Por Daniel Theodoro

No início da década de 1990, do alto dos meus sete anos de idade, eu tinha consciência da realidade e sabia que a problemática humanidade estava perfeitamente salva e segura com Jaspion, o paladino oriental de roupa cromada.

De tarde, no sofá de casa e na companhia de um pacote de bolacha, acompanhava, incrédulo, os episódios que mostravam os terríveis planos de Satan Goss, um sujeito experimentado na arte de fazer o mal, primo distante de Darth Vader – acho. Depois da trama descambar para o iminente apocalipse, Jaspion se juntava ao gigante guerreiro Daileon no duelo final, derrotando a hoste inimiga, colocando um ponto-final na aventura e, coincidentemente, no meu pacote de biscoito Trakinas.

Meus pais não gostavam muito do programa, achavam bobeira existir guerra galáctica. Para mim, bobeira mesmo era a guerra que passava à noite na televisão, interrompendo Tom e Jerry bem no meio. Meu pai dizia que era uma guerra de verdade – a primeira televisionada! – e que acontecia num lugar chamado Golfo. Lembro que eu via apenas uma tela verde, riscos de uma cidade distante, e minúsculos pontinhos brilhantes voando por todos os lados, além da voz do jornalista narrando a monótona cena. Com certeza, as batalhas de Jaspion eram muito mais emocionantes.

E foi assim que, enquanto criança, construí todo o fundamento da minha fé sobre a sólida base das histórias dos super-heróis dos seriados de televisão e HQs. Eu podia confiar neles. Até o dia em que minhas convicções foram destruídas por uma tia da igreja.

Com a magnificência de um anjo e o poder avassalador da kryptonita, ela abalou meu mundo quando disse que Jesus, o filho de Deus, era o maior super-herói entre todos porque enterrou a morte, a última e mais temida vilã da humanidade. Para mim, alguém cujo a referência salvífica reduzia-se às ações de Jaspion, Changeman e Super-homem, um novo patamar de herói fora estabelecido a partir do momento em que o unigênito de Deus me foi apresentado como meu salvador.

Com o passar do tempo, na razão inversamente proporcional com que televisão, cinema e HQs foram apresentando heróis cada vez mais complexos e surpreendentes, fui perdendo o interesse pelos executores da justiça e da ordem, porque entendi que, se eles fossem realmente a salvação para a humanidade, me poriam na lista de vilões a serem combatidos.

Eu, que pulverizo pequenas maldades em todas as áreas da minha vida, aproximo-me mais de um Coringa travestido de cidadão-comum do que um bom-mocinho pronto para ser resgatado pelo Batmam.

Descobrir-se inclinado à vilania tão cedo é um pouco estranho. Porque a ansiedade pela redenção plena durará mais tempo do que duraria se você se convertesse já velho, próximo à antessala da glória.

Também levei tempo para entender que luto uma batalha cujo principal inimigo já foi vencido, porém a vitória não pôde ser comemorada porque ainda existem alguns pequenos adversários – entre eles, eu mesmo… Por outro lado, crer no Salvador Jesus Cristo desde criança traz segurança e faz você trocar facilmente os heróis da Marvel pelos heróis da Fé, os quais um dia você verá ao vivo, de verdade.

  • Daniel Theodoro, 32 anos. Cristão “em reforma” e membro nascido na Igreja Presbiteriana Maranata de Santo André (SP). Casado com a Fernanda. Formado em Jornalismo e estudante de Letras.
  1. Ótimo texto para entender a mente de um menino e apresentar Jesus para ele.
    Que o poder e o amor do rei Jesus transforme seu coringa em um príncipe, dia a dia.

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