler uma obra de Machado de Assis, um texto bíblico ou mesmo o jornal fresquinho da manhã, precisamos saber:
" Sou uma pessoa que vive em tal país, fala tal língua e possui tal visão de mundo. E ao ler este texto, percebo que o autor vivia n"outro país, falava e escrevia em outra língua e possuía outra visão de mundo diferente da minha. Por exemplo: Me chamo José, sou brasileiro e tenho 37 anos. Vivo em São Paulo que é uma megalópole e falo português do Brasil. Estou lendo o jornal da manhã, escrito por um autor catarinense, que também fala português, mas que possui 70 anos de idade e mora numa cidadezinha do interior".
Uma vez posicionado, você pode começar a ler o texto. É como se você sentasse na sala de visitas do autor. Você numa poltrona e ele n"outra. Numa conversa agradável ou não, dependendo do que ele "fala" e como você "recebe" suas ideias.
À medida que o autor apresenta suas ideias, você buscará através de um exercício de empatia, compreender o que ele diz, de onde diz e por quê diz. Após a assimilação, você poderá fazer-lhe perguntas. Todo o texto se abre a perguntas e indagações e é preciso fazê-las.
Imagine, por exemplo, uma pessoa do primeiro mundo lendo os massacres cometidos no terceiro mundo; ou um brasileiro lendo um texto produzido por Platão — homem grego do mundo antigo. São duas culturas que dialogam; duas "cabeças" muito diferentes. E, para fazer-se compreender e compreendido, são necessárias muitas perguntas e muito dialogo entre o autor e o leitor, entre aquele que fala e seu "ouvinte".
Quando um amigo seu lhe diz "fulano, escuta só isso. Eu penso que as coisas são assim e assado". Logo que você ouve, também surgem perguntas que você lhe fará a fim de entende-lo melhor. Concordar ou discordar. Você precisa fazer isto com os livros também. Os autores não podem escapar de suas perguntas. Pois quando você toma seu livro e ideias nas mãos, vocês iniciaram um diálogo que será levado a cabo.
Então você deve fazer perguntas a todo texto que lê. Seja uma notícia de jornal, um romance de Clarice Lispector e até mesmo a Bíblia. Você não deve fazer perguntas porque você é invocado e fanfarrão, mas simplesmente porque você quer ter certeza de que está compreendendo os pronunciados do autor e suas motivações. Afinal, o autor está falando de uma "poltrona" da sala e você está escutando "de outra". Logo, estão em lugares diferentes, um tentando comunicar-se com o outro: escritor e leitor.
Então não tenha medo. Possui um livro nas mãos? Leia e faça perguntas ao autor. Perguntas sobre o que o autor diz e por quê diz, mas também as suas próprias perguntas; as suas próprias inquietações (do leitor). Para ver se aquele autor, aquele livro ,— velho ou novo — tem algo a dizer a você hoje. Algo que clareie a sua vida e o ajude.
E, eu repito! isso vale tanto para o jornal fresquinho da manhã como para a Bíblia. Se alguém lhe põe medo de questionar o texto bíblico, é como se ele estivesse intrometendo-se em sua conversa com o autor. Imagine só cara! você tem a oportunidade de sentar-se e ter um minuto a sós com o grande profeta Ezequiel, ou com o evangelista Mateus ou com o apóstolo Paulo. Daí eles começam a contar tudo o que viveram e porque disseram tudo o que você leu. E, após ouvi-los com atenção, muitas perguntas surgem na sua cabeça. No momento em que você se prepara para fazê-las vem alguém e diz que não é bom questionar pessoas tão ilustres. Porque isso as ofenderia. Nessa hora, seria a hora em que tanto a pessoa que fala quanto seu ouvinte levantariam da poltrona e diriam: "cai fora, cara! Não está vendo que estamos falando em particular".
E outra vez a sós, seria possível retomar o dialogo, com muitas perguntas, concordâncias ou não, e muitas risadas. E é assim que devemos ler um texto. Ao fim, saberemos se gostamos do autor e se ele trouxe algo bom para nós e se nos ajudou. Se continuaremos convidando-o a sentar-se e tomar um cafezinho conosco ou se não iremos mais querer vê-lo.
*** Fim ***
*JOSÉ CHADAN é mestre e bacharel com licenciatura em filosofia. Também é licenciado em história. Lecionou no ensino público do Estado de São Paulo durante 5 anos. É autor de livros e ensaios diversos. Escreve desde artigos acadêmicos a textos voltados ao grande público; os quais são periodicamente divulgados em revistas, blogs na internet e Facebook.
** E-mail: zepchadan@outlook.com .
*** Facebook: https://www.facebook.com/jose.chadan.315
" Sou uma pessoa que vive em tal país, fala tal língua e possui tal visão de mundo. E ao ler este texto, percebo que o autor vivia n"outro país, falava e escrevia em outra língua e possuía outra visão de mundo diferente da minha. Por exemplo: Me chamo José, sou brasileiro e tenho 37 anos. Vivo em São Paulo que é uma megalópole e falo português do Brasil. Estou lendo o jornal da manhã, escrito por um autor catarinense, que também fala português, mas que possui 70 anos de idade e mora numa cidadezinha do interior".
Uma vez posicionado, você pode começar a ler o texto. É como se você sentasse na sala de visitas do autor. Você numa poltrona e ele n"outra. Numa conversa agradável ou não, dependendo do que ele "fala" e como você "recebe" suas ideias.
À medida que o autor apresenta suas ideias, você buscará através de um exercício de empatia, compreender o que ele diz, de onde diz e por quê diz. Após a assimilação, você poderá fazer-lhe perguntas. Todo o texto se abre a perguntas e indagações e é preciso fazê-las.
Imagine, por exemplo, uma pessoa do primeiro mundo lendo os massacres cometidos no terceiro mundo; ou um brasileiro lendo um texto produzido por Platão — homem grego do mundo antigo. São duas culturas que dialogam; duas "cabeças" muito diferentes. E, para fazer-se compreender e compreendido, são necessárias muitas perguntas e muito dialogo entre o autor e o leitor, entre aquele que fala e seu "ouvinte".
Quando um amigo seu lhe diz "fulano, escuta só isso. Eu penso que as coisas são assim e assado". Logo que você ouve, também surgem perguntas que você lhe fará a fim de entende-lo melhor. Concordar ou discordar. Você precisa fazer isto com os livros também. Os autores não podem escapar de suas perguntas. Pois quando você toma seu livro e ideias nas mãos, vocês iniciaram um diálogo que será levado a cabo.
Então você deve fazer perguntas a todo texto que lê. Seja uma notícia de jornal, um romance de Clarice Lispector e até mesmo a Bíblia. Você não deve fazer perguntas porque você é invocado e fanfarrão, mas simplesmente porque você quer ter certeza de que está compreendendo os pronunciados do autor e suas motivações. Afinal, o autor está falando de uma "poltrona" da sala e você está escutando "de outra". Logo, estão em lugares diferentes, um tentando comunicar-se com o outro: escritor e leitor.
Então não tenha medo. Possui um livro nas mãos? Leia e faça perguntas ao autor. Perguntas sobre o que o autor diz e por quê diz, mas também as suas próprias perguntas; as suas próprias inquietações (do leitor). Para ver se aquele autor, aquele livro ,— velho ou novo — tem algo a dizer a você hoje. Algo que clareie a sua vida e o ajude.
E, eu repito! isso vale tanto para o jornal fresquinho da manhã como para a Bíblia. Se alguém lhe põe medo de questionar o texto bíblico, é como se ele estivesse intrometendo-se em sua conversa com o autor. Imagine só cara! você tem a oportunidade de sentar-se e ter um minuto a sós com o grande profeta Ezequiel, ou com o evangelista Mateus ou com o apóstolo Paulo. Daí eles começam a contar tudo o que viveram e porque disseram tudo o que você leu. E, após ouvi-los com atenção, muitas perguntas surgem na sua cabeça. No momento em que você se prepara para fazê-las vem alguém e diz que não é bom questionar pessoas tão ilustres. Porque isso as ofenderia. Nessa hora, seria a hora em que tanto a pessoa que fala quanto seu ouvinte levantariam da poltrona e diriam: "cai fora, cara! Não está vendo que estamos falando em particular".
E outra vez a sós, seria possível retomar o dialogo, com muitas perguntas, concordâncias ou não, e muitas risadas. E é assim que devemos ler um texto. Ao fim, saberemos se gostamos do autor e se ele trouxe algo bom para nós e se nos ajudou. Se continuaremos convidando-o a sentar-se e tomar um cafezinho conosco ou se não iremos mais querer vê-lo.
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*JOSÉ CHADAN é mestre e bacharel com licenciatura em filosofia. Também é licenciado em história. Lecionou no ensino público do Estado de São Paulo durante 5 anos. É autor de livros e ensaios diversos. Escreve desde artigos acadêmicos a textos voltados ao grande público; os quais são periodicamente divulgados em revistas, blogs na internet e Facebook.
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