Por Jeferson Cristianini

Nosso cotidiano é cheio de ruídos. O silêncio é raro, ou quase não existe nos centros urbanos. O silêncio é artigo de luxo nos nossos dias, pois nossa vida é agitada e cheia de barulho. Os fones de ouvido, que tentam silenciar o som do “mundo” a fim de que a pessoa ouça o som – ou a música – que ela quer, são uma forma de selecionar os ruídos que chegam até nós.

No comércio das cidades, os lojistas competem com os camelôs e os sons são os mais diversos e altos possíveis. Além disso há os megafones, os carros e motos com caixas de som, chamando a atenção dos clientes com promoções e jingles.

No escritório há o som da impressora, do telefone que não para de tocar, do celular que avisa que chegou mais uma mensagem. No banheiro, o som do exaustor é alto, o da descarga também, e só o som da água da torneira é bom aos ouvidos.

O trânsito é barulhento. As máquinas realizando as obras também. Os ruídos dos motores dos ônibus e caminhos são ensurdecedores, fora as sirenes, buzinas, e o volume dos carros daqueles rapazes que pensam que as mulheres gostam de som alto – se assim fosse, as mulheres gostariam do cara que vende ovo ou pamonha. No carro, o som do GPS concorre com o rádio, que compete com o choro da criança e com a voz do cara que tenta vender umas balinhas no semáforo.

Nas igrejas o barulho é intenso. E não com o som das pessoas conversando antes ou depois do culto. Hoje os vizinhos chamam a polícia por conta dos decibéis a mais dos louvores, que atrapalham suas vidas. Digo com tristeza. É muito som, muito barulho e pouca contrição.

Jesus tinha Seus momentos de quietude. Os evangelistas narram, por diversas vezes, que em Seu ministério Jesus deixava a multidão, procurando um tempo e espaço para ficar em silêncio. Jesus cuidava das multidões, mas depois se recolhia para o silêncio. A multidão é barulhenta e o silêncio é renovador. Só se consegue atender a multidão após um tempo a sós com Deus.

Jesus nos ensina esse princípio de se ter um tempo de quietude com Deus para enfrentar as demandas do dia a dia. Sigamos os passos do Mestre que nos ensina que nossa espiritualidade deve ter espaço e tempo para o silêncio, pois no Deus nos fala no silêncio, e no silêncio ouvimos a voz do Senhor com mais nitidez e clareza.

Jesus chamava as pessoas ao descanso como proposta de espiritualidade. Nosso Senhor lançou o convite à multidão, a “todos os cansados e oprimidos” oferecendo descanso, “descanso para as vossas almas” (cf. Mateus 11:29 a 30); mas também ofereceu e convidou os discípulos a descansarem, pois eles estavam trabalhando tanto que não tinham tempo para comer, e Jesus os chama “à parte, num local deserto” (cf. Marcos 6).

Em um tempo no qual as pessoas gostam de ostentação, ter um tempo de silêncio é um verdadeiro luxo. O luxo do silêncio é ter um tempo de quietude numa sociedade barulhenta. É separar de forma intencional um tempo de quietude para oração e devoção a Deus.

O tempo de silêncio é essencial para acalmar nossas emoções diante de tantas demandas contemporâneas. É essencial para a renovação dos pensamentos e a renovação da mente, como ensinou Paulo em Romanos 12:1 e 2. É imprescindível para aquietar a nossa alma em Deus e ouvir a voz de Deus que nos acalma, orienta e aponta caminhos a serem trilhados.

O silêncio é um tempo de recarregar as “baterias”, de renovar as forças, de buscar discernimento espiritual para enfrentar as situações embaraçosas do cotidiano. Ele é fundamental para fazer uma “faxina” na mente, retirando os conceitos e pensamentos mundanos e colocando em nossa mente os pensamentos “tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento” (Filipenses 4:8).

Deus falou com Elias por meio de uma brisa “tranquila e suave” (cf. 1 Reis 19: 11 e 12). Os discípulos de Jesus sabem muito bem como o silêncio é frutífero, pois nele nos encontramos com nosso Pai, que fala conosco. É um luxo ter um tempo a sós com Deus e ficar em silêncio em Sua presença. Deus fala no silêncio. Busque o silêncio e regue sua fé. Invista em sua espiritualidade e separe tempo para o silêncio.

  • Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor da Igreja Batista Nova Canaã Sorocaba.
  1. Rute Salviano Almeida

    Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus, é a recomendação divina. Se Deus habita no meio dos louvores, creio que é no meio do silêncio que ouvimos Sua voz. Excelente reflexão querido Jeferson Rodolfo Cristianini. Deus o abençoe!

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