Por Phelipe Reis
 
Os moradores da comunidade São Raimundo – distante 150 quilômetros de Manaus, Amazonas – têm sido beneficiados desde 2012 pelo programa Comunidade Modelo. Desenvolvido pela ONG Origem, o programa atende cerca de cem famílias com ações de educação ambiental, alfabetização, construção das fossas ecológicas, higiene pessoal e educação sexual.
 
Laurence de Oliveira Martins, diretor da ONG, conta que quando começaram as ações no local, a vila não possuía luz elétrica, água encanada e nem saneamento básico. “A partir da nossa presença, através de processos de advocacy, conseguimos que programas do Governo contemplassem a comunidade, e implementamos as fossas e banheiros ecológicos, em parceria com a Tearfund”, comenta Martins.
 
A repercussão dos bons resultados das ações fez surgir convites para que o projeto seja implementado em outras três vilas. A Origem também desenvolve em Manaus um programa para envisionar líderes missionais, gerencia um centro sociocultural e um espaço para migrantes. Conversamos com Laurence sobre o surgimento da ONG, resultados, desafios e perspectivas para o futuro. Confira o bate-papo.
 
Phelipe – Quando e como surgiu a Origem?
 
Laurence – Eu e minha esposa, Mical, voltávamos de São Paulo de um ano sabático e estávamos aguardando a chegada de nosso primeiro filho. Foi nessa fase que idealizamos a Origem. Começou em 2010, com um grupo de jovens que se reunia em minha casa para estudar a Bíblia e conversar sobre a cultura. Queríamos desvendar como seria possível viver o evangelho de uma maneira plena e socialmente influente na geração da justiça e no desenvolvimento sociocultural em Manaus e no mundo.
 
Começamos com uma releitura da narrativa bíblica. Pegamos uma visão de teologia narrativa que foi revolucionando nossa compreensão de vida e missão. Nos enxergamos como agentes influenciadores de um movimento subversivo que leva e dissemina o amor, a justiça e a esperança e traz oportunidades para que as pessoas encontrem formas de experimentar um pouco do que Jesus oferece, uma vida abundante. 
 
Phelipe – Por que Origem?
Laurence – Porque acreditamos que tudo que é verdadeiramente vivo está conectado a uma origem que não é afetada pela decadência e tem início em Genesis 1-2. Para que a vida vulnerável seja restaurada ela precisa ser reconectada à vida plena. Também porque quando voltamos pra Manaus e articulamos nossa visão nós estávamos em nossa terra de origem, e também morávamos em um dos primeiros bairros de Manaus. Estávamos na origem. 
 
Phelipe – Quantas pessoas trabalham na organização?
 
Laurence – Temos 13 pessoas em nossa equipe administrativa. E em 2019 movimentamos cerca de 90 voluntários. 
 
Phelipe – Além do programa Comunidade Modelo, quais outras ações e atividades vocês desenvolvem?
 
Laurence – Trabalhamos em quatro frentes. 1 – Comunidade Modelo: desenvolvimento de comunidades rurais com o objetivo de trazer oportunidades de melhoria de qualidade de vida, evitando o êxodo rural. 2 – Centro de Influência Sociocultural (CISC): Localizado na zona centro sul de Manaus, o CISC é um espaço em que desenvolvemos trabalhos de saúde integrativa e sistêmica. Integrativa porque utiliza uma abordagem multidisciplinar e sistêmica porque o trabalho abrange o âmbito individual, da família e da comunidade, através de serviços socioemocionais, arte, cultura e esporte; inclui ainda um trabalho de pesquisa e inovação para novas tecnologias – hoje estamos com dois projetos de pesquisa em biotecnologia focando em pessoas com lesão medular e crianças com deficiências neurológicas. 3 – Gênese: Esse é um programa que visa transformar líderes comuns em agentes missionais, assessorando-os a plantar, replantar ou revitalizar suas comunidades de fé com o DNA missional, para um maior engajamento sociocultural, em que a igreja encarna sua responsabilidade de promotora do bem-estar do reino e da justiça. 4 – Casa do Pai: Nossa maneira de nos envolvermos com a crise migratória, que hoje é um grande problema mundial. Acreditamos que podemos ajudar pessoas a se reerguerem e reencontrarem propósito e recursos para serem emocionalmente estáveis, criativas e frutíferas na sociedade em que estão inseridas. 
 
Phelipe – A organização tem ligação direta com alguma igreja? 
 
Laurence – A Origem faz parcerias com igrejas. Acreditamos que a igreja local é a agência social mais eficaz para acessar comunidades e gerar transformação sistêmica. Nossa primeira parceria foi com a Primeira Igreja do Evangelho Quadrangular em Manaus; esta foi a primeira a receber o Gênese e hoje está indo para o seu terceiro ano de uma “igreja replantada”, com o DNA missional da Origem. 
 
Phelipe – Como é essa relação e participação das pessoas da igreja?
 
Laurence – A relação é de parceria colaborativa. Desenvolvemos uma teoria de mudança e uma metodologia que é elaborada junto com a liderança leiga da igreja. A igreja se envolve no trabalho desde os primeiros momentos em que desvendamos a realidade do entorno e elaboramos uma visão da igreja para o seu locus imediato. A igreja passa a se enxergar como central à vida da comunidade e não mais como uma trincheira de refúgio predial programático. Também abrimos um canal de conexão para que a igreja desenvolva um voluntariado radical nos outros projetos da Origem e isto cria um ambiente de treinamento para os membros da igreja aprenderem a desenvolver seus próprios projetos enquanto igreja local.
 
Phelipe – Conte sobre um fruto da Origem.
 
Laurence – Na igreja parceira, via o Gênese, nós temos testemunhos vivos do trabalho, especialmente no aspecto terapêutico e relacional. Casamentos restaurados, famílias libertas de abuso, mulheres que se libertaram de relações abusivas, pessoas que redescobriram a Bíblia como sendo parte de suas próprias histórias e que seus traumas não precisam justificar uma vitimização, mas uma história de renovação útil para a missão de Deus na restauração de todas as coisas. E uma mudança na compreensão sobre as disciplinas espirituais como meio de transformação de vida e não peso e constrangimento.
 
O projeto Comunidade Modelo começou na comunidade São Raimundo em 2012. Lá não havia luz elétrica, água encanada e nem saneamento básico. A partir da nossa presença naquele lugar, com processos de advocacy, conseguimos que os órgãos e programas do Governo contemplassem a comunidade. Também implementamos as fossas e banheiros ecológicos, em parceria com a Tearfund (ONG internacional com sede no Reino Unido e que atua na área de desenvolvimento comunitário, na perspectiva da integralidade do evangelho). Trouxemos conteúdos sobre os mais diversos temas e nos envolvemos no planejamento urbano da vila – das ruas e “desenho” da comunidade em si, com a ajuda do Institudo de Pesquisa do Amazonas (INPA). Também ensinamos sobre a importância de a vila ser rearborizada e que tipo de árvores seriam melhores para trazer sombra e frutos para todos. 
 
O maior indicador de sucesso que tivemos no trabalho da vila é o convite para desenvolvermos o mesmo trabalho em três vilas da região. Então, a missão continuará, mas em outras comunidades.
 
Em 2019, tivemos 25 pessoas (6 famílias, incluindo crianças) que passaram pelo novo Abrigo Casa do Pai. Essas famílias foram inseridas na sociedade manauara e conseguimos interiorizar algumas no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. Aprendemos muito nesse primeiro ano do abrigo e estamos em fase de ajustes para o segundo ano, deste programa com os migrantes e refugiados. 
 
Phelipe – Qual o maior desafio?
 
Laurence – Um dos constantes desafios é conseguir assumir uma gestão mais híbrida para conseguir encarar as mudanças constantes no cenário atual. 
Os desafios de manter projetos complexos que necessitam de recursos altos em termos de pessoas capacitadas e verba financeira.
 
Phelipe – Quais os planos para o futuro?
 
Laurence – Em 2019 fechamos um grande ciclo da visão original que foi vislumbrada no ano 2010. Nesse tempo, nos firmamos como uma agência missional e alcançamos parcerias no Brasil e em outros países. Apesar de funcionarmos de forma bem lean [sic], nossa visão é grande. 
 
Outras comunidades na região da Gleba do Iporá solicitaram a implementação do Comunidade Modelo. Novas famílias estão chegando para serem acolhidas no Abrigo Casa do Pai. Estamos expandindo nossas parcerias com comunidades de fé e abrindo espaços para inovação e pesquisa no Amazonas. 
 
Phelipe – Como participar ou ajudar?
 
Laurence – Entre em contato conosco através do e-mail: voluntarioorigem@origem.org.br. Para investir financeiramente nos programas, os dados estão aqui: Conta Bradesco. Agência: 2396-5. C/C: 0017360-6. ORIGEM – Associação Internacional de Assistência Social. CNPJ: 07.320.312/0001-21. Também podem nos ajudar orando em espírito e em verdade por nós e todos os que vivem a missão no norte do Brasil.
 
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