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Palavra do leitor

Abbá Pai e a ignorância

E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: "Aba, Pai".
Gálatas 4.6

O movimento gospel dos últimos dez anos tem formatado uma geração que chora nos momentos de louvor, que chama de Deus de papai e que não lê mais a Bíblia. Afinal, para que me esforçar em entender uma coleção de livros se eu tenho essa "palavra" cantada? Tudo tão fácil, tão diluído, tão pobre. Mas não é sobre o descaso com a Bíblia que quero pensar com vocês, é sobre chamar de Deus de Abbá – papai querido, afinal, chamar Deus de papai é algo muito sério, pelo menos foi para Jesus.

Essa declaração sai muito fácil de nossos lábios, e acabamos esquecendo as dimensões dela. É no falar de Jesus Cristo que Deus é chamado de ABBÁ pela primeira vez, contudo, ele sabia o que e com quem estava falando. Jesus não estava seguindo uma tendência, pelo contrário, estava abrindo o caminho da oração e do louvor consciente.

Para entender as declarações de Jesus é importante conhecer o ambiente histórico-cultural de sua época. Para termos uma idéia, para os povos antigos, a palavra “pai” aplicada para a divindade evocava algo semelhante ao que a palavra mãe significa para nós. No Antigo Testamento, Deus é chamado de Pai apenas catorze vezes, mas cada uma delas é muito importante. Quando Deus é chamado de pai ele é honrado como criador , ou seja, tinha-se a consciência de que Ele é o Senhor que merece obediência e o Pai que é misericordioso.

Israel acreditava que a paternidade divina era exclusividade sua , contudo, é nos profetas que o conceito de Deus como Pai adquire todo o seu sentido no Antigo Testamento. Através dos profetas somos informados que a paternidade divina geralmente é correspondida com infidelidade da parte de Israel. É a ingratidão diante da misericórdia.

O judaísmo palestinense mantém o mesmo significado do AT, é sóbrio em falar de Deus como Pai, onde seu amor e sua misericórdia são a palavra final, contudo, nos tempos de Jesus, não se tem registro de um indivíduo dirigindo-se a Deus como “meu Pai”, era sempre uma invocação coletiva: “Nosso Pai, Nosso Rei”.

“Abbá” nas orações de Jesus.

Foi isso que Jesus fez, dirigiu-se a Deus como “meu Pai” , não só isso impressionou seus discípulos, o que chocou mesmo foi o fato de Jesus utilizar a palavra aramaica Abbá (o acento está na última sílaba), visto esse termo fazer parte do balbucio infantil. Mas você pode estar se perguntado, o que isso tem de mais? É que referir-se a Deus como Abbá para o judaísmo palestinense era desrespeitoso. Portanto, invocar a Deus com um nome tão familiar era impensável.

Jesus abre o caminho para a intimidade com Deus. Foi algo único e inaudito “Jesus ter tomado essa iniciativa e falar a Deus como uma criança fala a seu pai, com simplicidade, intimidade e sem temor. Portanto, não há dúvida alguma de que a palavra Abbá, utilizada por Jesus para dirigir-se a Deus, revela o próprio fundamento de sua comunhão com ele.”

As orações de Jesus influenciaram a comunidade cristã, tornando-se comum invocar a Deus como Abbá, Pai (Abbá, ho patér), e isso é ensinado pelo próprio Espírito Santo. Portanto, somo autorizados a chamar Deus de papai: “As palavras de Jesus expressam simplesmente uma experiência cotidiana: só um pai e um filho é que se conhecem mutuamente”. Chamar Deus de Abbá é para quem vive o cotidiano com Ele, e não quem aprendeu o sucesso gospel do momento. Chamar Deus de Abbá é mais que friozinho na barriga e mãos levantadas, é compromisso e cruz!
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Esse texto embasa-se, nas informações técnicas, na obra de JEREMIAS, Joachim. A mensagem central do Novo Testamento. São Paulo: Academia Cristã, 2005. p. 13-37.
Joinville - SC
Textos publicados: 8 [ver]

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