Palavra do leitor
- 25 de setembro de 2011
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Canudos: Uma expressão Apocalipsista no Brasil
[Continuação]
2 - Os Seguidores
Ao ouvir as pregações de Antônio Maciel, à medida que circulava pelos sertões do nordeste brasileiro, o povo se identificava e o seguia, buscando seus ensinamentos e conselhos. Antônio Maciel virara o Antônio Conselheiro.
Seus discípulos eram artesãos, camponeses, pequenos proprietários de terras que foram expulsos pela violência dos ricos donos dos latifúndios. Pessoas de todos os níveis sociais, enfim, que desejaram acompanhar as peregrinações de Conselheiro. Estes discípulos ouviam sermões que falavam de Deus e de seus mandamentos e também prédicas que denunciavam a desigualdade social em que o sertanejo vivia e de quão injusta era a situação. Uma abordagem nova com certeza, pois Conselheiro não refletia apenas sobre o céu, conquistado por boas obras, segundo acreditava, mas, também, convocava os ouvintes a enxergarem a situação trágica do ponto de vista econômico e social em que estavam inseridos, denunciando a imoralidade da injustiça social evidenciada no contraste entre latifundiários e camponeses. Deus era Pai de todos e a terra era para todos. A desigualdade social era imoral. Tal denúncia atraiu a atenção e o coração de milhares de miseráveis do sertão da Bahia, onde se estabelecera. Além do conteúdo de seus sermões, sua eloqüência era elogiável, porquanto tinha o dom da palavra. Com clérigos citava o latim e ao povo falava de que lhe era claro e comum.
Destarte, aos milhares, a ele, os sertanejos se uniam, renunciando a uma vida desregrada e de intensos sofrimentos e constantes humilhações na busca da solidariedade humana, das boas obras e de uma sociedade mais justa. Sob a liderança de Antônio Conselheiro seus discípulos casavam-se no religioso, batizavam seus filhos, participavam das missas dominicais e rezavam diariamente. Além das atividades cúlticas, seus seguidores o acompanhavam na construção de igrejas e cemitérios e muitos destes seguidores eram profissionais de carpintaria e de construção, o que muito ajudou a execução da missão de Conselheiro. Além dos sertanejos, muitos dos negros libertados pela Lei Áurea de 1888 se juntaram aos peregrinos, porquanto também sofriam as injustiças sociais, visto que estavam livres das senzalas e da chibatas, mas não da miséria.
O grupo de discípulos de Antônio Conselheiro aumentava e à medida que visitava as cidades do sertão nordestino chamava a atenção de mais pessoas. Sua ênfase era na igualdade entre os homens e sob esta perspectiva recusou em uma visita a Bom Conselho a aceitar que os pobres pagassem impostos aos municípios, pois os mesmos não eram cobrados dos latifundiários, entretanto, o governo exigia que as camadas mais pobres pagassem. Ao criticar duramente a medida governamental, chegando até mesmo a queimar os editais, o que externava sua rígida discórdia em reconhecer a legitimidade dos tributos cujos pagamentos estavam sendo exigidos, Antônio Conselheiro foi perseguido pela polícia que não conseguiu prendê-lo, mas cujo evento o levou a tomar a decisão de refugiar-se em um lugar inexpugnável que lhe permitisse colocar em operação seu intento de uma cidade igualitária. Nascia assim, no interior da Bahia, o arraial de Belo Monte. A Cidade de Canudos.
3 – Canudos
Velha e abandonada fazenda à margem do rio Vaza-Barris (BA). Recebeu o nome Canudos, por que seus antigos moradores passavam o dia pitando cachimbo em canudos de salonáceas, que margeavam ao Vaza-Barris.
Em Canudos, ou Belo Monte, seu nome oficial, a cidade celestial, justa e igualitária, conforme Antônio Conselheiro acreditava, ganhava contornos reais. Sem dúvida, um refúgio para errantes, desempregados, injustiçados, espoliados e sofredores de modo geral. A única autoridade em Belo Monte seria a de Antônio, seu profeta, pastor, líder, idealizador, fundador e conselheiro. Em Belo Monte, todos seriam tratados com igualdade. Não era um lugar para desocupados ou vadios, pois todos deveriam trabalhar em prol da comunidade. Destarte, vaqueiros, agricultores, ex-escravos, artesãos, camponeses eram importantes na distribuição das tarefas em que o plantio, a curtição de couro, o artesanato, a pecuária eram administradas e seus resultados eram igualmente divididos entre todos na comunidade. Era a comunidade de bens, conforme nos narra Atos 2.45.
O Sucesso de Canudos não foi apenas por causa da estrutura proposta por Antônio Conselheiro, mas pela sua experiência, pois já possuía 65 anos de idade na ocasião da fundação da cidade e também em função de seu carisma magnético, de sua organização, sua disciplina, seu talento como construtor, sua piedade, seu exemplo, sua eloqüência, sua capacidade de interagir e se fazer entender por todos. Seu projeto era claro e tangível. Enquanto os sacerdotes católicos anunciavam uma vida digna apenas após a morte, Conselheiro tentou antecipar esta dignidade na vida aqui e agora.
Belo Monte, Canudos, representava a antecipação do Reino de Deus. Era a inserção da Cidade de Deus na Cidade dos Homens...
Continua no próximo artigo.
2 - Os Seguidores
Ao ouvir as pregações de Antônio Maciel, à medida que circulava pelos sertões do nordeste brasileiro, o povo se identificava e o seguia, buscando seus ensinamentos e conselhos. Antônio Maciel virara o Antônio Conselheiro.
Seus discípulos eram artesãos, camponeses, pequenos proprietários de terras que foram expulsos pela violência dos ricos donos dos latifúndios. Pessoas de todos os níveis sociais, enfim, que desejaram acompanhar as peregrinações de Conselheiro. Estes discípulos ouviam sermões que falavam de Deus e de seus mandamentos e também prédicas que denunciavam a desigualdade social em que o sertanejo vivia e de quão injusta era a situação. Uma abordagem nova com certeza, pois Conselheiro não refletia apenas sobre o céu, conquistado por boas obras, segundo acreditava, mas, também, convocava os ouvintes a enxergarem a situação trágica do ponto de vista econômico e social em que estavam inseridos, denunciando a imoralidade da injustiça social evidenciada no contraste entre latifundiários e camponeses. Deus era Pai de todos e a terra era para todos. A desigualdade social era imoral. Tal denúncia atraiu a atenção e o coração de milhares de miseráveis do sertão da Bahia, onde se estabelecera. Além do conteúdo de seus sermões, sua eloqüência era elogiável, porquanto tinha o dom da palavra. Com clérigos citava o latim e ao povo falava de que lhe era claro e comum.
Destarte, aos milhares, a ele, os sertanejos se uniam, renunciando a uma vida desregrada e de intensos sofrimentos e constantes humilhações na busca da solidariedade humana, das boas obras e de uma sociedade mais justa. Sob a liderança de Antônio Conselheiro seus discípulos casavam-se no religioso, batizavam seus filhos, participavam das missas dominicais e rezavam diariamente. Além das atividades cúlticas, seus seguidores o acompanhavam na construção de igrejas e cemitérios e muitos destes seguidores eram profissionais de carpintaria e de construção, o que muito ajudou a execução da missão de Conselheiro. Além dos sertanejos, muitos dos negros libertados pela Lei Áurea de 1888 se juntaram aos peregrinos, porquanto também sofriam as injustiças sociais, visto que estavam livres das senzalas e da chibatas, mas não da miséria.
O grupo de discípulos de Antônio Conselheiro aumentava e à medida que visitava as cidades do sertão nordestino chamava a atenção de mais pessoas. Sua ênfase era na igualdade entre os homens e sob esta perspectiva recusou em uma visita a Bom Conselho a aceitar que os pobres pagassem impostos aos municípios, pois os mesmos não eram cobrados dos latifundiários, entretanto, o governo exigia que as camadas mais pobres pagassem. Ao criticar duramente a medida governamental, chegando até mesmo a queimar os editais, o que externava sua rígida discórdia em reconhecer a legitimidade dos tributos cujos pagamentos estavam sendo exigidos, Antônio Conselheiro foi perseguido pela polícia que não conseguiu prendê-lo, mas cujo evento o levou a tomar a decisão de refugiar-se em um lugar inexpugnável que lhe permitisse colocar em operação seu intento de uma cidade igualitária. Nascia assim, no interior da Bahia, o arraial de Belo Monte. A Cidade de Canudos.
3 – Canudos
Velha e abandonada fazenda à margem do rio Vaza-Barris (BA). Recebeu o nome Canudos, por que seus antigos moradores passavam o dia pitando cachimbo em canudos de salonáceas, que margeavam ao Vaza-Barris.
Em Canudos, ou Belo Monte, seu nome oficial, a cidade celestial, justa e igualitária, conforme Antônio Conselheiro acreditava, ganhava contornos reais. Sem dúvida, um refúgio para errantes, desempregados, injustiçados, espoliados e sofredores de modo geral. A única autoridade em Belo Monte seria a de Antônio, seu profeta, pastor, líder, idealizador, fundador e conselheiro. Em Belo Monte, todos seriam tratados com igualdade. Não era um lugar para desocupados ou vadios, pois todos deveriam trabalhar em prol da comunidade. Destarte, vaqueiros, agricultores, ex-escravos, artesãos, camponeses eram importantes na distribuição das tarefas em que o plantio, a curtição de couro, o artesanato, a pecuária eram administradas e seus resultados eram igualmente divididos entre todos na comunidade. Era a comunidade de bens, conforme nos narra Atos 2.45.
O Sucesso de Canudos não foi apenas por causa da estrutura proposta por Antônio Conselheiro, mas pela sua experiência, pois já possuía 65 anos de idade na ocasião da fundação da cidade e também em função de seu carisma magnético, de sua organização, sua disciplina, seu talento como construtor, sua piedade, seu exemplo, sua eloqüência, sua capacidade de interagir e se fazer entender por todos. Seu projeto era claro e tangível. Enquanto os sacerdotes católicos anunciavam uma vida digna apenas após a morte, Conselheiro tentou antecipar esta dignidade na vida aqui e agora.
Belo Monte, Canudos, representava a antecipação do Reino de Deus. Era a inserção da Cidade de Deus na Cidade dos Homens...
Continua no próximo artigo.
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