Vivo a faculdade como meu campo missionário. Nela, descobri que não há lugar como a nossa casa

Rara Garcia Ramos

“Não há lugar como a nossa casa, não há lugar como a nossa casa”, dizia Dorothy enquanto batia seus calcanhares, com seus pés calçados em um lindo sapatinho vermelho, cor de sangue. Na Bíblia, um jovem compreendeu essa mesma verdade enquanto a fome martirizava seu estômago (Lc 15.11-32). Diferente de Dorothy, sua casa não fora tomada por um ciclone, ele havia matado seu Pai em seu coração para que tivesse acesso a sua parte na herança, virou as costas para a sua casa e agora desejava voltar, nem que fosse como escravo.

Quanto a mim, compreendi pela primeira vez essa verdade aos quinze anos, no ano novo de 2020. Minha tia me convidou para visitar uma igreja e, sentada naquele banco de madeira, Jesus tocou meu coração, e eu senti “Esse é o meu lugar”. Aquela igreja, em específico? Não, Cristo. Ali, recebi um convite do Espírito: “Por que você não lê a Bíblia, todo dia, um pouquinho?”. Li, e o Deus que eu achava conhecer na prepotência de ter nascido em um lar cristão, se revelou a mim, através da Palavra.

Quando completei 17 anos, meus olhos estavam tão fitos em Cristo que tudo foi colocado em seu devido em seu lugar, deixei pessoas, hábitos e, agora, conhecendo um pouco mais do Deus que havia se revelado a mim, meu coração entendeu o que Pedro disse em João 6.68-69: “Senhor, para quem iremos? O Senhor tem as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que o Senhor é o Santo de Deus”.

Em um retiro, depois de receber tantas promessas, tantas palavras sobre como o Senhor havia me escolhido como sua missionária, eu perguntei “Senhor, que curso devo fazer na faculdade?”. E essa pergunta me doeu muito, ainda mais diante do SISU, pela minha falta de entendimento que eu já havia recebido minha resposta quando senti em meu coração: “Relações internacionais”.

Muitos temem concluir a faculdade como ateus, mas esse medo jamais passou pela minha cabeça. Nos últimos dias de aula do Ensino Médio, um colega me disse: “Na faculdade você abandonará a sua fé”. Eu respondi: “Impossível. Depois que você conhece verdadeiramente a Jesus, voltar atrás é impossível”. Mesmo com as quedas, mesmo com a frieza, mesmo com o pecado, depois desse encontro, sempre sabemos que há um Deus que corre em nossa direção para nos receber quando voltamos para casa.

Jesus fez uma oração por nós, “Não peço que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou. Santifica‑os na verdade; a tua palavra é a verdade. Como me enviaste ao mundo, assim eu os enviei ao mundo” (Jo 17.15-18). Junto com amigos da Cru Campus, ABU e outros grupos cristãos que se reúnem, vivo a faculdade como meu campo missionário. Nela, descobri que não há lugar como a nossa casa. Casa minha e sua: tenho feito tantos amigos, de todo o Brasil, de todo o mundo!

É normal nos sentirmos exauridos quando viajamos por longos períodos. Estamos de passagem nessa terra e, em vários momentos, vamos nos deparar com o cansaço, desânimo, dor. Nossos sapatos, comprados com Sangue, vão machucar nossos pés. Vamos sentir saudades de casa. Mas, também, durante a jornada, vamos descobrir que nosso lar não está tão longe como imaginamos. Deus está perto. Perto de voltar, mas também, perto por proximidade (Fp 4.4-5). E ele corre em nossa direção, não para nos receber como escravos, mas como filhos e esse é o nosso lugar, essa é a nossa casa: Jesus.

 

Rara Garcia Ramos, goiana, criada por mulheres, apresentada a Cristo através das orações da mãe, avó e tia. É, também, irmã de uma prima. Atualmente, estuda Relações Internacionais na Universidade Federal de Goiás e congrega a Igreja Menonita do Centro de Goiânia.

 

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