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Por Jeferson Rodolfo Cristianini

Dia desses precisei entrar em contato com a ouvidoria de uma empresa e me decepcionei profundamente. A ouvidoria das empresas serve para que os clientes possam elogiar, reclamar ou pedir informações do produto adquirido. As empresas e os órgãos públicos possuem canais de comunicação com as pessoas. A minha decepção ao ligar para a ouvidoria da empresa foi ser atendido por uma gravação eletrônica. A empresa diz que prioriza seus clientes, que enfatiza que deseja “ouvir seus clientes”, que “precisa das informações” de seus clientes, todavia, quando o cliente liga é “atendido” pelo computador e não por uma pessoa. Isso é uma violência a nossa humanidade. Sei que estamos em pleno avanço tecnológico, mas é inadmissível, pelo menos para nos cristãos, aceitar a tecnologia em detrimento da tecnologia. Uma central de computadores com gravações só é bom para as empresas que querem economizar. Porque as empresas não contratam pessoas para conversar com pessoas. Achei desumano demais ser atendido por uma gravação eletrônica. Essa minha decepção abriu minha mente para uma reflexão sobre nossos dias.

Minha decepção com a ouvidoria da empresa foi selada pelo convivo com as algumas pessoas. Uma das frases que revela nosso frenesi é “não tenho tempo”. Parece lindo e normal falar que não há tempo em nossas agendas, ainda mais se for um tempo para ouvir as pessoas. É triste perceber que as pessoas não nos ouvem as outras, mas no fundo anseiam ser ouvidas. As pessoas reclamam da forma como são tratadas de forma mecânica e fria pelas outras pessoas, mas não mudam o ciclo dessa correria desenfreada em que vivemos. Essa correria, agenda abarrotada de tarefas, horários a serem cumpridos, metas a serem atingidas tem robotizado a vida.

O mestre Rubem Alves certa vez disse assim: “Sempre vejo anunciados cursos de Oratória. Nunca vi anunciado curso de Escutatória. Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de Escutatória mais acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil”. A proposta do Rubem é o desafio da dedicação do nosso tempo para ouvirmos as pessoas. Não queremos ouvir as pessoas, não porque não temos tempo apenas, mas porque não queremos priorizar as outras pessoas. Ouvir demanda tempo, paciência e amor. Como aprendemos com nossa sociedade a sermos egoístas e amantes de nós mesmos, não queremos ter a paciência de ouvir as histórias das outras pessoas, e assim não demonstramos amor. Ouvir é uma forma de amar. Ouvir é uma forma carinhosa de acolher não apenas a fala das pessoas e sim acolher suas vidas.

Estamos tão desacostumados a ouvir, que quando alguém está conversando conosco, ficamos esperando uma brecha para palpitarmos, darmos nossa opinião, falarmos de alguma experiência pessoal, e logo sufocamos a pessoa. Precisamos aprender a ouvir mais e falar menos. Tiago nos adverte assim: “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tiago 1:19). A sabedoria bíblica nos ensina a ouvirmos mais. No nosso tempo histórico onde as pessoas não possuem tempo para nada, ninguém “empresta” os ouvidos. Com raras exceções paramos para “dar ouvidos” às falas das pessoas. Não temos tempo para ouvirmos. Muitos têm receio de não serem ouvidos. Assim como Deus demonstra Seu amor ao nos ouvir, devemos ouvir as pessoas que o Senhor colocar na nossa vida.

Se ninguém ouvir nossa voz, temos que crer que Deus, nosso melhor amigo, nos ouvirá. Deus disse que não é “surdo o seu ouvido” (Isaías 59:1). Em uma época onde ninguém tem tempo e amor para me ouvir, faço coro com o salmista que declara que ama a Deus “porque ele ouve minhas orações” (Salmo 116:1).

• Jeferson Rodolfo Cristianini é pastor batista voltado para o ministério com juventude. Texto publicado em seu blog pessoal.

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